sexta-feira, 5 de junho de 2015

Novidades em DVD - O Duplo

De: Richard Ayoade. Com Jesse Eisenberg, Mia Wasikowska, Wallace Shawn e Jamex Fox. Drama / Suspense, Reino Unido, 2013, 92 minutos.

Simon James (Eisenberg) é um sujeito introspectivo, tímido, bondoso e solitário, que trabalha em um cubículo de uma empresa de análise de sistemas, ocupando parte do seu tempo livre para espionar a vizinha Hannah (Wasikowska), que mora em um apartamento do bloco da frente, e por quem mantém uma paixonite secreta. Em um certo dia de trabalho, Simon é apresentado a James, o seu novo colega de trabalho. O detalhe: James é idêntico a Simon, mas com uma personalidade absolutamente oposta, uma vez que o sósia é um sujeito de fácil trato - ainda que rude "quando necessário" -, extrovertido, capaz de cativar a todos a sua volta, inclusive as mulheres. Essa é a base do roteiro do recém lançado em DVD O Duplo (The Double), baseado em conto de Fiódor Dostoiévski, e que chega as telinhas com dois anos de atraso.

Além da trama original, que até pode lembrar o recente (e ótimo) O Homem Duplicado, de Denis Villeneuve, essa pequena pérola possui uma série de outros acertos. A começar pela ambientação, que coloca os seus personagens em cenários frios, pouco iluminados, com fotografia acinzentada e com grandes profundidades de campo. Tudo isso somado a onipresença da tecnologia, ainda que ela possua um ar retrô, o que contribui para a sensação permanente de isolamento vivida pelos personagens, capazes de possuir, como único objetivo de vida, o trabalho. Operação que é feita por meio da entrega de relatórios para um patrão - chamado não por acaso de "Coronel" - que parece pronto a usar de seus poderes para subjugar os seus empregados, não hesitando em assediá-los ao menor sinal de questionamento do "sistema".


E aqui também aparece mais um grande acerto do roteiro. Ao criticar o status quo atribuído às grandes corporações, à mídia e até a propaganda, bem como o abuso de poder exercido pelas mais diversas instituições, a obra, do diretor Richard Ayoade - que mais recentemente filmou a animação Os Boxtrolls - ganha em peso e significado. Dessa forma o que poderia soar como apenas um curioso drama romântico, de teor retrô-futurista, alcança um outro patamar, ao criticar as exigências da sociedade moderna, para que se viva de acordo com um padrão estabelecido, ainda que isso signifique uma existência vazia e próxima da marginal. E não é à toa que, no filme, há uma brigada exclusiva disponível para atendimento a casos de potenciais suicidas, o que normalmente pode ocorrer com sujeitos que não estão adequados ao estilo de vida em vigência.

A boa interpretação de Eisenberg, que, em muitos casos, aparece na mesma imagem como dois sujeitos completamente diferentes, também se consiste em um ponto positivo da película. E, repare como nas cenas em que Simon (o tímido) aparece, normalmente os seus ombros estão caídos e a sua roupa ajeitada, ao passo que James sempre surge como um sujeito iluminado e descolado, capaz de usar inclusive outros trajes, que não apenas o terno em tom pastel. Misturando David Cronenberg dos anos 80, com Jean Pierre Jeunet (em filmes como Delicatessen), Ayoade nos apresenta ainda a uma série de coadjuvantes curiosos, que, com suas ações, contribuem para a permanente sensação de incômodo (e até de algum suspense) provocada pelo filme. O que vai até a ótima conclusão, que mostra até onde somos capazes de chegar para alcançar a tão sonhada aceitação dos demais.

Nota: 8,0


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