sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Disco da Semana - Franz Ferdinand (Always Ascending)

Eu mal estava no segundo ano do curso de Jornalismo quando o Franz Ferdinand lançou o seu primeiro disco - e é meio curioso pensar que já se vão quinze anos daquelas festas da Comunicação Social em que a moçada sacolejava a som de clássicos modernos como Take Me Out, This Fire e The Dark Of The Matinee. De lá para cá muitos colegas tentaram ser músicos - alguns replicando as próprias canções dos escoceses em rodas de violão constrangedoras -, outros se formaram, outros ficaram pelo caminho e mais alguns largaram tudo pra tentar a vida em outros lugar, sumindo do mapa. Só o que não mudou nesse tempo todo foi a capacidade de Alex Kapranos e companhia fazerem o povo dançar com aqueles roquinhos que vão no limite do post-punk oitentista e do rock alternativo aliado aos sintetizadores e a outras eletronices.

Sempre foi assim: as melodias certeiras, o clima divertido e efervescente de festa que vai madrugada adentro, as guitarras bem pontuadas, o baixão que se sobressai. Agora no quinto registro - intitulado Always Ascending - o quarteto dá mostras que envelheceu bem e que continua disposto a fazer a gurizada mexer o esqueleto. Isso é bom? Bom, aqueles críticos mais exigentes (bem longe do nosso caso) talvez afirmem que o grupo venha lançando, sistematicamente, álbuns pouco inventivos ou com aquele clima de "mais do mesmo" com pequenas variações aqui e ali. Mas, vem cá, tem coisa melhor do que ouvir um novo trabalho daquela banda do coração, que não seja cheio de invencionices? Excessivo demais? Que seja na medida certa para aumentar o volume durante a caminhada, no som do carro ou na festinha da Comunicação Social? (será que eles continuam fazendo?)



É nessa busca pela rock simples e direto que a banda parece dialogar ainda mais com aquilo que ela própria fez no passado - e no passado como um todo. Não é por acaso que faixas como Feel The Love Go talvez pudessem representar uma continuidade natural do grupo de canções apresentado no primeiro trabalho. Ainda assim, honrar o passado não significa ignorar o presente ou mesmo rechear a novo registro com ideias anacrônicas ou ultrapassadas. Assim, não é difícil de constatar, em cada curva do novo álbum, algum efeito levemente inovador, um refrão mais descolado (ainda), um dedilhado não tão óbvio. Ou mesmo o diálogo com outras vertentes nem sempre exploradas pelo grupo - como no caso da (levemente) psicodélica Slow Don't Kill Me Now, que consegue soar nostálgica e contemporânea na mesma medida.

Com aquele charme cativante de sempre a banda segue apostando na ironia em suas divertidas letras que versam, entre outros, sobre a fragilidade dos relacionamentos em um mundo tecnológico (Glimpse Of Love) e sobre boas escolhas que, com algum cinismo, poderiam mudar o mundo (Lois Lane). Já a melhor canção de todas, Lazy Boy, tem aquele clima davidbowiano numa ida para o espaço sideral em meio a divagações magnéticas sobre a letargia juvenil. "Quando as coisas no mundo real estão indo tão mal e há essa sensação de mal iminente, a música é o lugar para onde as pessoas procuram fugir", afirmou o baixista Bob Hardy em entrevista ao Tenho Mais Discos Que Amigos, explicando, de certa forma, essa simplicidade buscada pelo grupo - e que também tem a ver com o produtor Philippe Zdar, que já trabalhou com o Phoenix. Simples, bom, dançante e divertido.

Nota: 8,0 

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