segunda-feira, 8 de junho de 2015

Pérolas do Netflix - 50%

De: Jonathan Levine. Com Joseph Gordon-Levitt, Seth Rogen, Anna Kendrick, Bryce Dallas Howard e Anjelica Huston. Comédia dramática, EUA, 2010, 100 minutos.

Normalmente o sucesso de um filme que tenha algum personagem convivendo com o drama de uma doença grave depende, em muitos casos, do quanto nos importamos com os sujeitos que vemos na tela. É mais ou menos como nas comédia românticas. Em muitos casos sabemos exatamente qual vai ser o final da história. O que tornará a experiência significativa ou não será o percurso. E o quanto nos afeiçoarmos, a partir das qualidades de um bom roteiro, por cada uma daquelas pessoas a que estamos assistindo. Evidentemente, na maioria dos casos, películas sobre doenças são mais pesadas, carregadas, dramáticas. E quanto mais naturalista e sincera - ou menos apelativa até - for a abordagem, mais favorável será o resultado. E é exatamente isso o que ocorre com o simpaticíssimo 50% (50/50), um verdadeiro achado entre os filmes do Netflix.

A obra do diretor Jonathan Levine nos apresenta a uma coleção de personagens bacanas que conseguem fazer com que, ao final, estejamos verdadeiramente torcendo para que tudo dê certo. Jonathan Gordon-Levitt é Adam, um jovem de apenas 27 anos que trabalha em uma rádio local, fazendo edições de som. Em uma consulta de rotina, por conta de uma intermitente dor nas costas, Adam é diagnosticado com um severo tipo de tumor maligno. O que modifica completamente a sua rotina. O melhor amigo é Kyle (Rogen), um sujeito desbocado, mas de bom coração, que tenta fazer de tudo para não deixar a moral do parceiro cair em nenhum momento. Nem que, para isso, ele tenha de ter as ideias mais estapafúrdias, sendo a mais estranha delas a de usar a doença pra "pegar a mulherada".



Se juntam a esse rol de personagens carismáticos, Katherine, uma insegura médica iniciante vivida de forma singela pela sempre ótima Anna Kendrick; a namorada de Adam, a confusa Rachael, interpretada pela Bryce Dallas Howard e uma amorosa mãe, papel de Anjelica Huston. O filme passa pelas várias etapas da doença, mas sem se focar demais nas complicações acarretadas por ela. E mesmo alguns momentos difíceis, como a inevitabilidade de se raspar a cabeça antes da chegada dos efeitos colaterais da quimioterapia, são apresentados de maneira leve e divertida - e quase absurda, no caso dessa cena! É claro que há muitos momentos tristes e a reta final certamente deixará os mais sensíveis com os olhos permanentemente marejados. Mas tudo é elaborado de maneira delicada e sem excessos que forcem a barra.

Os mais nerds curtirão a grande quantidade de referências culturais que há no filme, como no caso em que Kyle brinca com Adam ao dizer que ele ficará a cara do Michael Stipe ao se tornar careca ou, em uma das melhores cenas, quando o jovem, prestes a contar para sua mãe sobre sua "nova condição", pergunta a progenitora se ela já assistiu ao lacrimoso Laços de Ternura, pequeno clássico oitentista com Debra Winger e Shirley MacLaine. A trilha sonora também é bacana, equilibrando músicas mais antigas, com alguns achados alternativos atuais - cabendo ressaltar a cena ao som de High and Dry do Radiohead, uma das mais impactantes. Discutindo ainda questões sobre a relação médico-paciente, a importância das amizades e o senso de finitude, essa pequena película se torna grande, ainda que seja modesta nas aparências. Vale muito a pena.


Nenhum comentário:

Postar um comentário