De: Sharon Maguire. Com Renée Zellweger, Hugh Grant, Colin Firth, Gemma Jones e Jim Broadbent. Comédia romântica, Reino Unido / EUA / França / Irlanda, 2001, 97 minutos.
Mesmo tendo sido lançado há apenas 20 anos - o aniversário foi agora em abril -, é preciso admitir: O Diário de Bridget Jones (Bridget Jones's Diary) envelheceu muito mal. Aliás, chega a impressionar como podiam ser aceitáveis piadas bastante machistas e flagrantemente gordofóbicas como aquelas que assistimos na obra estrelada por Renée Zellweger. Alguns instantes, como os que envolvem sequências de assédio moral (e sexual) na editora em em que a protagonista trabalha, beiram o constrangimento (caso daqueles que envolvem um colega esquisitão de meia idade que tem uma predileção por olhar para os seios de Bridget, independente do teor da conversa entre ambos). Enfim, duas décadas se passaram. E com o devido distanciamento e reduzindo um pouco a régua das exigências no que diz respeito ao politicamente correto, é possível se divertir bastante com o filme dirigido por Sharon Maguire e que toma como base o livro de Helen Fielding.
Afinal, trata-se ao cabo de uma comédia romântica, com todas as suas idas e vindas, incertezas, personagens inseguras - as femininas, inescapavelmente atribuindo a sua felicidade a presença de um namorado/marido -, arcos narrativos bem arredondados e aquele final feliz em que o casal central se beija, após alguma hesitação, enquanto a câmera se afasta e a trilha sonora sobe. Aliás, sobre a trilha sonora, ela é um capítulo a parte e respeita a tradição do estilo, ao valorizar o cancioneiro antigo como forma de dar um caráter nostálgico e eventualmente kitsch à narrativa. Não por acaso, em uma das primeiras grandes sequências da película, Bridget surge solitária e um tanto neurótica, após ter sido humilhada na festa de Natal da família. Ao som da breguíssima All By Myself, entoada por Jamie O'Neal, a protagonista resolve criar o famoso diário, onde abandonará as músicas de FM light, os cigarros e os quilos a mais, na intenção de surgir como uma nova mulher: mais magra, mais confiante, mais interessante (ou, ao menos, menos desengonçada).
É dessa forma que ela atrai a atenção do chefe cafajeste Daniel Cleaver (Hugh Grant), com quem tem um caso. Enquanto canções diversas, de artistas como Sheryl Crow (Kiss That Girl), Aretha Franklin (Respect), Diana Ross (Ain't No Mountain High Enough) e The Pretenders (Don't Get Me Wrong) dão o tom da narrativa, Bridget aparece oxigenada, vivendo uma vida de sonho. Até o momento em que ela percebe que o candidato a príncipe encantado não era aquela coisa toda: enquanto ela perde a confiança no, agora, ex-chefe (e ex-amante) - que é contragolpeado em uma das melhores sequências, e que culmina numa gostosíssima sequência ao som de I'm Every Woman, de Chaka Khan -, a protagonista se reaproxima, meio que involuntariamente, de Mark Darcy, o amigo de infância responsável pela humilhação na citada festa de Natal. Aliás, Darcy surgirá o tempo todo, em tudo quanto é lugar, e não é preciso ser nenhum adivinho pra entender onde esse vai e vem dos dois vai terminar.
Nesse sentido, O Diário de Bridget Jones é a construção clássica da comédia romântica por excelência, com um sem fim de reviravoltas que chegam a deixar o espectador em dúvidas sobre a possibilidade de que se sobressaia algum tipo de amor verdadeiro, ao final do filme. Divertida, a película utiliza o seu elenco carismático para entregar sequências que beiram o delírio nonsense - como aquela em que Darcy e Cleaver "duelam" por sua amada (o o que ocorre ao som de uma versão oxigenada de It's Raining Men, cantada por Geri Halliwell -, para no instante nos inundar de amor com uma sequência bastante romântica que ocorre ao som da graciosa Out Of Reach da britânica Gabrielle. Todo esse combo funcionou tão direitinho à época que rendeu duas continuações, que utilizaram o mesmo expediente musical: Bridget Jones No Limite da Razão (2004) e O Bebê de Bridget Jones (2016).
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