terça-feira, 10 de agosto de 2021

Cinema - Um Lugar Silencioso 2 (A Quiet Place Part 2)

De: John Krasinski. Com Emily Blunt, Cillian Murphy, Millicent Simons, Noah Jupe e John Krasinski. Suspense / Terror, EUA, 2021, 96 minutos.

Infelizmente, a existência de Um Lugar Silencioso 2 (A Quiet Place Part 2) nos faz constatar o óbvio: nem sempre uma continuação de filme é necessária. Aliás, em pouquíssimos casos eu diria. Vale para as séries também, que se repetem indefinidamente, apenas para faturar em cima do hype (um abraço Stranger Things). E pouco acrescentam de novidade, de fato. No caso da obra dirigida por John Krasinkski (o eterno Jim Halpert de The Office), a sensação é a de ficarmos no mesmo lugar no decorrer das pouco mais de uma hora e meia de duração do filme. Ok, passados os eventos da primeira parte, que foi concluída com a morte de Lee (o próprio Krasinski) e com a destruição da propriedade em que moravam, a viúva Evelyn (Emily Blunt) e os filhos Regan (Millicent Simons) e Marcus (Noah Jupe) precisam encontrar um novo lugar para viver. E sem fazer barulho, claro, por mais que, agora, eles saibam como enfrentar as criaturas alienígenas que são "ativadas" por meio do som.

No caminho, quando tentam entrar em um depósito aparentemente abandonado, Marcus acaba pisando em uma armadilha. Com a família sendo socorrida/aprisionada por um certo Emmett (Cillian Murphy), um antigo vizinho dos Abbott. Mais ou menos protegidos, mas ainda inseguros, eles recebem, de uma forma meio inesperada, uma transmissão de rádio em que a canção Beyond The Sea, de Bobby Darin está sendo executada. Não bastasse a letra sugestiva - Felizes nós seremos / Além do mar -, a música pode ser a chave para a existência de algo a mais no entorno (outras pessoas, será?). Intrigada com o caso, Regan parte em uma jornada meio solitária atrás de respostas. Para desespero de Evelyn, que pede socorro para Emmett, que parte atrás da menina, juntando-se a ela em seu objetivo. Tudo isso em meio a um sem fim de sequências de ação, com todos eles, em algum momento, precisando escapar das sangrentas criaturas.


Nesse sentido, os fãs de obras mais movimentadas se deleitarão já que, diferentemente da primeira parte - em que pareciam predominar as sequências silenciosas, em que a tensão era proporcionada pela necessidade plena de não haver barulho, o que tornava sufocante uma simples "caminhada no meio do mato" -, aqui o bicho pega, literalmente, com muito mais correria, perseguições, explosões, e tentativas desesperadas de sobrevivência. A execução técnica segue sendo o ponto alto, com detalhe para a engenharia de som, que muito provavelmente deverá ser lembrada no Oscar do ano que vem. Já o desenho de produção, combinado com a riqueza dos enquadramentos e a trilha sonora econômica, transforma os primeiros quinze minutos em uma experiência não menos do que aterradora em meio a um prosaico jogo de beisebol - o que, para  mim, se constitui no ponto alto. Aliás, eu adoraria ter continuado ali mesmo, sem que o filme avançasse para o dia quatrocentos e alguma coisa.

Só que, no fim das contas, como já dito, a sensação é a de andarmos em círculos. Agora já sabemos que os monstrengos não suportam frequências sonoras mais "agudas", o que oportuniza aos Abbott o contra-ataque. E aí surge uma forma de mostrar, ao menos em partes, que os inimigos podem ser outros (nada que já não tenhamos visto em séries como The Walking Dead quando, lá pelas tantas, os zumbis passam a ser o menor dos problemas). Há todo um esforço do elenco e um certo carinho por aquilo que procuram entregar - e os paralelos com a existência da covid-19 podem até formar uma curiosa metáfora narrativa. Mas ainda assim parece ser pouco. Quando os créditos sobem, fica difícil não se sentir meio frustrado. Especialmente pela expectativa criada. Sabe o Jim Halpert olhando pra câmera, com aquele tom de deboche que lhe é peculiar, a cada tentativa de passar a perna no Dwight (personagem do Rainn Wilson)? Pois é, nesse caso somos tal qual o Dwight. Enganados por um filme.

Nota: 4,5


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