terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Disco da Semana - Adele (25)

Seis meses foi o tempo que Adele passou trabalhando na música Hello, primeiro single do terceiro disco, intitulado 25, que foi lançado no último dia 20 de novembro. Seis meses finalizando a base instrumental, compondo os versos, acertando o refrão. "Cheguei a achar que ela não retornaria a canção para terminá-la", explicou o produtor (e também compositor), Greg Kurstin, em entrevista para a edição de novembro da revista Rolling Stone. A calma da cantora, diretamente relacionada ao tempo de execução de seu trabalho - muito distante da urgência dos dias atuais - tem muito a ver com a nova fase de Adele. Desde o lançamento do estrondoso 21, em 2011, a artista teve de superar um relacionamento conturbado (que gerou algumas das mais comoventes canções daquele trabalho) e uma cirurgia nas cordas vocais após uma hemorragia local, que poderia comprometer a sua carreira para sempre.

A falta de pressa para um novo lançamento também tem a ver com o fato de Adele ter se tornado mãe nesse meio tempo - no caso, do jovem Ângelo, fruto do seu relacionamento "muito sério", como ela garante, com o banqueiro Simon Konecki. Somam-se a todos esses fatos uma certa aversão a fama - o comparativo com Amy Winehouse lhe deixa de "cabelos em pé" (não tanto pelo estilo musical de ambas, que até guarda certa semelhança, mas pelo triste destino de sua conterrânea) - e fica ainda mais compreensível a opção por um processo mais elaborado em relação a seu mais novo registro. Se toda essa espera valeu a pena? Se levarmos em conta a (ótima) recepção do clipe de Hello, que, em menos de 48 horas após ser disponibilizado já marcava 50 milhões de visualizações em seu canal do Youtube, pode-se dizer que sim. (Hoje, o mesmo vídeo já possui mais de 550 milhões de acessos, não sendo descartada a possibilidade de recorde)



Adele tem escutado Alabama Shakes, FKA Twigs e Kanye West e, aqui ali, em cada curva sempre classuda de suas novas composições, é possível encontrar os referenciais bem de acordo com os artistas que lhe têm ocupado o tempo como ouvinte, nos últimos meses. No conjunto da obra permanece o estilo musical meio retrô-chic, que, em muitos casos, guarda semelhanças com aquele adotado por grupos românticos dos anos 80 (que hoje são escutados em rádios do segmento light). Mesmo que seja evidente o fato de suas canções receberem uma roupagem atualizada, especialmente no que se refere as camadas musicais, aos efeitos, as bases sonoras e aos loops, que nunca dão a impressão de que o som de Adele possa ser algo ultrapassado ou distante daquilo que é feito no mundo atual (e amplo) da música. Nesse sentido, não é difícil encontrar no novo trabalho referências a artistas tão distintos como Michael Jackson (Water Under the Bridge), Brandon Flowers (Love in the Dark, a propósito, a melhor música do disco), a já citada FKA Twigs (I Miss You) e até Lana Del Rey (Million Years Ago).

Ao chegar aos 25 - na verdade a britânica agora está com 27 anos - Adele volta seus olhos para o passado, como se fosse de fato uma veterana, que tem saudade de tempos que não voltam mais. Algo que pode ser percebido, de alguma forma, nas letras da maravilhosa e dançante Send My Love (To Your New Lover) - We've gotta let go of all of our ghosts/ We both know we ain't kids no more - ou mesmo na delicada s instigante When We Were Young (com a especialíssima participação do pianista Tobias Jesso Jr.) - com título autoexplicativo. Ainda que Adele garanta não ter feito um disco "dor de cotovelo", os temas românticos e um certo ar de "exorcismo" em relação ao passado de relacionamentos complicados, parecem dominar a obra - e canções como a dolorosa I Miss You, a sofisticada Remedy e a já citada Hello aparecem pra comprovar a tese. Adele amadureceu, se tornou mãe, está mais experiente. Mas uma coisa não mudou: a capacidade de fazer grandes e melodiosas canções pop. Os fãs agradecem.

Nota: 8,0

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