sábado, 18 de março de 2017

Disco da Semana - Real Estate (In Mind)

Poucas bandas alternativas da atualidade conseguem ter uma personalidade (ou uma identidade) tão própria quanto o Real Estate. No caso de In Mind, disco recém lançado pelos americanos de Ridgewood, Nova Jersei, bastam os acordes iniciais da graciosa e litorânea Darling - canção que abre o registro - para reconhecermos a guitarrinha marcante de Matthew Mondanile, pontuada pela bateria levemente abafada de Jackson Pollis e que, somada ao baixo de Alex Bleeker, ditam o ritmo da facilmente identificável "cozinha instrumental" - que é completada pelo tecladista Jonah Maurer e pelo vocalista Martin Courtney, que também toca guitarra. Sempre foi assim, desde o lançamento do homônimo trabalho de 2009. Ideia reforçada, depois, com a chegada dos essenciais Days (2011) e Atlas (2014), duas verdadeiras gemas - para não dizer obras-primas - do cancioneiro indie moderno.

Ouvir Real Estate é aconchegante. É suave. Macio. Faz bem pros ouvidos e pra mente. É uma banda agradável, que não agride. Os (metidos a) exigentes poderão dizer que, por isso, o quinteto possa soar excessivamente insosso, inócuo ou formulaico. Mas é justamente na economia, nas arestas bem aparadas, na ausência de excessos, que parece estar o segredo por trás da sonoridade acolhedora dos americanos. Escutar as suas melodias litorâneas, primaveris, assoviáveis ou mesmo adocicadas é mergulhar em um cenário colorido de final de tarde, em meio a natureza, ao lado das pessoas que gostamos. Experimente, hora dessas, colocar qualquer disco do Real Estate para quem não conheça o grupo - amigo, namorada, parente. Tenho absoluta certeza de que a maioria absorverá a sonoridade tão característica e afável da banda com um sorriso nos lábios.



Totalmente despreocupada em soar excessivamente inovadora ou inventiva, a banda entrega um registro que fará a alegria daqueles que já gostam de Courtney e companhia. Evidentemente, a repetição de fórmulas não significa necessariamente falta de criatividade já que, aqui e ali, em cada canto do trabalho, é possível encontrar um andamento diferente, um teclado bem sacado ou até mesmo um flerte com o rock anda roll raiz (Two Arrows), com o country (Diamond Eyes) ou com a psicodelia (Time). White Light, por sua vez, é Real Estate até o último fio de cabelo, além de ser candidatíssima a single nas rádios mais descoladas, com seu esqueminha estrofe-refrão-estrofe e sonoridade agridoce. Tudo completado pela letrinha à moda "romance juvenil" - White light in the morning/ Yellow afternoon/ Golden in the evening when you come home.

Com produção ainda mais caprichada (e limpa) do que nos caso dos garageiros registros anteriores, o presente trabalho poderá representar, ainda, uma excelente porta de entrada para aqueles ouvintes que ainda não haviam sido cativados pelo quinteto. Ainda mais se levarmos em conta a característica homogeneidade da banda - capaz de organizar as suas canções dentro de um disco, como se todas elas estivessem grudadas umas nas outras, formando uma espécie de "opereta" nostálgica, melodiosa e açucarada. Ainda que, eventualmente, os temas abordados nas canções - quase sempre reflexões irônicas e cotidianas sobre os relacionamentos - tenham, aqui e ali, a sua pitada de desolação. The birds singing/ The sun rising/ Impatiently/ As I wait for you canta Courtney na inaugural Darling, como quem clama por calmaria no coração. Uma das especialidades da banda, diga-se.

Nota: 8,6

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