terça-feira, 24 de agosto de 2021

Novidades em Streaming - An American Pickle

De: Brandon Trost. Com Seth Rogen, Sarah Snook, Carol Leifer e Betsy Sodaro. Comédia, EUA, 2020, 89 minutos.

Devo confessar a vocês que foi a trama excêntrica de An American Pickle aquilo que me atraiu para essa comédia bobagenta da HBO Max. E o melhor de tudo: não me arrependi! E olha que aqui está falando um sujeito que já anda bastante saturado daquele humor meio "mangolão" que costuma ter o Seth Rogen como protagonista. Mas aqui o negócio funciona direitinho - especialmente no que diz respeito aos contrastes existentes entre um judeu do começo do século 20, que precisa (re)aprender a viver no universo tecnológico (e recheado de extremismos) dos dias de hoje. A narrativa nos apresenta a um certo Herschel Greenbaum (Rogen), um operário que migra para os Estados Unidos em busca do sonho americano, depois de os cossacos destruírem o vilarejo em que ele morava, em algum lugar da Rússia Oriental. Tudo corria relativamente bem na fábrica de pepinos em conservas que ele trabalhava até o dia em que, acidentalmente, ele cai em um tanque de picles, permanecendo na salmoura por... 100 anos!

Sim, ninguém percebe o acidente, já que a fábrica é lacrada ainda em 1919 por um problema envolvendo o excesso de ratos no local. Só que 100 anos depois uma dupla de meninos descobre o corpo do homem. Que não apenas está vivinho da silva, como não envelheceu um "milímetro" sequer. Sem se ocupar demais com a curiosidade natural que o fato poderia gerar na comunidade científica - e na imprensa sensacionalista em geral -, o filme do diretor Brandon Trost pula estas etapas indo direto para a parte em que ele encontra um de seus descendentes - no caso o bisneto Ben Greenbaum (também interpretado por Rogen), que trabalha como desenvolvedor de aplicativos. É óbvio que não será necessário ser nenhum adivinho para imaginar que será a partir desses contrastes que emergirão as melhores piadas da obra. Com os dois não apenas tendo dificuldade para se entender como ainda disputando espaço no "mercado".

 
 
A situação se complica verdadeiramente quando o "viajante do tempo" percebe que o cemitério em que estão enterrados seus parentes está abandonado e ainda é ocupado pela iniciativa privada. Uma briga generalizada com operários acaba indo parar nas redes, o que compromete os negócios do jovem Greenbaum. Separado de seu único parente, o veterano resolve investir na única coisa que sabe fazer: pepinos em conserva. Sem capital, ele cata a matéria-prima no lixo, envasa em vidros que não passariam nem perto de uma avaliação positiva da vigilância sanitária e ainda completa o combo, utilizando água da chuva reaproveitada no processo. Nas ruas, o bisavô Greenbaum se torna um sucesso entre os hipsters do Brooklyn, que elevam a sua figura singular - o que se estende a barba farta e ao modo de se vestir -, a uma personalidade hypada do ramo gastronômico. Não demora para que ele figure em sites, blogs, tik toks. Sua fama aumenta, na mesma medida do golpe, que envolve uma balela sobre cultivo de alimentos orgânicos, sem agrotóxicos e adquiridos por meio de produtores locais.

É claro que a gente sabe que essa história toda tem os dias contados, mas até lá temos uma ampla oferta de piadas que envolvem as extravagâncias dos padrões de consumo de hoje - a irritação de Herschel ao perceber que a vodka, nos dias de hoje, é misturada com... baunilha, é ótima -, até a cultura do cancelamento gestada pelas redes sociais. Nesse sentido, não há melhor momento do que aquele em que o veterano começa a colocar as suas "opiniões impopulares" no Twitter, o que faz com que atraia um sem fim de conservadores reacionários americanos - adeptos de Deus, da família e das armas (e muito provavelmente votantes do Trump). Sim, é meio besta. Sim, a lição de moral sobre unir esforços por um bem maior é meio óbvia. Mas faz rir, tem boas referências culturais e ainda é tecnicamente bem feito (o desenho de produção das cenas do passado, é digna de grandes obras de época). O que comprova mais uma coisa: até quando a HBO Max produz algo que teria tudo pra dar errado, ela acerta. 

Nota: 7,0

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