terça-feira, 15 de outubro de 2019

Cinema - A Noite Amarela

De: Ramon Porto Mota. Com Rana Sui, Ana Rita Gurgel, Marina Alencar e Felipe Espíndola. Terror, Brasil, 2019, 100 minutos.

Enquanto assistia ao nacional A Noite Amarela só conseguia pensar na página do Facebook Infelizmente millenialls são uma merda - por que, puta que pariu, que grupo de adolescentes CHATO DA PORRA o que protagoniza esse filme. Bom, excetuando-se o fato de se tratar de uma obra experimental, claramente de baixíssimo orçamento, o filme absolutamente não funciona. Nem como suspense psicológico, nem como drama adolescente, nem como comédia involuntária. Pra começar as personagens são muito mal construídas: são sete adolescentes que pouco se diferenciam entre si. Com personalidades extremamente parecidas, os sete protagonistas agem com aquele misto de presunção com letargia juvenil - isto a despeito dos figurinos eventualmente variados, das cores de cabelo diversificadas ou de outros detalhes que pudessem denunciar alguma diferença no comportamento de cada um deles. E quando isso acontece, tu não te envolve, infelizmente.

A única personagem que parece ser um pouco diferente - mas só parece - é a adolescente de nome Karina (Rana Sui). Quando ela e os demais colegas que estão terminando o Ensino Médio chegam a uma ilha nordestina para passar férias, ela parece sentir algum tipo de "vibração" diferente no local (especialmente na casa decrépita que abrigará o grupo em sua estada). Andando pelos cômodos, silenciosamente, é emanada uma espécie de tensão. Mas uma espécie de tensão que, vamos combinar, nunca se concretiza. Assim como ela surge, ela vai embora, quase de forma inexplicável. Pior: o comportamento de Karina é tão esquisito que ela é capaz de adotar um tom mais severo em determinada sequência - como no instante em que investiga antigas fitas VHS em um cômodo escuro - para no instante seguinte surgir rindo e se divertindo com os demais colegas. Falta profundidade na construção de cada personalidade: é tudo meio oco, raso.


Como filme experimental, a obra do diretor Ramon Porto Mota abusa de sobreposições, elipses e outras trucagens de edição, que mais parecem encobrir as deficiências do roteiro. A história de jovens que vão para um local passar férias e encontram um ambiente perturbador em que coisas estranhas acontecem é quase tão antigo quanto o cinema: mas na tentativa de alterar a lógica desses eventos, construindo um outro tipo de ambientação, o filme parece dar voltas e mais voltas sem nunca chegar a lugar nenhum. Há cenas que parecem meio aleatórias e que pretendem, ao menos de forma aparente, auxiliar o espectador na compreensão daquilo que assistem - como as divagações sobre "fotografia quântica" que aparecem na já citada fita VHS -, mas que parecem apenas instantes esparsos, que depois simplesmente desaparecem da narrativa. E o que dizer da inexplicável sequência da briga em um posto de gasolina, em que todos se regozijam após Karina estourar uma garrafa na cara de um guri, por causa de uma discussão envolvendo som automotivo?

Além disso, há um seríssimo problema de iluminação no filme, que é absurdamente escuro. Tanto que a gente só começa a perceber qual a cara (e a expressão) de cada um dos protagonistas lá pelos quinze minutos de projeção. E se a luz surge clara no rosto de um dos jovens e escura no de outro, isso não acontece para acentuar a personalidade distinta ou um comportamento eventualmente antagônico: simplesmente acontece, mas sem nenhum sentido. Como no momento em que Karina tem um longo debate com Mônica (Ana Rita Gurgel). Há estátuas decadentes, há um farol, há um personagem gay que faz um discurso sobre espiritismo (!) mas, nada se encaixa. Juro que estava com a melhor das expectativas para esta película - não gosto de filmes de terror, de sobrenatural ou de jump scares, mas resolvi conferir este, por ser nacional: bom, se havia algo "genial" lá no fundo, que eu não percebi, me digam. Para mim o filme foi apenas aborrecimento e experimentalismo inócuo. Infelizmente.

Nota: 1,5

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