De: J. Blakeson. Com Rosamund Pike, Dianne Wiest, Peter Dinklage, Elza Gonzalez e Alicia Witt. Suspense / Comédia, EUA, 2020, 118 minutos.
A despeito do hype preciso ser sincero: não consegui me conectar com esse Eu Me Importo (I Care a Lot) - uma das novidades da semana na Netflix. Sério, não rolou. Não deu mesmo. Aliás, eu tenho um sério problema com aqueles filmes que parecem querer misturar Guy Ritchie com Irmãos Coen de uma forma meio forçada: eu pego ranço já na origem. Aqui, a história rocambolesca - por mais que a premissa até seja divertida - não emplaca. A farsa soa apenas absurda. As situações se tornam apenas extravagantes. O senso de humor é difuso. E as interpretações de praticamente todo o elenco, de quebra, ainda são constrangedoras, beirando a canastrice. Em linhas gerais a obra é quase uma alucinação que se pretende um suspense de "máfia" com boas doses de humor negro. Só que o problema é que você não se assombra - como seria esperado em um thriller - e muito menos dá risada. Aliás, a obra gera um efeito ainda pior no cinéfilo, que é a indiferença: a gente apenas torce pra que tudo acabe logo.
Quem me acompanha aqui no Picanha sabe que eu dificilmente "pego pesado" nas resenhas: sou apenas um jornalista que gosta de cinema, metido a ter um site pra escrever sobre as obras que assisto. Aliás, não são poucos os textos em que, inclusive, tento fazer algum tipo de defesa àquelas películas não tão bem quistas. Mas o caso é que no filme do diretor J. Blakeson (do fraco A 5ª Onda) não há muita salvação. Pra vocês terem ideia, a trilha sonora é ruim. É invasiva, exagerada. Não parece se comunicar decentemente com a narrativa. Às vezes a impressão é a de estarmos assistindo algum tipo de peça publicitária de alguma empresa da área de tecnologia. Até detalhes como o figurino das personagens parecem pensados à moda "miguelão": sequer há uma lógica no estilo de roupas usado, por exemplo, pela protagonista vivida pela Rosamund Pike, que a meu ver não consegue transmitir o suposto poder que ela deveria emanar TAMBÉM pelas suas vestes.
Na trama, Pike é Marla Grayson, uma espécie de trambiqueira que trabalha como guardiã legal de idosos que não podem se cuidar sozinhos. Na realidade se trata de um golpe que ela aplica com o auxílio da namorada Fran (Elza Gonzalez) e da médica dra. Karen (Alicia Witt), que repassa ao Estado os casos desses pacientes - de preferência velhinhos com bastante dinheiro. Uma vez assumida a condição de cuidadora, a picareta organiza todo um sistema em que se apodera dos bens dos idosos, tudo com o aval jurídico, impedindo inclusive, em muitos casos, os próprios familiares de poderem ver as "vítimas". E quando a aposentada de cerca de 70 anos Jennifer Peterson (Dianne Wiest) surge na mira das trapaceiras, ela parece o alvo perfeito: sem marido, sem filhos e com um caso de demência em estágio inicial. Mas o problema é que Jennifer não é o que aparenta: com um passado nebuloso (e criminoso) a velhinha se tornará a antagonista perfeita nesse cabo de guerra entre as duas, com direito a ligações com a Máfia Russa e com crimes diversos como falsificação, roubo e evasão de divisas.
E eu vou ser sincero novamente com vocês: quando vi a trama e as primeiras resenhas (algumas positivas) para o filme, eu fiquei bastante empolgado. Mas a forçação em tudo me jogou lá pra baixo: a indecisão em ser um filme de comédia ou uma obra policialesca - ainda por cima com ZERO charme e carisma -, ajuda a colocar a experiência a perder. A gente não consegue gargalhar, por exemplo, em uma sequência em que Peter Dinklage surge seminu ouvindo música ambiental enquanto se exercita com argolas. Assim como não nos assombramos quando alguma das personagens é atacada por algum mafioso. Isso sem falar no auge do diálogo caricato, quando Pike vira pra sua antagonista para proferir o indefectível "eu nunca perco" em uma discussão. [ALERTA DE SPOILER]: E é ao adotar um desfecho meio O Pagamento Final (1993) - em que um sujeito aleatório em aparição episódica surge no final para assassinar a protagonista à moda Benny Blanco -, que o sentimento fica ainda menos redentor. Fica parecendo aquela coisa meio Deus Ex-Machina de quem não sabia direito como concluir a história. Pra mim foi a mais completa decepção. Em um filme que eu esperava muito mais.
Nota: 2,5
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