De: John Carpenter. Com Roddy Piper, Keith David e Raymond St. Jacques. Ficção científica / Ação / Terror, EUA, 1988, 93 minutos.
É relativamente popular a história da primeira experiência com mensagens subliminares que se tem conhecimento. O ano era 1957 e o publicitário James Vicary resolveu comprovar a eficácia desse tipo propaganda ao inserir, durante uma exibição de cinema na cidade de Nova Jersey, as frases Drink Coke e Eat Popcorn durante a projeção de um filme. O resultado foi o aumento de 57,7% das vendas de pipocas e de 18,1% nas de Coca Cola, na saída da sessão. Subliminares são as mensagens que não são percebidas de forma consciente. No caso de Vicary, a exposição durante o filme ocorreu por meio de frames de 0,00033 segundos - algo completamente imperceptível pelo olho, mas que é capaz de atingir em cheio o subconsciente. Mas, e se algo tão poderoso assim fosse utilizado pelo Estado, por corporações ou por outros grupos para manipular a população? E se estivéssemos sendo bombardeados por esse tipo de mensagem o tempo todo, sem nem perceber?
De alguma forma é isso que propõe o divertidamente trash Eles Vivem (They Live), obra do diretor John Carpenter que finalmente está disponível no catálogo da Netflix. Nome por trás de clássicos cult como O Enigma de Outro Mundo (1982) e Os Aventureiros do Bairro Proibido (1986) Carpenter imagina aqui uma mistureba que faz jus ao tipo de ficção científica exoticamente kitsch que lhe tornou famoso. Na trama, John Nada (Roddy Piper) é o típico trabalhador braçal que chega a Los Angeles para se tornar operário da construção civil. Não demora para que uma excêntrica Igreja, que fica do outro lado da rua, comece a chamar a atenção pela curiosa movimentação do entorno. Tudo piora após um ato de violenta repressão policial, que destroi um quarteirão inteiro - inclusive a citada Igreja. Em meio ao caos, Nada encontra uma caixa de óculos escuros que parecem bem convencionais. Ao menos até o momento em que ele resolve colocá-los.
E é aí que ele perceberá que se trata de óculos especiais, que lhe permitem perceber que estamos cercados por centenas de criaturas alienígenas que se misturam em meio aos humanos, vivendo normalmente. Pior que isso: por todo o lado espalham palavras de ordem - Obedeça!, Conforme-se!, Compre!, Assista TV!, Não questione! -, que surgem por trás de propagandas em prédios, em outdoors, em meio às revistas ou em painéis publicitários. Nenhuma delas percebida num nível de consciência - tudo subliminar, sem que ninguém possa se defender. Mas quem estaria por trás de tal conspiração? E qual seria o objetivo disso tudo? É o que Nada vai tentar descobrir, enquanto foge de aliens fantasiados de humanos, briga com alienados que não percebem o que ocorre no entorno (a pancadaria beira o delírio, em alguns momentos) e mergulha num caos distópico que envolve conglomerados de mídia, representantes do Governo e, claro, como não poderia deixar de ser, a elite dos Estados Unidos.
Ao lado do amigo Frank (Keith David), Nada se envolverá com um grupo de resistência - tido como subversivo, terrorista e comunista (como não?) pela polícia, enquanto se empenha em elucidar as intenções dos alienígenas que já parecem bem adaptados a vida terrestre. Sim, mais de 30 anos depois de seu lançamento, Eles Vivem pode soar hoje meio ultrapassado, com seus efeitos especiais grosseiros, interpretações caricatas e outros exageros - fora os diálogos que, em alguns momentos, parecem implausíveis mesmo para um terror de baixo orçamento. Ainda assim a atmosfera climática dos anos 80, que se junta a uma trilha sonora persistente, sinuosa e tecnológica e a uma fotografia propositalmente amarelada, melancólica, dá o tom para uma narrativa que permanece mais do que atual. A ficção científica, afinal de contas, é uma forma de imaginarmos o futuro tomando por base o presente. E nesse sentido, essa pequena joia B acerta em cheio.
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