terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Grandes Cenas do Cinema - O Sétimo Selo (Det Sjunde Inseglet)

Filme: O Sétimo Selo
Cena: Jogando xadrez com a morte

No cinema existem cenas icônicas, existem cenas muito icônicas, existem cenas super-ultra-icônicas e existe a sequência em que um cruzado joga xadrez com a morte, no clássico O Sétimo Selo (Det Sjunde Inseglet), de Ingmar Bergman. Bom, talvez não seja para tanto, já que certamente existem filmes de Hollywood com cenas tão ou mais inesquecíveis do que essa. Mas o caso é que, mesmo para quem não está tão familiarizado assim com a cinematografia do sueco - nunca óbvia, muitas vezes existencialista e hermética e ainda recheada de códigos e signos que simbolizam o medo da morte ou os questionamentos acerca da existência de Deus -, a sequência é muitas vezes lembrada. Seja pelo seu espírito iconoclasta ou mesmo pelas dezenas de paródias que se sucederam e que emulavam aquilo que se via, mas nesse caso em tom de brincadeira.


O filme se passa na Idade Média e narra a história de um cavaleiro de nome Antonius Block (Max Von Sydow), que, não bastasse o retorno das sangrentas Cruzadas - que, por si só já poderiam abalar sua fé - ainda encontra o seu povoado em ruínas por causa de um terrível surto de Peste Negra. Quando a Morte em pessoa lhe aparece, não parece haver outro destino para o cruzado que não o de bater as botas. Mas, com o objetivo de tentar salvar a sua pele, o homem propõe um desafio a dama da foice: uma partida de xadrez decidirá se Block parte definitivamente desta para uma melhor ou se ele continua no mundo dos vivos. A sequência é vista logo no início da obra-prima e é carregada de boas doses de ironia, como na cena em que, escolhidas as cores das peças de cada jogador, a Morte brinca com o fato de ter ficado com as pretas. "Bem apropriado, não acha?", pergunta.

Por mais incrível que isso possa soar, parece haver um tom de brincadeira durante toda a película. Bergman questiona os dogmas religiosos - uma tradição em seus filmes. E faz com que Block e seu "braço direito" (Gunnar Björnstrand) encontrem, por exemplo, um grupo de artistas itinerantes, que parecem simbolizar um contraponto terreno, ou mais humano, em meio a tanta descrença - especialmente para quem parece buscar algum tipo de remição. Ou mesmo para quem só encontra a desgraça e o desencanto, por ontem quer que passem os fiéis e seus cantos. A temática do medo de ver a vida chegar ao fim é outra que surge com frequência. Aliás, com tanta frequência que, no mesmo ano em que lançou O Sétimo Selo, Bergman também filmou o clássico Morangos Silvestres. Mas, poucas vezes em sua longa filmografia, esse temor ficou tão afixado na mente dos cinéfilos, como nas diversas sequências em que Block e a Morte movimentam peões, cavalos e bispos. Com a sensação de tensão ampliada pelo uso de uma fotografia levemente superexposta e que enquadra os protagonistas em uma espécie de contraplano em que os tons escuros "colidem" com os claros. O que garante, inclusive, um certo tom expressionista para a película - claramente inspirada em obras alemãs dos anos 20.

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