quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Cinema - A Visita

De: M. Night Shyamalan. Com Olivia DeJonge, Ed Oxenbould, Kathryn Hahn, Deanna Dunagan e Peter McRobbie. Terror, EUA, 2015, 94 minutos.

Se a qualidade dos filmes dirigidos pelo indiano M. Night Shyamalan fosse apresentada em forma de gráfico, ele seria mais ou menos como no caso daquelas planilhas empresarias em que o presidente de uma companhia mostra para os seus empregados como foi que a crise chegou, fazendo com que os números caíssem vertiginosamente em um período de duas décadas. Mais ou menos como uma linha reta que inicia no topo - o que seria, no caso, O Sexto Sentido, elogiadíssimo filme de 1999 que recebeu diversas indicações ao Oscar - até chegar ao fundo do poço com o constrangedor Depois da Terra (2013). Nesse meio tempo da queda de qualidade, um interessante Corpo Fechado (2000), um médio - ainda que absolutamente hilário - Sinais (2001) e o último suspiro da "empresa" com A Vila e A Dama na Água (2006), antes da decadência total com os lamentáveis Fim dos Tempos (2008) e O Último Mestre do Ar (2010), talvez disparado o pior de todos.

Se há uma boa notícia com o recém lançado A Visita (The Visit) é que ao menos os números dessa empresa fictícia ficaram estagnados em relação ao já citado Depois da Terra, lançado anteriormente. Ou, vá lá, subiram um pouquinho. A ideia de Shyamalan com este filme era ter uma espécie de retorno as "origens", especialmente daquelas que o consagraram com a famosa obra do menininho que via gente morta. Era a ideia. Mas o simples fato de ter optado pelo (saturadíssimo) estilo de filmagem em found footage - que é aquele da câmera subjetiva, com imagens amadoras, capturadas em estilo documental e que, atualmente, tem em Atividade Paranormal a sua série mais conhecida (A Bruxa de Blair foi um dos "pioneiros") -, já se mostra uma escolha absolutamente equivocada e cansativa.




A "responsável" pelas filmagens é a jovem Becca (Olivia DeJonge), que, ao lado do irmão, Tyler (Ed Oxenbould), visitará os avós que ainda não conhecem, após a mãe (a ótima Kathryn Hahn) romper relações com a família, há quase 20 anos. Becca, uma jovem cinéfila que sonha em ser documentarista, vê no inusitado encontro com os avós, a oportunidade de realizar um filme. O que se torna a desculpa perfeita para que a câmera fique ligada o tempo todo, independentemente do movimento realizado ou do lugar em que se encontram - e, é preciso que se diga, se Becca existisse na vida real, certamente se tornaria uma excelente cineasta no futuro, dada a sua total capacidade de manter a câmera em funcionamento e com uma lógica de enquadramento, mesmo nos momentos mais agitados da película.

Quem já assistiu o trailer sabe que tem algo de muito errado com esses avós, já que eles caminham de madrugada, fazem portas ranger, vomitam, dão risadas involuntárias e geram medo mesmo em uma "prosaica" brincadeira de pega-pega matinal. Nesse sentido é claro o esforço de Shyamalan em procurar uma explicação racional para os eventos - os problemas decorrentes da idade -, algo que, se reduz em partes o impacto do suspense, ao menos gera curiosidade para as próximas ocorrências que deixarão os meninos de cabelos em pé. Mas os péssimos diálogos - o pior caso o de Tyler utilizando o nome de cantoras pop no lugar de xingamentos -, aliado a indefinição em relação ao caminho seguido pela obra (humor x terror), torna o filme uma experiência exaustiva e, em alguns momentos, até mesmo constrangedora. A famosa "surpresa" que o diretor costuma reservar para o final também pouco ajuda - e a meu ver ainda contribui para diluir qualquer expectativa quanto a um desfecho efetivamente surpreendente ou, que fosse, mais verossímil. Ao final, fica a sensação de que, em sua tentativa de retornar a O Sexto Sentido, Shyamalan apenas consegue fazer um novo Depois da Terra. E o pior: em found footage. Não foi nesse ano que as finanças da empresa melhoraram.

Nota: 2,5


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