quarta-feira, 13 de maio de 2015

Disco da Semana - Blur (The Magic Whip)

Existem algumas bandas que, ao anunciarem um novo álbum após determinado tempo de hiato, geram mais comentários, expectativas e falatório no processo que envolve o "antes" e o "durante" do que no "depois". Foi o caso do Blur quando afirmou, ainda no ano passado, que estava trabalhando em seu oitavo registro, que chegou ao mercado no final de abril sob o nome de The Magic Whip. O Blur, é preciso que se diga, é uma das bandas da minha vida. Passei a pós-adolescência escutando canções de discos como Parklife, The Great Escape e 13. Muitas delas se mantém até hoje como favoritas. Eram músicas que me faziam instalar a bunda no sofá de casa, nas tardes do final dos anos 90, apenas para aguardar a exibição de vídeos em programas como Gás Total ou Disk, da finada MTV.

Assim sendo, é preciso admitir que é difícil uma resenha isenta ou livre de qualquer inclinação, mais ou menos como faz o apaixonado comentarista esportivo, que não consegue esconder a seu amor pelo clube que está em campo. Salvo se o disco fosse um lixo pedante ou pretensioso, daqueles intragáveis ou exasperantes, a minha tendência sempre seria a de valorizar o processo criativo (e põe criativo nisso) de Damon Albarn & companhia. Albarn no ano passado lançou um belo disco solo - quem ainda não escutou o Everyday Robots, fica como dica para a dobradinha discográfica. As fotos no site do Gorillaz dão indícios de que vem por aí material novo também desse grupo. Então, minimamente, acomodado o cantor e compositor inglês não é já que, todos sabemos, ele não precisa provar nada a ninguém.


Ainda assim, Albarn saiu da zona de conforto e lançou, com seu grupo, um disco que não faria feio em meados dos anos 90, se surgisse entre o Modern Life is Rubish e o Parklife, por exemplo. Ainda que a inspiração seja oriental - o trabalho foi gravado em um estúdio em Honk Kong - estão lá, novamente, um apanhado de canções que falam sobre as angústias do homem moderno, a sua relação com a tecnologia, o vazio existencial das noites em família, o caos urbano, o individualismo, a rotina do trabalho, a utilização de remédios para suprir todos os tipos de carência, os sonhos esfacelados, a necessidade de aprovação pelos demais. Poucas bandas conseguiram, nos anos 90, tratar de temas que seriam hoje tão atuais. E o mais legal é que o mesmo diálogo está lá, em canções recheadas de bons refrões, ganchos e instrumental alinhado com aquilo que se faz nos dias de hoje.

Alguém poderá dizer: é mais do mesmo. Oras, o Blur não lançava nada de novo desde o também ótimo Think Thank, de 2003. Tudo o que os fãs aguardavam, ansiosamente, era um disco com ar renovado, mas para curtir aquela banda que sempre conheceram. Lonesome Street - elogiada até mesmo por Liam Gallagher do Oasis (um dos reconhecidos desafetos de Albarn e seus comparsas), como possível música do ano -, tem um refrão tão grudento e um instrumental tão marcante que, bom, talvez Liam não esteja tão errado. Outras gemas como Go Out - desafio você a não ficar com o papapapapa na cabeça depois de duas audições -,  Thought I Was a Spaceman, There are to Many of Us (a melhor de todas), My Terracota Heart, Ghost Ship e Pyongyang, também entregam o que de melhor o Blur sabe fazer: grandes canções. Que acertam em cheio no coração de quem gosta de boa música. Como o comentarista esportivo ali de cima: fica a torcida por mais.

Nota: 8,0

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