segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Picanha.doc - Best of Enemies

Todo mundo conhece alguém ou tem um amigo que adora palpitar sobre política nas timelines da vida. Em tempos de polarização política então, não é raro ver os ânimos esquentando em infinitas discussões em postagens no Facebook ou Twitter. Termos como "impeachment", "crise", "golpe", são utilizados incessantemente pelos "especialistas" de plantão que lutam para provar seus pontos de vista custe o que custar, o que quase nunca termina em conciliação - muitas vezes o fight rola solto, pra alegria dos que curtem ver um quebra pau pra botar lenha na fogueira.

Agora pensa: se já é difícil ter um bom argumento e convencer "meia dúzia" de seguidores no Feice a concordarem com você (ou Eu que, é preciso que se diga, nem somos lá grandes coisas em questões como política ou economia), imagina ir em cadeia nacional participar de diversos debates com alguém com idéias diametralmente opostas às suas. Tem que ter coragem, não é mesmo? E foi isso mesmo que aconteceu no ano de 1968 nos Estados Unidos, e é retratado neste documentário de 2015 intitulado Best of Enemies (Melhores Inimigos), dirigido por Robert Gordon e Morgan Neville e um dos pré-selecionados para concorrer a uma indicação ao Oscar 2016 em sua categoria.


Exemplificando: na década de 60, o canal de TV americano ABC era o último colocado em audiência. Para contornar isto, a emissora convidou o escritor e ativista político Gore Vidal, liberal, e o intelectual William J. Buckley, conservador, para uma série de 10 debates sobre política em pleno ano de campanha eleitoral que antecedeu a eleição de Richard Nixon - que posteriormente seria o centro do escândalo Watergate. Sagazes, irônicos, debochados e agressivos, os debatentes causaram frisson no país à época, levando o debate político a níveis até então inimagináveis. Se você pensa que a discussão que você teve sobre o bolsa-família ou as privatizações com aquele seu (provável ex) amigo foi "violenta", espere até ver o que ambos aprontaram aqui.

Longe de criar uma espetacularização do debate (que, diga-se de passagem, foi fundamental para alavancar a audiência de uma até então capenga ABC), o filme acaba por humanizar seus personagens, mostrando os dois lados sem assumir um posicionamento, valorizando-os e criando empatia no espectador, que testemunha uma rivalidade cujo ressentimento permaneceu até o fim de suas vidas. E é justamente este enxergar dos dois lados que tanto faz falta hoje em dia. É possível sim que aquela pessoa não seja justamente um monstro por ter tal opinião política, muito embora eu não concorde em nada com ela. E mais: vale a pena tentar vencer a todo custo uma batalha cujos efeitos, no fim das contas, serão sentidos por todos nós? Podemos dar o braço a torcer e ceder a argumentos mais coerentes que o nosso? Como podemos ver neste belíssimo filme (que está disponível no Netflix), nem mesmo as mentes mais brilhantes são capazes de ultrapassar esta barreira tão difícil.

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