De: Caroline Vignal. Com Laure Calamy, Benjamin Levernhe e Olivia Côte. Comédia / Romance, França, 2021, 96 minutos.
Para não ficar para trás, Antoinette resolve fazer a única coisa possível, claro, em uma situação como essa: ir para o mesmo local em que está o amante, a esposa e a filha do casal que, pra completar o combo, é sua aluna. Durante a jornada a gente parece não saber direito o que ela pretende. Mas tudo não passa de uma boa desculpa para momentos de diversão (e de bastante vergonha alheia). No local, a protagonista é informada sobre o fato de não ser uma obrigação a travessia pelas montanhas ser feita com o burro. Mas já é tarde. Como muitos lugares para alugar no Airbnb, a condução do burro por paisagens bucólicas é parte da experiência. Que dialoga com a história do local. É assim que Antoinette é apresentada à Patrick que, as turras, será sua companhia durante vários dias. Uma inesperada companhia, aliás. Um confidente que, com suas orelhas baixas, escutará atentamente os dilemas da professora.
É claro que não é preciso ser nenhum adivinho para saber que parte da graça do filme estará na excêntrica relação de Antoinette com Patrick. Manejar um burro não é tarefa fácil. Exige paciência para minimizar as chances de que ele emperre. E aí não vai ter puxão que o faça ir adiante. Como dito no começo do texto, por mais que essa não seja assim uma obra tão profunda (ou moralista) na hora de analisar os relacionamentos, não dá pra negar que o comportamento do burrinho funcionará como uma alegoria para a própria existência de Antoinette. Qual o sentido, afinal, de uma jovem professora com a vida mais ou menos bem resolvida ir atrás de um homem casado? A coisa piora quando ela se encontra com a família e percebe, por meio de uma conversa com Eléonore, que ela não apenas sabe das traições do marido, como tem certeza de que ele jamais lhe abandonará por uma aventura. Ou seja, qual o sentido de tudo aquilo?
Em meio a encontros fortuitos com outros hóspedes, Antoinette vai se familiarizando, a cada dia que passa, com seu novo "amigo". Ela até pensa em desistir no meio do caminho, mas é instigada a permanecer. Conhece um motoqueiro com quem divide uma noite de paixão. Faz confidências ao dono de uma pousada. Se torna conhecida no local por sua inusitada "história de amor" nunca concretizada e que, ainda assim, é tratada por todos com incrível naturalidade. É, ao cabo, um filme que não julga seus personagens, ainda que coloque seu ponto. É simplesmente impossível não se afeiçoar da protagonista que, com seus olhos azuis angulares, seu comportamento ao mesmo tempo inseguro e decidido, e seu carisma irresistível, cativa a todos. A mensagem que fica é: homem casado? Talvez melhor evitar. Somente assim o burro desempacará. E, quem sabe, ali adiante a coisa pode começar a fluir melhor.
Nota: 8,0
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