Ouvir Real Estate é aconchegante. É suave. Macio. Faz bem pros ouvidos e pra mente. É uma banda agradável, que não agride. Os (metidos a) exigentes poderão dizer que, por isso, o quinteto possa soar excessivamente insosso, inócuo ou formulaico. Mas é justamente na economia, nas arestas bem aparadas, na ausência de excessos, que parece estar o segredo por trás da sonoridade acolhedora dos americanos. Escutar as suas melodias litorâneas, primaveris, assoviáveis ou mesmo adocicadas é mergulhar em um cenário colorido de final de tarde, em meio a natureza, ao lado das pessoas que gostamos. Experimente, hora dessas, colocar qualquer disco do Real Estate para quem não conheça o grupo - amigo, namorada, parente. Tenho absoluta certeza de que a maioria absorverá a sonoridade tão característica e afável da banda com um sorriso nos lábios.
Totalmente despreocupada em soar excessivamente inovadora ou inventiva, a banda entrega um registro que fará a alegria daqueles que já gostam de Courtney e companhia. Evidentemente, a repetição de fórmulas não significa necessariamente falta de criatividade já que, aqui e ali, em cada canto do trabalho, é possível encontrar um andamento diferente, um teclado bem sacado ou até mesmo um flerte com o rock anda roll raiz (Two Arrows), com o country (Diamond Eyes) ou com a psicodelia (Time). White Light, por sua vez, é Real Estate até o último fio de cabelo, além de ser candidatíssima a single nas rádios mais descoladas, com seu esqueminha estrofe-refrão-estrofe e sonoridade agridoce. Tudo completado pela letrinha à moda "romance juvenil" - White light in the morning/ Yellow afternoon/ Golden in the evening when you come home.
Com produção ainda mais caprichada (e limpa) do que nos caso dos garageiros registros anteriores, o presente trabalho poderá representar, ainda, uma excelente porta de entrada para aqueles ouvintes que ainda não haviam sido cativados pelo quinteto. Ainda mais se levarmos em conta a característica homogeneidade da banda - capaz de organizar as suas canções dentro de um disco, como se todas elas estivessem grudadas umas nas outras, formando uma espécie de "opereta" nostálgica, melodiosa e açucarada. Ainda que, eventualmente, os temas abordados nas canções - quase sempre reflexões irônicas e cotidianas sobre os relacionamentos - tenham, aqui e ali, a sua pitada de desolação. The birds singing/ The sun rising/ Impatiently/ As I wait for you canta Courtney na inaugural Darling, como quem clama por calmaria no coração. Uma das especialidades da banda, diga-se.
Nota: 8,6
Nenhum comentário:
Postar um comentário