terça-feira, 17 de outubro de 2017

Pérolas da Netflix - Neve Negra (Nieve Negra)

De: Martin Hodara. Com Ricardo Darín, Leonardo Sbaraglia, Laia Costa e Dolores Fonzi. Drama / Suspense, Argentina / Espanha, 2017, 91 minutos.

Neve Negra (Nieve Negra) tem todos os elementos para um bom suspense: a ação ocorre num cenário inóspito, o clima é melancolicamente sombrio, as personagens complexas parecem guardar segredos relacionados ao passado, há uma série de reviravoltas na trama.. e ainda tem Ricardo Darín em um papel um pouco diferente, vivendo um homem recluso - quase como um ermitão - que se recusa a sair da isolada propriedade em que a família cresceu e que, agora, será vendida para um grupo de investidores canadenses - por módicos nove milhões de dólares. O incumbido de levar a notícia a Salvador (Darín), é seu irmão Marcos (Sbaraglia) que chega ao local junto com a namorada Laia (Costa), que está grávida. Na "bagagem", também carrega consigo as cinzas do pai de ambos, que faleceu na Espanha, onde o casal também vive. As cinzas deverão ser depositadas, a seu pedido, ao lado de onde está enterrado o irmão de Salvador e Marcos, morto, de forma aparentemente acidental, durante uma caçada.

Mas é evidente que nem tudo parece ser o que é, nesta que é a primeira obra dirigida por Martin Hodara. Salvador recebe Marcos e Laia com cara de poucos amigos. Suas poucas divagações envolvem metáforas sobre caçadas e o uso de armas, o que faz com que o espectador tenha a impressão de que o assassinato do irmão mais jovem da família, possa ter tido outros motivos - e convém prestar atenção nas manifestações dos três em busca de detalhes que possam solucionar o caso. As imagens em flashback, que transitam de forma fluída pela trama - perceba como as cores e o cenário se modificam naturalmente dentro da casa, quando a trama sai do presente para voltar ao passado e vice e versa -, também permitem deduzir que Salvador talvez tenha lá os seus motivos para um comportamento tão inóspito, bem ao estilo dos cenários gélidos que marcam o filme.


Não bastasse a falta de entendimento entre os irmãos, ainda há uma terceira pessoa na família: a irmã Sabrina (Fonzi) que, com problemas mentais, se mantém reclusa em uma instituição que atende pacientes com doenças neurológicas. E a venda da propriedade da família - proposta levada por Marcos a Salvador e MUITO mal recebida pelo segundo - também teria a ver com a possibilidade de levantar recursos para o tratamento da irmã. Ou será que não? E as imagens que mostram Sabrina saudável na juventude? E um pai absolutamente truculento com Salvador? Teria sido ele o assassino do próprio irmão? Sim, tudo vai se tornando mais estranho conforme a trama avança até, inevitavelmente, chegar a uma situação limite envolvendo todos.

Utilizando o pesado cenário como uma metáfora perfeita para o estado de espírito dos três protagonistas nos dias em que passam juntos - culminando em uma tenebrosa nevasca na noite em que a maior crise acontece - Hodara também é hábil no uso dos enquadramentos, que tornam palpável o sentimento de isolamento. E, se as interpretações de todos do elenco são verossímeis, a estranha escolha de Laia Costa para a namorada de Marcos (ela é quinze anos mais jovem que Leonardo Sbaraglia e, em alguns momentos, parece mais a sua filha), talvez possa ser explicada pela última cena da película - o que seria lamentável, já que isso poderia sugerir um certo machismo dos realizadores, ainda que a surpresa seja compensadora. (e vocês poderão e DEVERÃO me dizer se essa impressão procede ou não) Ainda assim, nada que afete este bom suspense, que merece ser visto na Netflix.

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