De: Dean Fleischer-Camp. Com Jenny Slate, Dean Fleischer-Camp e Isabella Rossellini. Comédia / Drama / Animação, EUA, 2021, 90 minutos.
Sim, poderia ser tudo apenas bobo se não fosse o absurdo carisma do protagonista que, com sua voz infantil e claudicante, se converte no narrador involuntário de uma saborosa história sobre a importância da empatia, do senso de comunidade e da busca por superar dificuldades. Aceitando-se como peça central de um filme - que mais tarde será subido no Youtube e viralizará (aliás, experiência que tem um pé na "realidade", não porque existam conchas falantes em miniatura, mas porque Fleischer realmente produziu um curta-metragem com a graciosa figura em 2010) -, Marcel preencherá cada frame com divagações inteligentes e cheias de personalidade. Sim, aqui e ali pode faltar algum tipo de requinte, de algum apuro que seria mais típico dos "adultos", mas as palavras aqui parecem dotadas de uma sabedoria única e imprevisível. "Sabe por quê eu sorrio tanto? Por que vale a pena", teoriza Marcel em certa altura.
Enquanto assistia à animação - aliás, um prodígio da técnica que mistura vida real com as possibilidades infinitas do stop motion - pensei imediatamente no personagem Horácio da Turma da Mônica (um simpático dinossauro da Idade da Pedra que sempre parece pronto a nos fazer pensar, e sorrir, com sofisticadas pílulas de sabedoria). Muitos dos diálogos de Marcel ocorrem em formato de perguntas e respostas - aliás, ele parece ter uma resposta pra tudo, sempre a partir de sua perspectiva diminuta em comparação à vastidão do mundo. Até quando dizem que sua cabeça parece grande num comparativo com seu corpo, ele devolve um "comparado a quê?". Sim, a confiança de Marcel parece inabalável e de alguma forma, nas entrelinhas, também surge o assunto da autoaceitação. Somos seres imperfeitos, com medos, desejos, sonhos, inseguranças. E uma concha minúscula está ali para nos lembrar de todas essas questões. Filosóficas mas também engraçadas.
Há, por exemplo, um instante divertidíssimo em que Marcel solta um balão pelos ares, que desperta um cachorro da vizinha - que late sem parar. O nosso protagonista parece pasmo com aquilo tudo. "Ele vê algo verdadeiramente elegante no céu e essa é a sua reação?", questiona. Em outra sequência, Dean o leva de carro para uma jornada investigativa na tentativa de encontrar a família de seu amigo. Marcel acaba por vomitar diversas vezes - um vômito minúsculo. "Você sempre vomita no carro?", inquire ele ao motorista. A vastidão do mundo e a sua infinita curiosidade sobre ele parecem ser o que move a concha - para além do ideal de tentar se reencontrar com seus antigos familiares. A sua avó, já com alguma idade, também lhe preocupa - sua saúde pode estar debilitada. "Ela vem da garagem, por isso o sotaque", explica Marcel, como se não fosse nada. Sinceramente, é meio impossível ficar alheio. O que faz com que a gente compreenda o frenesi dos fãs que ele reúne na frente da casa, após seus vídeos viralizarem. Ainda que fãs, não necessariamente signifiquem amigos. Ou pessoas dispostas a ajudar. Mais um ensinamento.
Nota: 8,5
Nenhum comentário:
Postar um comentário