quinta-feira, 14 de março de 2019

Pérolas da Netflix - Paddleton (Paddleton)

De: Alexandre Lehmann. Com Mark Duplass, Ray Romano e Marguerite Moreau. Comédia dramática, EUA, 2019, 89 minutos.

Há um novo nicho em Hollywood em que há filmes bons, como 50% (2011), e outros nem tanto, caso de Tá Rindo do Quê? (2009): o das comédias dramáticas em que uma das personagens convive com alguma severa doença (muito provavelmente o câncer). Paddleton (Paddleton) é mais um desses exemplares. E trata a doença sem o aspecto romanticamente solene de outras obras (ainda que não a ignore, claro). Na trama, Mark Duplass e Ray Romano vivem Michael e Andy, dois vizinhos que se têm como melhores amigos. Quando o primeiro é diagnosticado com um câncer terminal no estômago, faz um pedido ao segundo: ajudá-lo a morrer antes que a doença se torne profundamente devastadora, com tratamento cheios de efeitos colaterais dilacerantes, entre outros. Sim, ele quer ajuda para morrer. E um filme que trata com naturalidade o tema da eutanásia já é digno de nota.

Em geral Paddleton é um filme gostoso de ver, mas não inesquecível. Faz lembrar aqueles exemplares autorais do cinema alternativo que, eventualmente, concorrem no Festival de Sundance e que se ocupam muito mais com o naturalismo e a verossimilhança do que com explosões e efeitos especiais. E nesse ponto a obra do diretor Alexandre Lehmann (do belo Blue Jay, de 2016) acerta em cheio. Por se tratar de uma película sobre amizade coloca Michael e Andy praticamente o tempo todo juntos na tela, seja jogando o excêntrico jogo do título original, seja assistindo antigos filmes de kung fu na TV, ou ainda fazendo charadas um com ou outro (como na divertida e decisiva parte em que Andy pergunta ao amigo quantos variedades de animais Moisés levou para a arca no conhecido episódio bíblico).


E há ainda os diálogos, eventualmente ambíguos que, confesso, me fizeram pensar sobre o fato de que talvez uma tragédia ainda maior do que a morte (se é que ela é possível), talvez seja a de viver a vida negando aquilo que se é em essência. Ambos são homens solitários, de meia idade (talvez já próximos dos 50 anos), mas pouco se sabe sobre os seus passados - sendo a única referência a isto o momento em que Michael revela a Andy que já foi casado. "Sim, durante um ano e meio", explica. O mundo é povoado por pessoas com suas manias, eventualmente excêntricas, solitárias ou não, e que estão buscando a felicidade. Em uma das grandes cenas dessa pequena película, ambos os amigos revelam o seu amor um ao outro: sem piadas homofóbicas, encarando a sequência com seriedade e deixando margem para inferências a respeito de opções sexuais, mas sem traumas.

Equilibrando sequências nonsense, como aquela em que a dupla discute se tomaria a própria urina ou não, caso ficassem perdidos no meio do nada, sem gasolina, com outras mais tensas, como aquela em que Michael acha que Andy está morto, a película tem estrutura simples, passa rapidinha e nos faz ficar pensando, ao final, sobre o poder da amizade e a importância de estarmos ao lado daqueles que, de fato, amamos. Vendida como comédia, é o tipo da obra que te fará muito mais chorar, do que sorrir. No jogo de paddleton "da vida", muito provavelmente será necessário rebater a bolinha uma boa dezena de vezes para finalmente encontrar o local certo e pontuar. Assim, será com os amigos verdadeiros, que certamente permanecerão após muitas raquetadas em vão em direção a parede.

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