terça-feira, 11 de maio de 2021

Cinema - Anônimo (Nobody)

De: Ilya Naishuller. Com Bob Odenkirk, Connie Nielsen, Aleksei Serebryakov e Christopher Lloyd. Ação, EUA, 2021, 92 minutos.

Anônimo (Nobody) é o tipo de obra que me faz lembrar os motivos de eu não gostar tanto assim de filmes de ação. Va lá, talvez eu seja apenas um tiozão chato, mas ter de tolerar, em pleno ano de 2021, uma película abertamente armamentista, que ainda faz algum tipo de elogio à cultura da violência como uma espécie de compensação à masculinidade frágil é de doer. E esse aqui ainda faz um negócio pior, que é dar uma roupagem meio moderninha, com direito à Bob Odenkirk como protagonista, o que supostamente conferiria uma aura mais cool ao projeto. O que na realidade só torna o combo ainda mais maquiavélico. E confesso que fui atrás do filme após ter visto algumas críticas meio positivas e admito que o começo da narrativa me deixou animado - especialmente quando a rotina ordinária de Hutch (Odenkirk) é apresentada por meio de uma montagem engraçada, que dá conta do quão repetitiva é a sua existência do homem, que tem como uma das emoções da semana levar o lixo para a rua (com atraso, claro).

Na realidade a sequência inicial serve pra nos mostrar o quão sem graça é a sua vida: a esposa é distante, os filhos ainda mais e o trabalho em uma companhia metalúrgica não parece muito empolgante. É aquela rotina sem muita novidade, típica do americano médio que tem uma vidinha estável, sem maiores preocupações. Só que tudo muda quando, numa noite, Hutch se depara com bandidos tentando invadir a sua residência. Ao interpelá-los, o protagonista não aposta na violência: consegue dominar a dupla de assaltantes, tirando-os de sua casa sem assassinar ninguém. Sem matar. Sem acreditar que, necessariamente, bandido bom tenha que ser bandido morto. Só que daí o que o filme faz? Nos faz acreditar que essa atitude foi a errada! "Como assim tu permite que meliantes invadam a tua propriedade, ameacem a tua família e tu não faz nada?", passa a ser a cobrança social do entorno, meio que em uníssono. Do irmão panaca, do pai veterano de guerra, da esposa que, agora, parece ter ainda menos tesão por ele, do filho que o tem apenas como um frouxo. 

Sim, por não ter sido o machão babaca que provavelmente causaria uma tragédia na vida real, Hutch passa a ser mal visto pelo contexto social em que vive. Os vizinhos tiram sarro. Os colegas de trabalho o têm como um homem com "h" minúsculo. E quando eu penso que a obra do diretor Ilya Naishuler vai evoluir para mostrar para o espectador que, vejam bem, violência gera violência e isso aqui não é um troço tão legal assim, especialmente em um mundo polarizado, com boa parte da população mundial sendo armada pra uma guerra que não existe no mundo real (no Brasil a ideia é combater o comunismo, por exemplo), a película avança para nos entregar um Hutch atormentado, que encontrará no banho de sangue a única solução para os seus problemas. Cada vez mais pressionado por não ter resolvido a pendenga com os bandidos de forma violenta, o protagonista canalizará seu ódio em um grupo aleatório de sujeitos babacas em uma sequência dentro de um ônibus.

Só que o resultado dessa atitude será apenas a ponta do iceberg quando ele descobrir que, dentro do coletivo, havia integrantes da máfia russa (sim, acreditem, máfia RUSSA) que, agora, querem dar cabo da sua vida, de sua família e de todo o entorno. O que gerará uma caçada de gato e rato que deixará em êxtase os adeptos de filmes em que a variedade de tipos de armamentos se empilham na tela, ao passo que a testosterona meio confusa se avoluma na mesma intensidade em que o número e balas é disparada por todos aqueles que assistimos. Chega um ponto em que, mesmo com apenas uma hora e meia, o filme se torna meio interminável. Todo mundo está apenas se matando, atirando a esmo - entre eles o pai de Hutch, David (vivido por Christopher Lloyd, que saiu da aposentadoria para se "divertir" nesse projeto estapafúrdio). Mas eu volto a dizer: é provável que o aborrecido seja eu. O público tem adorado a obra que tem um tipo de violência meio estilizada à moda de um Guy Ritchie, mas sem um pingo do carisma do diretor de Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes (1998). Sem arredar pé, o filme se encerra com um close de um arsenal de armas, enquanto pai e filho fogem do cenário de devastação que é deixado pra trás. Enquanto a plateia provavelmente urra de satisfação. São tempos sombrios. E filmes como Anônimo apenas ampliam a sensação de desamparo, quando percebemos que a solução para a questão da segurança pública parece vir do lugar errado. Foi mal, pessoal. Não rolou.

Nota: 2,0

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