De: Steven Soderbergh. Com Julia Roberts, Albert Finney, Aaron Eckart, Conchata Ferrell e Cherry Jones. Drama, EUA, 2000, 131 minutos.
Filmes em que o cidadão comum é colocado em confronto com grandes corporações, instituições poderosas ou mesmo setores do Governo costumam render boas histórias - e não é diferente com o clássico moderno Erin Brockovich: Uma Mulher de Talento (Erin Brockovich). Dirigida pelo versátil Steven Soderbergh (Onze Homens e Um Segredo), a obra resgata a história da Erin Brockovich do título - uma mulher de modos simples, mãe de três filhos e que, depois de levar algumas surras da vida, consegue um trabalho em um pequeno escritório de advocacia. E será entre uma papelada e outra, em meio a outras tarefas puramente burocráticas, que Erin (que é vivida de forma contagiante por Julia Roberts) descobrirá um amplo esquema de contaminação de lençóis freáticos envolvendo a milionária empresa PG&E Gás e Eletricidade do Pacífico, que estaria utilizando, de forma indevida, uma mistura de cromo VI para evitar a corrosão dos metais do seu parque industrial.
O resultado disso? Centenas de famílias de moradores do pequeno condado de Hinkey, na Califórnia, relatando casos de doenças variadas - muitas delas gravíssimas, como o câncer. Só que o problema é que os documentos e os materiais de divulgação da PG&E alegavam exatamente o contrário: de que não haveria problema com a potabilidade da água consumida no local pelos moradores. E, mais do que isso: em exames médicos pagos pela própria indústria, a constatação de que os casos de doenças relatadas, nada teriam a ver com a aplicação de cromo. Instigada por todo esse arcabouço de informações, Erin vai atrás dos moradores, da Associação da Água e de seus próprios colegas advogados, com um episódio gigante de descaso com o meio ambiente, que resultou em severas enfermidades para a população local. Um prato cheio, claro, com tudo se tornando ainda melhor pelo fato de Erin não ter absolutamente nenhuma formação na área jurídica.
Aliás, este fato contribui para dar certa "cor" à narrativa. Erin, por ser uma mulher de hábitos simples - o que se observa no seu modo de vestir, no seu linguajar e no seu comportamento - não demora para se colocar em conflito com absolutamente qualquer pessoas que se coloque em seu caminho. E os melhores embates são, disparados, aqueles em que ela discute TUDO com Ed Masry (Albert Finney), o seu chefe, com quem ela está o tempo todo às turras (e a química dos dois é totalmente divertida e faz o filme funcionar, com direito a demissões e recontratações no meio do caminho, fora outros estratagemas que envolvem pequenas corrupções e trapaças entre ambos, mas com a pura intenção de fazer o caso central avançar). Já a vida pessoal de Erin também se apresenta como um tanto catastrófica, com ela precisando levar, invariavelmente, os seus três filhos para o trabalho, ou mesmo improvisando babás involuntários, caso do vizinho e candidato a par romântico George (o carismático Aaron Eckart).
Trata-se ao cabo de uma obra bem engendrada, que amplia a sensação de desalento dos moradores que acompanhamos, a cada tomada desértica, empoeirada e amarelada da região em que a PG&E está instalada. Ao mesmo tempo, não deixam de ser excêntricas as sequências em que Erin se vira nos trinta para tentar alcançar os seus objetivos, mesmo que seja amplificando o caráter sensual de seu comportamento (como na sequência da Associação da Água), ou mesmo buscando por conta as provas das fraudes químicas da água contaminada, sem jamais descer do salto, claro. Aliás, uma das cenas de maior regozijo é aquela em que Erin confronta um grupo de advogados de defesa, oferecendo a eles um copo de água para acalmar os ânimos (água extraída, evidentemente, das torneiras de Hinkey). Julia viria a ganhar o Oscar por sua interpretação nessa pequena joia do começo do milênio, fora as tantas outras indicações ao carecão dourado. Anos depois, enquanto assistimos o meio ambiente ser devastado no mundo todo (no Brasil, então, nem se fala), parece que carecemos de mais Erins, dispostas a bater de frente com os grandes, nem que seja para lembrar os poderosos da importância da fiscalização.
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