quarta-feira, 5 de abril de 2017

Cinema - Fragmentado (Split)

De: M. Night Shyamalan. Com James McAvoy, Anya Taylor-Joy, Betty Buckley e Haley Lu Richardson. Suspense / Fantasia, EUA, 2017, 117 minutos.

Não sei como é pra vocês, mas para este jornalista e cinéfilo que vos escreve parece haver um certo magnetismo (ou encantamento) quando o assunto é o diretor M. Night Shyamalan. A impressão que temos é a de que faz mais ou menos uns 189 filmes que ele não entrega uma obra realmente decente mas, ainda assim, que causo é esse que faz com que fiquemos vidrados a cada novo lançamento seu? Assim que saiu o trailer de Fragmentado (Split), já o coloquei imediatamente na lista dos "a ser assistido". Como é de praxe, o filme não é lá tãããão bom - e, paremos de uma vez por todas com aquela história de aguardar eternamente um novo O Sexto Sentido (1999). Mas ao menos, se não levarmos aquilo que assistimos tão a sério, a película diverte com sua mescla de humor caricato e suspense peculiar.

No começo da obra vemos um homem sequestrando três jovens em um estacionamento e as levando para uma espécie de abrigo subterrâneo. O homem em questão é Kevin (James McAvoy), sujeito de personalidade excêntrica e, ao menos aparentemente, muito violento. Só que a agressividade inicial, logo da lugar a uma sensação de estranhamento quando percebemos que o raptor possui algum tipo de transtorno - no caso o Transtorno Dissociativo de Personalidade -, distúrbio que faz com que ele retorne ao porão na pele de um jovem obcecado por moda, como um menino de apenas nove anos ou como um estudioso da história do Oriente Médio. Assim, é possível constatar que o homem autoritário responsável pelo crime em questão é apenas uma das facetas de um sujeito perturbado e que parece possuir algum tipo de trauma em seu passado.



Apesar de ser vendida como um brutal suspense, a obra flerta com o humor em vários momentos - seja na exótica (e dispensável) aparição do diretor em uma sequência, seja na caracterização das várias personalidades do protagonista o que exige, diga-se, uma interpretação que, apesar dos esforços de McAvoy, parece estar bem longe de seu alcance (ou capacidade) - o que é uma pena, já que ele é, inegavelmente, um sujeito carismático. É claro que, em um filme de Shyamalan, a porção de suspense e a predileção por pequenas reviravoltas se mantêm de pé até os instantes finais, quando o surgimento de uma vigésima quarta personalidade no rapaz, torna a película o suspense efetivamente prometido - com direito a boas doses de violência. O que não significará necessariamente a redenção ou a transformação neste em um thriller de grande qualidade.

Ainda assim, é preciso dar algum mérito ao diretor indiano, que se mantém firme no propósito de fazer um cinema autoral - ainda mais num universo recheado de prequels, reboots, sequências e adaptações. O mesmo vale para a escolha do tema e não se pode negar que a abordagem a respeito da doença do protagonista é fascinante, nos fazendo pensar o tempo todo a respeito das possibilidades existentes em cada uma das personalidades de Kevin. Uma pode ser mais forte que a outra (do ponto de vista físico)? Falar outras línguas? Ter inteligências distintas? E a dor física? Pode ser sentida de forma diferente por cada uma delas? E os elementos sobrenaturais? São capazes de aflorar? É o que em partes tenta responder, dentro do filme, a psicóloga Karen Fletcher (Betty Buckley).


[SPOILER ALERT: não leia se não viu o filme e não quer ter alguma surpresa comprometida] Mas os fãs do diretor se surpreenderão MESMO com os últimos momentos da película quando da aparição de um personagem que já faz parte do universo do indiano. Será algum indicativo de continuação? Ou será que foi apenas uma brincadeira? Pra quem gosta de surpresas e reviravoltas, pode-se dizer que a sequência - que mostra o personagem de Bruce Willis em Corpo Fechado, interagindo com um grupo desconhecido em uma cafeteria - foi realmente inesperada. (ainda que os instantes anteriores a este sejam realmente decepcionantes, especialmente no que diz respeito a redução do impacto na abordagem da pedofilia - e se o tema fosse melhor tratado este poderia ser um filme realmente GRANDE do diretor, como nos velhos tempos)

Nota: 5,3

Nenhum comentário:

Postar um comentário