quinta-feira, 21 de setembro de 2023

Pitaquinho Musical - Mitski (The Land Is Inhospitable and So Are We)

Talvez Laurel Hell, o expansivo e acessível disco anterior, seja uma das raras exceções na carreira da cantora Mitski. Famosa por certo hermetismo que envolve letras bastante poéticas e melodias com menor apelo comercial, a artista se soltaria mais no trabalho lançado no ano passado - aliás, nosso 15º preferido de 2022 -, flertando em alguma medida com o pop classudo e soturno dos anos 80. O que pôde ser comprovado em canções acessíveis como The Only Heartbreaker e Love Me More. Só que com o sinuoso The Land Is Inhospitable and So Are We, seu sétimo álbum, parece haver uma espécie de retorno para uma sonoridade menos previsível. O que não significa que não haja beleza. Só que para nós, brasileiros, é preciso que se diga que a coisa toda funcionará melhor com um pouco de paciência, absorvendo cada etapa com calma - e, de preferência, com as letras à tiracolo.

A canção inaugural, chamada Bug Like an Angel, por exemplo, poderia ser apenas um countryzinho genérico como qualquer outro, tocado ao violão. Nada que não tenhamos ouvido ainda. Mas como se já não bastasse o inesperado e vigoroso coral gospel que invade a canção no meio do caminho, nos jogando para uma espécie de outro plano metafísico, há ainda a letra metafórica em que temas ligados à família e a religião se cruzam em versos cheios de simbolismos (Há um inseto parecido com um anjo preso no fundo / Do meu copo, com um restinho sobrando / A medida que fui crescendo, aprendi a ficar bêbada / Ás vezes é um drinque é como uma família). Esse tipo de contraste entre a sofisticação e a suavidade do tom, que parecem colidir o tempo todo com os temas mais pesados, com reflexões e dores cotidianas. Claro que não significa que não haja espaço para um respiro, como podemos perceber na graciosa My Love Mine All Mine, uma das grandes músicas do ano.

Nota: 8,5


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