quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Cine Baú - Marty (Marty)

De: Delbert Mann. Com Ernest Borgnine, Esther Minciotti, Betsy Blair, Joe Mantell e Augusta Ciolli. Drama / Romance, EUA, 1955, 92 minutos.

O velho ditado diz que "toda a tampa tem a sua panela", mas será que isso é uma verdade para todas as pessoas? Marty (Ernest Borgnine) é o que se pode dizer de um sujeito azarado no amor. Por mais que seja um rapaz de generoso, de bom caráter e sempre disposto a ajudar os outros, ele é considerado feio - aos menos para os padrões da sociedade em que (ainda hoje) vivemos. O que complica as coisas. Resignado com a possibilidade de se tornar um solteirão - por mais que tenha apenas 34 anos - o protagonista do singelo filme do diretor Delber Mann passa os dias em bares para solteiros na companhia do melhor amigo Angie (Mantell). No açougue em que trabalha, ouve comentários maldosos das clientes, que lhe perguntam quando ele irá se casar, já que seus irmãos mais novos já contraíram matrimônio - bem à moda daquelas tias xaropes que, na mesa do almoço de família, perguntam sobre as "namoradinhas".

A situação muda quando Marty conhece, em um baile da cidade, a jovem Clara (Blair). Rejeitada por um médico arrogante (daqueles que se acha), Clara encontra no ombro de Marty o conforto de uma conversa e de uma parceria para a dança e para o lanche da madrugada. A empolgação de ambos, especialmente do personagem de Borgnine - que não consegue parar de falar -, é comovente, sendo absolutamente impossível não se identificar com a animação do sujeito, diante da possibilidade de ter encontrado um grande amor. É lógico que nem tudo serão flores já que os zombeteiros amigos de Marty o lembrarão, de maneira permanente, que Clara não é nenhuma beldade - como se isso importasse para ele. Da mesma forma a mãe do rapaz não hesitará em demonstrar ciúme, diante da iminente possibilidade de corte do "cordão umbilical".


Todas estas questões, abordadas de maneira tão tocante, transformam Marty em uma obra não menos do que singela e vibrante. A insegurança e a incerteza que TODOS temos quando nos apaixonamos é algo que torna a história tragicômica do protagonista na história de cada um de nós. Quem nunca teve medo da rejeição? Ou ficou ansioso diante daquela novidade que faz com que o nosso coração dê verdadeiros saltos ornamentais dentro de nosso peito? Quem não esperou ao lado do telefone por aquele whats (ou aquela ligação, no caso daquela época), que demorava a chegar? O sentimento palpável do casal protagonista faz com que torçamos o tempo todo para que os eventuais desencontros se tornem um só encontro, duradouro e definitivo. Por mais que uma revisão do filme, na atualidade, possa transformá-lo em um produto levemente piegas e fruto de uma época muito mais romântica do que a nossa - tão urgente, tecnológica, fria e individualista.

O diretor Delbert Mann - que a exceção deste não possui nenhum outro grande filme no currículo - enche a tela com uma série de sequências leves e emocionantes. O trecho que marca o reencontro de Clara com os pais após a noite com Marty - e ela explicando a eles questões relacionadas ao status social de um açougueiro - é não menos do que enternecedor. Da mesma forma é impossível não se comover com o protagonista discutindo aos berros com a mãe, para em seguida concluir o óbvio: sou feio! Sou gordo e feio - exclama. Feito de tantos pequenos momentos que remetem ao sonho da felicidade doméstica e da luta das pessoas por aceitação, Marty também se transforma em uma espécie de documento do seu tempo. Especialmente no pós-guerra, quando parecia haver um medo ainda maior da solidão. Assim, não foi por acaso que essa pequena joia clássica faturou quatro estatuetas na edição do Oscar de 1956 - entre elas nas categorias Melhor Filme, Diretor (Mann) e ator (Borgnine) -, aparecendo ainda nas mais variadas listas de melhores da história.

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