terça-feira, 12 de setembro de 2023

Novidades em Streaming - Que Horas Eu Te Pego? (No Hard Feelings)

De: Gene Stupnistsky. Com Jennifer Lawrence, Andrew Barth Feldman, Matthew Broderick, Laura Benanti e Natalie Morales. Comédia romântica, EUA, 2023, 103 minutos.

Ok, a gente sabe que a Jennifer Lawrence não precisa ser intensa e oscarizada em tudo quando é papel, mas ter aceitado fazer uma comédia romântica oitentista meia bomba - e até meio conservadora -, em pleno 2023, só pode ter uma explicação: os boletos chegaram e é preciso honrá-los. Porque vamos combinar que Que Horas Eu te Pego? (No Hard Feelings) não tem lá muita graça. E nem muita química no que diz respeito ao "casal" central. Tudo bem que a ideia de uma mulher de trinta e poucos anos com perrengues financeiros sempre pode render alguma coisa - ainda mais quando há um pano de fundo que envolve certa crítica à gentrificação (um pano de fundo que poderia ser melhor explorado, diga-se). Mas, aqui, na maior parte do tempo a gente fica meio que esperando a hora de rir. É uma comédia, né? Só que quando ela chega é uma risada meio de lado, sem vigor. E não é por falta de carisma ou tino para o humor excêntrico, já que Lawrence, a gente sabe, tem isso de sobra. Aliás, foi o que me atraiu pro projeto dirigido por Gene Stupnistsky (do excelente Bons Meninos, 2019).

Na trama, a protagonista vive Maddie Barker, uma garçonete de um boteco de frutos do mar, que complementa renda como motorista de uber em Montauk, Nova York. Endividada por não conseguir quitar os impostos da casa de beira de praia que herdou da mãe, Maddie tem seu carro tomado pela Prefeitura. A solução bizarra dada pela amiga Sara (Natalie Morales)? Aceitar um emprego temporário como "namorada" do filho de 19 anos de um casal de ricaços investidores da área de tecnologia - papel de Matthew Broderick e Laura Benanti. A ideia dos pais é a de tirar o jovem Percy (Andrew Barth Feldman) do casulo, possibilitando a ele alguma experiência na seara amorosa (e sexual), antes de entrar para a faculdade de Princeton. E, claro, tudo isso sem que o rapaz saiba. Como contrapartida, Maddie receberá um automóvel Buick, que lhe permitirá voltar à sua rotina de motorista de aplicativo. Para quem sabe, ali adiante, saldar as dívidas.

E é evidente que a timidez agressiva de Percy, somada a desinibição ao mesmo tempo sensual e meio desengonçada de Maddie resultará em instantes em alguma medida cômicos. Percy não tem realmente nenhuma habilidade social: é o estereótipo do jovem introspectivo, que fica metido no seu quarto e que tem como únicos companheiros de convívio os seus parceiros de jogos online. Mais do que isso, não bebe, não se diverte e ainda tem uma caretice que escorre da alma, que faz com que Maddie pareça verdadeiramente descolada perto dele, mesmo ela tendo quase quinze anos a mais. Quando ambos resolvem nadar pelados na praia, por exemplo, é ele que fica tímido, quase encolhido, com medo da polícia, da falta de pudor, de qualquer coisa que possa lhe comprometer. Já a protagonista fará um esforço hercúleo para tentar dobrar o adolescente para que ele simplesmente transe com ela (um objetivo que, lá pelas tantas, parecerá quase impossível de ser alcançado).

E eu não vou negar que em matéria de comédia física e de situações inusitadas e de vergonha alheia, a obra tem lá algumas virtudes. Mesmo que elas sejam resultado mais de estranhamento do que qualquer outra coisa. Mas, ainda assim, parece que falta algum tempero. Um molho. Algo mais oxigenado. Que fará com que o espectador invista mais as suas expectativas naqueles personagens. Percy, por exemplo, parece tão deslocado que parece impossível qualquer tipo de conversão. Assim como parece ser necessária uma boa dose de suspensão de descrença pra imaginar uma mulher como Lawrence, investindo seus esforços num jovem nerd que, de quebra, empreenderá uma via crúcis na manutenção da virgindade. Claro que esse contraste tem potencial. Ainda que lá pelas tantas ele canse, inegavelmente - fruto de um roteiro meio claudicante e insosso, que resulta em piadas genéricas. As intenções talvez fossem boas. Só que não rolou tão a contento. E tá tudo bem. No hard feelings.

Nota: 5,0


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