domingo, 4 de dezembro de 2016

Disco da Semana - The Weeknd (Starboy)

Quando The Hills desbancou Can't Feel My Face do topo das paradas, no final do ano passado, Abel Tesfaye - o nome por trás do The Weeknd - se tornou apenas o décimo segundo artista da história a alcançar o feito de ter faixas seguidas entre as mais tocadas nas programações das rádios mais descoladas do mundo. Um seletíssimo grupo em que inclui, por exemplo, Elvis Presley e os Beatles. Este fato ilustra bem a comoção causada no mundo todo com o lançamento de Beauty Behind the Madness, no ano passado, que conquistou crítica e público, aparecendo em listas de melhores do ano - como foi o caso aqui no Picanha. Mas quem achou que o sucesso ia acomodar o artista - que talvez preferisse curtir a fama "repentina" após algumas mixtapes e um álbum que trafegavam bem no underground, mas não encontravam ser espaço junto ao grande público -, se enganou, com o anúncio, há cerca de dois meses, de um novo registro, o agora recém lançado Starboy.

E não bastasse a produtividade do cantor - capaz de lançar dois discos em um intervalo de cerca de um ano - o novo registro ainda vem carregado com 18 músicas que representam um tempo total de duração de uma hora e oito minutos de audição. O que, invariavelmente, pode tornar a apreciação do registro um tanto quanto exaustiva, especialmente para aqueles ouvintes que preferem muito mais as playlists prontas que espalham canções de diversos artistas em uma mesma sequência, do que aqueles que se aventuram por ouvir um trabalho completo deste ou daquele artista. Mas aqueles que mergulharem de cabeça no novo disco do The Weeknd encontrarão aquilo que Abel Tesfaye sabe fazer de melhor: um soft pop com um pé no R&B, no hip hop e na música eletrônica, com letras absolutamente confessionais envolvendo noitadas regadas a drogas pesadas, muito sexo e outros tipos de subversões.


Se em Beauty Behind The Madness a atmosfera permanentemente soturna de algumas composições as transformavam em verdadeiros hinos desencantados sobre a juventude hedonista e libertina, a engenharia ainda mais pop do atual registro torna as canções um produto fácil e ideal para eventuais neófitos. Nesse sentido, basta comparar por exemplo músicas como Often, Acquainted e Earned It - que foi trilha do filme Cinquenta Tons de Cinza -, que, a despeito de sua arquitetura classuda apresentavam em cada curva um ar sorumbático e arrastado, entre o sexy e o misterioso e que certamente exigiam uma atenção a mais para que cada entalhe da produção seja melhor percebido. Por outro lado, a exceção da esteticamente curiosa e agressiva False Alarm, o presente registro parece constituir-se em um conjunto essencialmente pop, ainda que a presença de sintetizadores, autotunes e outros efeitos afastem o artista de comparações com o ídolo Michael Jackson - o que pode ser percebido em gemas maravilhosas como True Colors, Secrets, Love to Lay, Attention e A Lonely Night.

As parcerias com Daft Punk (Starboy e I Feel It Coming), Lana Del Rey (Stargirl Interlude), Future (All I Know) e Kendrick Lamar (Sidewalks) também servem para dimensionar a importância que tem Tesfaye no mundo da música, na atualidade. Sempre sofisticado nas escolhas sonoras o disco não procura esconder verdades sobre o ainda jovem cantor (hoje, com 26 anos), que, na adolescência em terras canadenses - seu País de origem na verdade é a Etiópia - já entrava em contato com drogas pesadas e com a convivência com mulheres mais velhas. "Nunca precisei me desintoxicar nem nada disso, mas era viciado no sentido de 'Caralho, não quero passar esse dia sem ficar chapado'", chegou a afirmar em entrevista a Revista Rolling Stone, sobre a infância em um bairro de Toronto. O resultado destas vivências pode ser percebido nas suas músicas: confessionais, íntimas e que refletem uma realidade quase que exclusiva de um artista (ainda) em formação.

Nota: 7,6

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