Quem acompanha a carreira do The Killers de perto, sabe que o vocalista Brandon Flowers não tem muito freio na língua. O cara já arrumou briga com integrantes do Fall Out Boy e do Panic! At the Disco e arrumou confusão até com o Thom Yorke, quando afirmou que o líder do Radiohead deveria agradecer a Deus pela capacidade de compor canções pop, sugerindo a ele que retornasse a isso e que parasse com aquilo que vinha fazendo recentemente. Quando começou a fazer sucesso no Reino Unido, no início de 2005, com o recém lançado (e ótimo!) Hot Fuss, Flowers disse que nos Estados Unidos as pessoas eram "retardadas musicalmente", por ainda não terem reconhecido o talento de seu grupo. Sobre Kanye West, em recente entrevista a Rolling Stone Brasil, garantiu que o rapper lhe deixa "enjoado".
Não se pode saber se foi a língua solta ou não, mas o fato é que, desde o final de 2014, o The Killers resolveu dar um tempo pra cabeça, após a final da turnê do (lamentável) disco Battle Born, lançado em 2012. Mas não para Flowers, afinal, o artista tem muito a dizer e, não à toa, já havia lançado, anteriormente, um outro disco solo, intitulado Flamingo. O segundo registro, que chegou ao mercado a alguns dias, se chama The Desired Effect. Os fãs do Killers "de raiz" se identificarão imediatamente com a coletânea de canções pop, feitas sob medida para tocar em rádios. O uso de sintetizadores, uma marca registrada do antigo grupo do artista, reforça o caráter oitentista da produção, ainda que o instrumento seja usado de forma menos carregada do que no último registro da banda de Flowers.
Ao abusar do estilo romântico, acompanhado de um instrumental grandiloquente, Flowers emula artistas tradicionais em rádios light, casos de Crowded House, The Bolshoi, Mr. Mister, ou mesmo Spandau Ballet. E não é necessária nem uma audição mais atenta para se perceber como essa característica "salta aos ouvidos", em composições como Can't Deny My Love. Ao mesmo tempo, como alguém bastante atento aquilo que tem sido feito na música moderna, especialmente no que se refere a música com base eletrônica, o cantor atualiza os seus temas, nunca soando excessivamente anacrônico ou fruto de alguma outra era que não a atual. E canções como Still Want You e Diggin' Up the Heart são dois exemplos em que se podem ser observadas essas características. O que faz com que o artista não se torne uma espécie de Rick Astley dos anos 2000.
O diálogo com a modernidade, com a tecnologia e com os temas atuais também aparece nas letras, ainda que de forma sutil - e não exatamente criativa, é preciso que se diga. The time is passing by/ I still want you/ Crime is on the rise/ I still want you/ Climate change is dead/ I still want you/ Nuclear distress/ I still want you/ The earth is heating up/ I still want you/ Hurricanes and floods/ I still want you/ Even more than I did before cantarola Flowers em Still Want You, constatando o fato de que, também para ele o tempo está passando. O artista já deu a entender em uma série de entrevistas a imprensa, que tem vontade de retornar a sua antiga banda. Enquanto isso não ocorre, os fãs podem saborear um álbum que, arrisco dizer, não fica devendo às produções mais recentes do quarteto de Las Vegas. Ainda que tenha lá suas imperfeições.
Nota: 7,0
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