quarta-feira, 11 de abril de 2018

Cinema - Madame (Madame)

De: Amanda Sthers. Com Toni Collette, Harvey Keitel, Rossy de Palma e Tom Hughes. Comédia dramática / Romance, França, 2017, 91 minutos.

Parece inacreditável que, em pleno ano de 2018, ainda haja espaço para filmes maniqueístas, estereotipados e até mesmo misóginos como este inacreditável Madame (Madame), que está em cartaz nos cinemas. Aliás, a obra da diretora Amanda Sthers trata seus personagens de forma tão simplista e mesquinha, que são muitos os momentos da película que beiram o constrangimento. Fora os diálogos péssimos, as interpretações forçadas, o roteiro absurdo... Na trama o casal de americanos Anne (Toni Collette) e Bob (Harvey Keitel), recém-chegados em Paris, organizam um jantar para 12 pessoas. Quando o filho de Bob reaparece de forma inesperada para o evento, a supersticiosa anfitriã resolve incluir a empregada Maria (Rossy de Palma) no evento - como se esta fosse uma convidada especial vinda diretamente da realeza espanhola. Tudo para evitar que 13 pessoas sentem a mesa.

Bom, a ideia do filme, que até poderia parecer original, logo se torna a desculpa mais que perfeita para um festival de piadas de mau gosto e para uma série de comentários sociais absolutamente distorcidos e vulgares. Em uma das cenas, por exemplo, Anne brinca sobre o fato de Maria calçar 40 - o que seria um absurdo no universo das mulheres elegantes. Ela arremata o assunto dizendo que a famosa marca Louboutin nem fabricaria os seus calçados com esta numeração. Em outra sequência, Anne incentiva a sua relutante empregada a "sair da ABC para viver um momento HBO" - o trocadilho aparentemente esperto (o salto de um canal americano de televisão popular para um outro de apelo mais intelectual) é apenas um veículo para reforçar a ideia de que aquela noite, para Maria, será como uma espécie de sonho que, no dia seguinte, se desbotará, fazendo com que ela retorne a sua rotina de empregada.



Alguém poderá argumentar dizendo que a obra aborda com bom humor o choque de classes e que a jornada libertadora de Maria, ao final da película (não se preocupem com spoiler, afinal de contas vocês só verão essa película se quiserem se autoflagelar), poderia servir como exemplo a ser seguido. Não, me desculpem. Mas abordagem do choque de classes com bom humor e, principalmente, com inteligência, se dá em obras mais consistentes e complexas, e que são capazes de problematizar e transformar um microcosmo particular em uma metáfora de fato para uma sociedade doente, individualista e com pouca empatia - o que podemos ver em obras atemporais e distintas, como o nacional Que Horas Ela Volta? ou no clássico O Anjo Exterminador, de Luiz Buñuel. Já em Madame, só o que vemos é o mau gosto e uma predileção para personagens rasos, hipócritas e sempre óbvios - quem é ruim é ruim o tempo todo e quem é bonzinho (ou tolinho) é da mesma forma durante as (intermináveis) uma hora e meia do filme. Ninguém tem qualquer profundidade, seja o professor de música introspectivo, seja o empresário do mundo das artes.

Aliás, pra vocês compreenderem o quão lamentável é esse filme, uma das únicas frases que Bob consegue dizer a respeito das virtudes de Maria é que ela "tem um belo traseiro". Ainda que, em outro momento, outra personagem não hesite em afirmar que Maria tem um "sotaque engraçado" - sim, ela é espanhola e, como todos os espanhóis, ela tem um sotaque engraçado (ao menos é o que conclui algum dos xenófobos insignificantes que estão no recinto). Pra não dizer que todas as piadas, diálogos e comentários são ruins, havia uma piada boa. Sim, uma! Em certo momento Anne fala para Maria dos vários espanhóis de sucesso que existem no mundo - e, entre eles, cita Pedro Almodóvar, em uma brincadeira divertida com a atriz que já integrou o elenco de oito filmes do diretor. Só que infelizmente isso é pouco para livrar a cara deste que é, seguramente, um dos piores filmes do ano.

Nota: 2,0


Um comentário:

  1. não assisti ainda! mas eles devem ter investido todas as fichas no trailer, então. porque a julgar por este, parece ser um filme onde vamos assistir a muitas críticas sociais... e a fala da empregada no final, "eu sou uma mulher, não uma empregada", corrobora para esta impressão. agora fiquei curiosa pra ver como um filme com trailer assim pode, no final das contas, ser beeem o oposto!

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