De Jerry Zucker. Com Demi Moore, Patrick Swayze e Whoopi Goldberg. Comédia / Drama / Romance / Fantasia / Suspense, EUA, 1990, 126 minutos.
É talvez uma das cenas mais imitadas, homenageadas, parodiadas do começo dos anos 90, aquela em que Molly (Demi Moore) e Sam (Patrick Swayze) aparecem fazendo, juntos, uma peça artesanal de cerâmica no clássico Ghost: Do Outro Lado da Vida (Ghost). Aliás, o filme como um todo tem o DNA daquela década, com seu romance grandiosamente melodramático, uma certa voltagem erótica, um clima de suspense meio sobrenatural e uma boa dose de humor. E, essa sequência, com toda a sua ambiguidades sensual - que é valorizada pelo fato de o objeto manipulado não ser apenas vigorosamente cilíndrico, mas também úmido -, resume bem esse ideal: estamos, afinal, diante de um jovem casal saudável, que se diverte em meio a uma madrugada de insônia, após ambos se mudarem para um novo apartamento. De alguma forma, essa cena, que ocorre bem no comecinho do filme, e é embalada pela clássica canção Unchained Melody do The Righteous Brothers, estabelecerá o tipo de vínculo existente entre a dupla de protagonistas: claramente se amam. Tem química. E a gente já simpatiza.
Só que uma tragédia interromperá traumaticamente o relacionamento: após reagir a um assalto, Sam acaba assassinado em uma sequência tão triste quanto chocante. Do lado de fora do seu corpo, o espírito de Sam permanecerá em uma espécie de limbo: sem poder ir nem vir passará a fazer parte da rotina de Molly, tentando se comunicar de todas as formas com ela. Inicialmente em vão, aliás. Lá pelas tantas, ele descobrirá que a viúva corre perigo e que o criminoso que deu cabo de sua vida está a espreita dela. Pior, estando no "outro plano", ele não terá como avisá-la dos riscos que corre. Tudo piora quando Sam descobre que seu ex-sócio Carl (Tony Goldwyn) está envolvido na maracutaia toda, que poderá resultar no roubo de US$ 4 milhões de suas contas bancárias. É nesse contexto que Sam contará com a ajuda da médium Oda Mae Brown (a inesquecível Whoopi Goldberg, que ganhou o Oscar por seu papel). Será ela que fará a ponte para que o morto possa se comunicar com o mundo dos vivos.
Ao cabo, trata-se de um filme emocionante, tenso, divertido e romântico em igual medida. É a obra completa. Se, inicialmente, Oda Mae surge como uma figura excêntrica, de roupas e trejeitos extravagantes (o tipo de alívio cômico que aparece mais nas comédias do que nos dramas), aos poucos ela dará lugar a uma figura empática e inigualavelmente carismática, que não poupará esforços para auxiliar Sam e Molly. Do ceticismo inicial, à inesquecível sequência final - em que o protagonista se converte em uma figura plasmódica, que permite que Molly estabeleça um último contato -, o percurso apostará no suspense para manter o espectador de olhos bem atentos. Sim, porque por mais que Sam possa atravessar paredes e até fazer objetos inanimados se mexerem (após uma curiosa sequência de aprendizado), não será fácil tentar se comunicar com a sua, agora, ex. Ainda mais com o "veículo" sendo a destrambelhada (e adorável) Oda Mae!
Mas, estamos nos anos 90, não esqueçamos. E, ao final, a sua maneira, tudo dará certo, com Molly sesalvando e os bandidos sendo tenebrosamente enviados para o "andar de baixo". E eu confesso que, revisitando a obra de Jerry Zucker, pude perceber que ela envelheceu bem: aqui e ali ainda há uma ou outra piada machista ou sexista ou alguma anedota meio de tiozão (aquela do elevador é a mais abobada delas). Mas em geral é um filme leve, divertido, tem bons efeitos especiais e até deixa um gostinho de quero mais em sua conclusão. Não por acaso, foi um estrondoso sucesso de público: se tornou a terceira mais bilheteria naquele verão norte-americano de 1990, faturando mais de US$ 500 milhões de dólares por lá. No Oscar, chegou a ser indicado na categoria Melhor Filme, tendo faturado o carecão dourado nas categorias Roteiro Original e Atriz Coadjuvante (Goldberg). Não foi pouco para uma película despretensiosa, que viria a se tornar um dos maiores blockbusters do começo daquela década.
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