Cena: Um beijo romântico na beira da praia
Ganhadora de oito estatuetas do Oscar (entre elas a de Melhor Filme) na edição de 1954, a obra A Um Passo da Eternidade (From Here to Eternity), do diretor Fred Zinnemann, é, atualmente, considerada datada. Ainda que conte com grandes interpretações de todo o elenco de protagonistas, a história de um grupo de soldados de uma base militar no Hawaí, as vésperas do ataque militar a Pearl Harbor, parece parada em um tempo em que mais importante do que que qualquer virtuosismo artístico, era exorcizar os traumas e as feridas relativas à Segunda Guerra Mundial. O que talvez explique o carinho dos americanos (sempre patriotas) em relação a película - ainda que, nunca seja demais lembrar, que, para aquela época, temas como adultério, abuso de poder e prostituição, representavam novidades em alguma medida impactantes e que traziam, por que não, algum frescor para o cinema.
Ainda que sofra do mesmo "problema", a clássica sequência que mostra os personagens de Burt Lancaster e Deborah Kerr rolando na areia da praia em um beijo acalorado, até hoje se mantém como uma das mais românticas da história do cinema, sendo lembrada e parodiada por diversos outros filmes e séries. Na trama Lancaster é o sargento Milton Warden, um homem de caráter que não hesita em se aproximar da Sra. Holmes, esposa de seu superior, mas que vive um casamento de aparências e de mentiras. Se o adultério é um componente capaz de dar outro sentido à cena protagonizada pela dupla, a atitude de Warden diante de outro personagem - no caso o trompetista e ex-boxeador Prewitt (um magnético Montgomety Clift) -, é o que faz com que torçamos descaradamente por este amor proibido. O que, inegavelmente, faz com que a sequência passe da surpresa para o deleite em poucos segundos.
Por se negar a lutar boxe para a equipe de seu batalhão, Prewitt é constantemente humilhado pelos seus colegas, encontrando alento não apenas nas atitudes amistosas de Warden, mas também na amizade de Maggio (Frank Sinatra em um grande papel coadjuvante) e no "amor" da prostituta Lorene, em interpretação comovente de Donna Reed. E se Ernest Bornigne está inesquecível na pele do inescrupuloso sargento Fatso é no toque absolutamente realista que a película de Zinnemann ainda mantém boa parte de sua força - chegando a ser surpreendente a violência apresentada ao espectador em seu terceiro ato. Com boa fotografia e trilha sonora magnética, a obra conta com outras sequências memoráveis - como a cena de luta envolvendo Fatso e Prewitt. Mas o beijo, ao mesmo romântico e lascivo em meio a paisagem litorânea, capaz de resumir o sentimento de plenitude de ambas as personagens, é o que torna esta obra verdadeiramente inesquecível.
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