quinta-feira, 6 de abril de 2017

10 Considerações Sobre o Festival de Cinema de Lajeado

1) Sim, sabemos que já faz cinco dias que o 1º Festival de Cinema de Lajeado terminou, mas o caso é que a impressão que dá é de que demora um pouco pra cair a ficha do quão DEMAIS foi esse evento e do quão incrível foi fazer parte tão diretamente dele. No caso este modesto jornalista que vos escreve aqui periodicamente foi convidado para fazer parte da comissão de selecionadores, equipe que assistiu 288 curtas-metragens com o objetivo de promover à mostra competitiva só a nata da nata - ou as 55 obras finalistas. (e eu não consigo descrever o quão honrado fiquei por fazer parte dessa missão)

2) Ver o campus da Univates respirando cinema durante três dias - sem contar todas as semanas de preparação prévia - foi absolutamente sensacional. A lamentar apenas um fato que foi observado pelos realizadores, produtores e outros envolvidos: o de que os próprios estudantes da Instituição não prestigiaram plenamente o evento, optando por não ir para o Teatro quando do anúncio da liberação por parte dos professores. (o que parece comprovar o fato de que não foi por falta de incentivo que a participação não ocorreu)

3) Acho que não foi destacado em nenhum lugar da mídia local - não que eu tenha visto - o clima de protesto que tomou conta da noite de premiações (o grande vencedor, disparado, foi o FORA TEMER, com o ilegítimo sendo lembrado em praticamente todos os discursos dos vencedores, inclusive no da justa homenageada Julia Lemmertz). Aliás, uma reação natural dos envolvidos, dadas as políticas de exclusão de direitos e de apoio ZERO a educação e a cultura em nosso País, promovidas pelo (des)Governo golpista.



4) Nesse sentido, louvável a iniciativa do idealizador do evento, o empreendedor Lauro Bergesch. Ao lado de uma linda equipe - e aqui saúdo em especial os amigos Monique Mendes e Alexandre Derlam - conduziu todo o Festival da melhor maneira possível. Fica a torcida para que este possa se tornar anual, fazendo parte do calendário fixo de nossa cidade.

5) Ouvi de mais de uma pessoa durante os dias de Festival: "Bah, não achei que assistiria filmes tão impactantes". E, escutar isso, é de encher de orgulho a comissão de selecionadores que debateu MUITO com o objetivo de incluir entre as finalistas, obras que discutissem questão de gênero, de injustiças sociais, uso de novas tecnologias, de igualdade de direitos, de sujeitos a margem da sociedade ou de temas modernos, como intolerância, racismo e preconceito. E, só pra citar algumas, obras como As Mina na Batalha, Preto Pobre Puto, Deus Neon, Djorge - Da Bonja Pro Mundo, Apaixonadinhos, Quem Luta Ocupa, Autopsia e Corpo Nu são ótimos exemplos nesse sentido. Sim, o tema do Festival eram as belezas naturais. Mas no fim das contas o mundo, como estamos vendo, não é tão belo assim. (e o debate pode contribuir para que este melhore)

6) Sobre os vencedores, adorei a conquista na categoria máxima para o Boa Noite, Charles. Quem pôde assistir a criativa película dos Irmãos Carvalho percebeu que ela era completa, flertando com o experimental, com o documental, com a ficção, com a animação e com o nonsense! Além de ser uma imprevisível história! Não tinha como não ser a grande campeã. (e é uma pena não saber onde posso encontrar o filme, já que queria mostrá-lo para outras pessoas que não puderam assisti-lo nos dias do Festival)



7) Ver o Deus Neon - obra arrebatadora sobre os tempos de intolerância e ódio, especialmente aquele disseminado na internet - faturar o prêmio de Melhor Ficção da Associação de Críticos também foi algo que me agradou bastante. E, é preciso que se diga que os prêmios para o filme Demônia - Melodrama em Três Atos também foram ótimos, porque esse é um dos mais imprevisíveis (e divertidos) filmes do Festival.

8) Existem filmes que não faturaram nenhum prêmio mas PRECISAM ser vistos por vocês, imediatamente (só não sei como): O Homem Que Virou Armário, Apaixonadinhos, A Vida Como Rizoma, Retrato de Dora, As Mina na Batalha e Espeto Corrido (este último talvez teria alguma chance se houvesse alguma premiação de público, tamanho o carinho demonstrado ao filme e ao seu realizador, o jovem Felipe Peroni, nos bastidores). Ah, e vale citar os realizadores locais, com destaque para a querida amiga Natasha Bouvier que apresentou o imperdível documentário experimental Sons Que Falam durante a mostra não competitiva.

9) O Roger Lerina foi o melhor Mestre de Cerimônias possível: leve, divertido, carismático, capaz de brincar com situações inusitadas e até mesmo inesperadas. Já a Bico Fino Brothers Band mostrou a tradicional qualidade rock and roll a que já estamos acostumados.



10) Problemas técnicos? Houve. Há muito a melhorar? Há. Mas quem se importa? Só o que queremos saber é: quando é o próximo mesmo?

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