Se o uso do looping temporal não chega a ser uma ideia exatamente original em cinema - um alô para Feitiço do Tempo (1993) -, o uso do recurso como crítica ao racismo estrutural que persiste em nossa sociedade, é mais do que bem-vindo. Na trama do curta-metragem Dois Estranhos (Two Distant Strangers), o rapper Joey Bada$$ é Carter, um desenhista que está voltando para casa após um encontro e é abordado por um policial (Andrew Howard) que confunde o seu cigarro com maconha, o que o faz reagir com truculência. Sendo negro, Carter acaba morto após uma ação policial desastrosa (o típico episódio que alguns veículos de imprensa ainda insistem em chamar de "caso isolado"). Só que quando ele morre, ele acorda na mesma manhã, instantes antes da tragédia que lhe tira a vida. Pior, não importa o que ele faça para tentar modificar o seu destino, ele vai ser assassinado covardemente. Sim, negros morrem todos os dias. Gratuitamente. Pelas mãos daqueles que deveriam proteger os cidadãos. O curta disponível na Netflix e um dos indicados ao Oscar em sua categoria (aliás, é o favorito) nos lembra disso, com um toque de fantasia que não retira o impacto do que assistimos. Vale cada segundo.
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