No cenário pós-apocalíptico pensado para o filme A Luz no Fim do Mundo (Light of My Life), uma doença de difícil explicação praticamente dizimou as mulheres do mundo. É nesse contexto que um pai (vivido por Casey Affleck, que também dirige e produz) deve se esforçar para proteger a sua filha (a ótima Anna Pniowksy) de algum perigo que, não sabemos exatamente qual. A trama começa com os dois isolados em uma floresta, dormindo em uma barraca não muito distante da cidade, mas evitando qualquer contato com outros humanos, especialmente os homens - como comprovará a pequena participação do ator Tom Bower, que aparece como um curioso andarilho, logo nos primeiros minutos. Será justamente esse acontecimento que motivará a dupla central a sair de onde está, para buscar refúgio em algum outro local. Aliás, eles estarão sempre em movimento, fugindo. O mundo parece ter ficado perigoso e, enfim, é preciso andar. E evitar as pessoas.
Alguns poucos flashbacks mostrarão a mãe (Elisabeth Moss), o que nos fará entender que o mal que atingiu a população mundial, uma espécie de pandemia, era irreversível. E como as mulheres foram as mais afetadas, o pai opta por esconder o real gênero de sua filha: a veste como um menino e impede de todas as formas que ela exerça qualquer tipo de comportamento que denuncie a sua verdadeiro identidade. Nesse sentido, a história comove nos pequenos instantes, como aquele em que, dentro de uma casa abandonada, a jovem encontra diversas roupas infantis para menina, sendo impedida de usá-las pelo pai. E a gente perceberá mais tarde que esse tipo de reação aparentemente exacerbada terá lá sua razão de existir. Especialmente após a sequência em que a dupla vai até a cidade para a obtenção de mantimentos básicos, atraindo olhares de pessoas que, no fim das contas, se mostrarão pouco amistosas.
Sem apresentar soluções fáceis, A Luz no Fim do Mundo se mostra muito mais como uma obra de sensações, de sutilezas. Não são poucos os longos planos sequência, que nos colocam muito próximos das personagens. A fotografia evita a saturação ou a "febre do cinza", que povoa algumas obras de ficção e pequenos detalhes nas cores - repare como a casa abandonada e empoeirada ganha um pouco de "vida" nos tons, após eles se instalarem nela - evocam um fiapo que seja de otimismo ou de esperança. Sobre o diretor e protagonista ter sido acusado de assédio sexual recentemente - ele admitiu o ocorrido e aqui estou fazendo um esforço para separar a pessoa da obra de arte analisada -, não deixa de ser curioso o fato de que, em seu primeiro filme de ficção oficial (anteriormente ele tinha feito o esquisito pseudo-documentário Eu Ainda Estou Aqui), ele execute uma película que dê conta do desaparecimento das mulheres por causa de uma doença. Expiação do machismo ou da misoginia? Ou mera coincidência? Sinceramente, não sei se há um motivo maior por trás. Vocês que me digam. Como filme, A Luz no Fim do Mundo funciona direitinho.
Nota: 8,0
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