quarta-feira, 6 de março de 2019

Cinema - Calmaria (Serenity)

De: Steven Knight. Com Matthew McConaughey, Anne Hathaway, Diane Lane, Djimon Hounsou e Jason Clarke. Suspense / Drama, EUA, 2018, 107 minutos.

É simplesmente inacreditável que atores oscarizados como o Matthew McConaughey e a Anne Hathaway tenham topado participar de um filme tão sem pé nem cabeça como esse recém lançado Calmaria (Serenity). Eu só posso acreditar em um polpudo cachê, ou na crença de que o diretor Steven Knight pudesse repetir o relativo sucesso alcançado com Locke (2013), seu vigoroso projeto anterior. Mas aqui absolutamente NADA funciona e a obra chega a irritar pela péssima execução de uma ideia que talvez não fosse tão estapafúrdia, caso não ofendesse tanto a inteligência do espectador. Na trama McConaughey é Baker Dill, um pescador de uma pequena ilha litorânea (de nome Plymouth) que ganha a vida com seu ofício, mas também conduzindo turistas em alto-mar para que estes possam viver a experiência de pescar grandes peixes em uma pequena embarcação.

Em seu íntimo pretende pescar - ao lado do parceiro de empreitadas Duke (Djimon Hounsou) - um atum de proporções gigantescas, que os moradores locais garantem existir apenas na cabeça de Baker. Mas tudo vai mudar quando chegar à ilha a antiga esposa de Baker, Karen (Anne Hathaway), que lhe fará uma proposta pra lá de indecente: dar cabo de seu atual marido, o misógino Frank (Jason Clarke), levando-o para o alto-mar e simulando um acidente com ataque de tubarões e afogamento. Karen pretende pagar um polpudo valor para que o ex realize o seu projeto, com a desculpa de sofrer maus tratos e toda a sorte de violências físicas e psicológicas - que se estendem ao filho do casal. É tudo meio rocambolesco, com trilha sonora forçada, suspense esquisito, interpretações cheias de caras e bocas dos atores (especialmente Hathaway) e reviravoltas inacreditavelmente toscas.


É um filme que poderia ser uma comédia, mas que se leva muito a sério para isso. E que piora MUITO quando uma revelação envolvendo o filho de Baker e Karen transforma Calmaria em uma episódio torto de Black Mirror. E se, como suspense, a obra já não funcionava, como uma espécie de ficção científica metafísica, que discute os limites da tecnologia e da inteligência artificial (sim, pasme), a película cairá ainda mais se tornando uma maçaroca confusa e arrastada na mesma proporção em seu terço final. E tudo isso com um agravante: a gente não tem simpatia por NENHUMA das personagens que vemos em tela. E algumas delas são totalmente mal-aproveitadas, como é o caso da sempre elegante Diane Lane, que surge no filme como uma espécie de "amiga para momentos íntimos",, de Baker, mas sem muita lógica de definição.

Com várias falhas em seu andamento - cheio de irregularidades, como se tudo ocorresse aos tropicões - o filme ainda peca por não aprofundar absolutamente nenhum dos debates a que se propõe (não por acaso uma discussão mais ampla sobre violência doméstica, por exemplo, certamente oxigenaria a obra). O mesmo vale para o aspecto mais enigmático de sua temática, que o tempo todo parece raso e nunca verossímil ou complexo. Tendo como um de seus únicos méritos os cenários e as paisagens, com belas tomadas aéreas das águas e da ilha em si, Calmaria é a prova de que nunca é bom tentar abraçar tudo ao mesmo tempo. Ao pretender fazer ao mesmo tempo um drama, um suspense, um noir policial e uma ficção científica, Knight chega bem perto de fazer uma patética comédia. Mas o caso é que é necessário fazer rir para ser comédia. E a única risada que a gente dá assistindo a esse desastre é de constrangimento.

Nota: 2,5

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