quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Disco da Semana - Lady Gaga (Joanne)

Joanne, o álbum novo da Lady GaGa, não deixa nos duvidar da capacidade de reinvenção da artista. Um exemplo de camaleão da indústria como, notoriamente, foi David Bowie (inclusive uma das referências do novo disco), GaGa nos entrega dessa vez um registro intimista, menos suntuoso se comparado aos álbuns anteriores e totalmente focado em sua potência vocal e capacidade de composição.  O primeiro single do novo material pôde ser ouvido no início de setembro. Trata-se de Perfect Illusion, que indicava que GaGa seguiria por um novo caminho sonoro em seu quinto álbum de estúdio. Diferente do que se esperava após essa espécie de teaser, que fez com que as expectativas de todos projetassem Lady GaGa com um comeback orientado ao rock, ela veio consideravelmente mais folk e country do que se previa, muito embora a própria cantora não queira encaixar o novo material em um ou outro estilo específico.

De fato, Perfect Illusion é a música mais eletrônica do registro e a mais próxima, dentro do conjunto de canções de Joanne às músicas do disco anterior, ARTPOP (2013). Teria sido esse lançamento como lead single uma forma de atrair os olhares do mundo para o novo material? Se sim, funcionou bem. Quando saiu, a canção iniciou uma nova era pós-jazz para GaGa, que lançou em 2014, em parceria com Tony Bennett, o álbum Cheek to Cheek, totalmente voltado ao estilo. O lançamento de 2014 nos trouxe uma Lady GaGa diferente de tudo que havíamos visto vindo dela até então: menos extravagante, menos holofotes e publicidade sobre cada pequena atitude, uma imagem mais suave e mais intimismo. Se GaGa já era referida como uma artista multifacetada, o álbum em colaboração nos fez compreender a capacidade de reinvenção da artista, que faturou um Grammy Award de Best Traditional Pop Vocal Album em 2015 pelo material.


Antes de lançar Joanne a cantora também focou na carreira de atriz, participando da quinta temporada a série de televisão American Horror Story: feito que lhe rendeu um Globo de Ouro. Todos esses movimentos nos fazem perceber uma Lady GaGa muito mais madura. RedOne, do time de produtores e compositores escalados para Joanne, é um nome familiar, com quem GaGa já trabalhou diversas vezes antes. Kevin Parker, do Tame Impala, trouxe seu rock psicodélico à urgente Perfect Illusion. Beck, Emilie Haynie, Mark Ronson e BloodPop são outros nomes que assinam a produção do disco e que, com suas diferentes referências, ajudaram Lady GaGa a entregar ao público um registro bastante singular. Ainda nas colaborações, é impossível não destacar a participação de Florence Welch, do Florence + The Machine nos vocais e na composição de Hey Girl, faixa que é o único featuring do álbum. A união dos vocais de Welch e Germanotta é uma realização notável, feito pelo os qual os fãs de ambas as cantoras ansiavam há muito tempo.

Repleto de referências country e ao folk, ao cowboy e ao imaginário interiorano americano e aos Beatles, Joanne convida às histórias que GaGa conta cantando, com as músicas funcionando como sequências conectadas para o entendimento de algo maior: do álbum em si. Joanne é um disco complexo, completo, em que é possível perceber que Lady GaGa se entregou, assumindo o total controle da direção criativa e para onde deseja rumar a partir de agora. O resultado é um álbum pessoal, divisor de águas na carreira dessa GaGa performer que, de quando em quando, nos deixa sem palavras para qualificar propriamente seu trabalho.

Nota: 8,5 


Texto: Lucas Wendt

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