quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Disco da Semana - Foo Fighters (Concrete and Gold)

Em época de Rock In Rio, muito se ouve falar "cadê o rock no festival?". É uma pergunta que pode ser ampliada para além do espectro do evento que está sendo realizado no Rio de Janeiro. Cadê o rock? Onde ele se esconde? Como vive? De espírito transgressor e anárquico num passado ainda recente, hoje, o rock parece relegado a ser escutado por aquele seu tiozão cheirando a naftalina que, nas mesas de domingo, se regojiza das "novidades políticas" por aí apresentadas, deixando transbordar um indelével espírito reacionário, intolerante e conservador. Sim, hoje o rock parece muito mais datado do que qualquer outra vertente - e sujeitos de ideias anacrônicas como o Lobão e o Roger Moreira (aquele do Ultraje a Rigor, caso você não esteja ligando o nome a pessoa) contribuem e muito para essa impressão. Com tanta música boa e plural o rock parece, enfim, agonizar.

Não por acaso, grandes figuras do mundo da música, com ideias muito mais modernas, revigorantes e adequadas aos tempos em que vivemos - como por exemplo, a cantora Lady Gaga -, possuem uma atitude muito mais rock and roll do que qualquer outro desses que empunha(va) uma guitarra, como se fazer barulho com tal instrumento, representasse um tipo de subversão última, que faria corar os fãs do Bolsonaro, da panela ou da camisetinha da CBF. Aliás, vejam só, normalmente esses caras SÃO FÃS do Bolsonaro, da panela e da camisetinha da CBF. Ou você acha que reaça ouve funk? Ouve eletronices cheias de loops e sintetizadores? Ou abre o Spotify pra ouvir o Liniker? Não é regra, mas experimente observar isso no seu círculo de amizades. O Lemmy Kilmister, finado ex-vocalista do Motörhead, mantinha em sua casa um bizarro museu de objetos nazistas. Aliás, ele usava quepes com imagens de suásticas nos shows da banda. Nada de novo, então.



Bom, posto todo esse preâmbulo, será que o rock ainda tem salvação? Será que eu estou exagerando nessa minha resenha bem meia-boca? Será que alguma banda (ou algumas) ainda conseguem imprimir o espírito que já nos trouxe ao mundo sujeitos como Jimi Hendrix, David Bowie ou John Lennon? Bom, o causo é que, para o bem ou para o mal, talvez o Foo Fighters (pasme)  ainda seja essa banda. Afinal de contas, Dave Grohl e companhia poucas vezes fizeram um rock tão certeiro, tão visceral, tão ao mesmo tempo pesado e pop como no mais recente registro Concrete and Gold. E o melhor de tudo: em praticamente todas as entrevistas prévias, o vocalista Dave Grohl fez duras críticas ao misógino e xenófobo governo Trump, transformando a chegada deste nono trabalho em uma espécie de pequeno líbelo para uma América desesperançosa, pessimista e afundada em um sistema político que privilegia poucos. (e que, para nós brasileiros, é impossível não se identificar)

"Estamos de frente a um sujeito que tem um claro desprezo pelo futuro do meio ambiente e pelos direitos das mulheres, diplomaticamente... Eu tenho três filhas que vão viver mais décadas do que eu - como elas vão continuar se não há nenhuma mudança positiva ou progressista?" comentou Grohl em entrevista recente à revista britânica Kerrang. As preocupações com o sistema político adotado pelo líder da mais importante nação do mundo também estão nas letras das canções do novo disco. Mind is a battlefield / All hope is gone (a mente é um campo de batalha / toda a esperança se foi) canta o vocalista no single niilista The Sky is a Neighbourhood. O expediente se repete em outras, como no grudento hit Run - I need some space to breathe / You can stay asleep / If you wanted to (Eu preciso espaço pra respirar / Você pode ficar adormecido / Se você quiser).


Representando ainda uma natural evolução desde o dispensável álbum anterior (o conceitual e fraco Sonic Highways), o Foo Fighters, com Concrete and Gold, volta a se reposicionar como uma das mais relevantes bandas de rock da atualidade, talvez ao lado do Queens Of The Stone Age. (e, não por acaso, ambas as bandas excursionarão juntas no próximo ano, com direito a parada em Porto Alegre) Equilibrando ainda momentos mais pesados e roqueiros (como no petardo La Dee Da) com outras mais intimistas e sutis (como no caso da excelente Dirty Water) Grohl e companhia nos lembram que, no fim das contas, esse estilo musical tão maltratado hoje em dia, ou mesmo tão alinhado a idéias retrógradas de um passado que insiste em reaparecer, ainda está aí para que todos possam se divertir. Petralhas, coxinhas, reacionários, progressistas. Se puder ser em um mundo com menos Trump, menos Bolsonaro, menos ódio, intolerância e preconceito de todos os tipos, ou mesmo com mais empatia e respeito as diferenças - bem a moda do espírito questionador ligado a essa vertente, no passado -, ainda melhor!

Nota: 7,9

2 comentários:

  1. Por que todo esquerdista tem ÓDIO do Bolsonaro e não sabe reconhecer suas partes boas? Eu sou de direita e reconheço que o Lula fez muitas coisas boas pelo país e pelos mais pobres, mas se tornou apenas mais um corrupto que tem a cara de pau de colocar a culpa em alguém que já morreu (Marisa), e todos seus "companheiros" já estão presos ou sendo investigados, inclusive com delações contra o Lula. Bolsonaro é apenas contra o "kit-gay" nas escolas. Ele já deu várias declarações que cada um faça o que bem entender com a própria vida e se relacione com quem quiser. Eu, mesmo de lado político oposto ao seu, sei reconhecer as coisas boas do outro lado, mas e você? Onde está a pluralidade de ideias e debate? Bolsonaro defende a polícia (que em sua maioria são pessoas decentes, eu sei que existe uma minoria corrupta e que causa mal, mas são POUQUÍSSIMOS perante ao todo. Ao não ser que quando te roubem tu queira chamar o Jaspion, eu estarei quase sempre do lado do policial), defende dura pena a estupradores (caso Champinha, lembra? Ele defendia duras penas aos menores estupradores, enquanto a dona Maria do Presidiário defendia as pobres vítimas da sociedade que não sabiam o que estavam fazendo: Um estupro praticado por um homem de 20 anos ou de 16, continua sendo ESTUPRO e uma violência absurda que não pode passar IMPUNE.) Tenha o mínimo de empatia e TENTE compreender o que estou dizendo. Tomara que NUNCA aconteça com ninguém da sua família, mas imagina se fosse com uma tia, irmã, prima, mãe? Tu gostaria que a punição dele fosse a fundação Casa? Medidas socioeducativas para um PSICOPATA ASSASSINO ESTUPRADOR?

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    1. Muito obrigado pelo seu comentário, prezado "anônimo" (melhor seria se se identificasse!). E, mais grato ainda fico por, tão facilmente, VALIDAR a minha tese. Deixaste dois comentários aqui no Picanha. Em um deles defende a presença de um disco do Metallica em uma lista de melhores do ano. Na outra se esforça para defender um sujeito como o Bolsonaro - que, além de não apresentar UM PROJETO SEQUER em todos os anos como deputado, ainda se constitui em um sujeito misógino, racista, preconceituoso e machista. Roqueiro, fã de Metallica e Bolsonaro. Taí o que eu comentava no post. Abraço e volte sempre!

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