segunda-feira, 10 de abril de 2017

Novidades em DVD - O Mar de Árvores (The Sea Of Trees)

De Gus Van Sant. Com Matthew McConaughey, Ken Watanabe, Naomi Watts e Katie Aselton. Drama, EUA, 2015, 110 minutos.

Autor de pequenos clássicos modernos, como Gênio Indomável (1997), o diretor Gus Van Sant costuma se dividir entre obras mais engajadas - casos de Milk - A Voz da Igualdade (2008) e Terra Prometida (2013) - com outras que trazem um espírito documental e um tipo de romantismo meio desviado, nunca lógico e que é apreciado poe fãs de cinema alternativo mundo afora - como é o caso do tocante Inquietos (2011). O Mar de Árvores (The Sea Of Trees) integra este último grupo de películas. É aquele tipo de obra um pouco mais lenta, com um tipo de fluidez (ou falta de) particular que poderá afastar os neófitos e talvez até irritar àqueles que já estão acostumados com o modus operandi do americano. Quem comprar a ideia - é o caso deste jornalista que vos escreve essa modesta resenha - encontrará um filme ao mesmo tempo razoável, mas igualmente esquecível.

Inspirada em fatos reais, a trama nos joga para o meio da floresta Aokigahara - conhecida também como Sea Of Trees -, e localizada no pé do Monte Fuji, no Japão. Por conta da vastidão da mata fechada, de uma peculiar ausência de animais e por possuir um tipo de "silêncio perturbador" (como definem pesquisadores do local), é o segundo lugar do mundo mais procurado por aqueles que desejam cometer suicídio - atrás apenas da ponte Golden Gate. É para lá que vai o americano Arthur Brennan (Matthew McConaughey) com a aparente intenção de dar cabo de sua própria existência. No local ele encontrará o japonês Takumi Nakamura (Ken Watanabe) que, também desiludido com a vida, parece ter a mesma intenção. Bom, não é preciso ser nenhum gênio cinematográfico pra saber que a jornada dos dois homens servirá para reflexões a respeito de suas vidas, de futuro e também de passado.



Com estrutura bastante convencional, a obra vai e vem no tempo para mostrar como era a vida de Arthur - que é o verdadeiro protagonista - ao lado da esposa Joan (Naomi Watts) e de como as suas trajetórias culminarão em sua decisão. Seus conflitos são apresentados tomando por base uma convivência tediosa reforçada por uma fotografia sombria, o que faz com que, mesmo em ocasiões festivas - como jantas com amigos - ambos pareçam no limite da amargura e do desencanto mútuo. Assim, não deixa de surpreender uma pequena reviravolta na trama, que faz com que percebamos que os reais motivos para o ímpeto suicida do protagonista são outros - e não aqueles que imaginávamos, talvez relacionados a alguma traumática separação. (e esse não deixa de ser um dos pecados do filme, que constrói a convivência e a rotina do casal de maneira meio "torta", o que faz com que pouco nos afeiçoemos a eles)

Ainda assim, ao flertar de esbarrão com idéias estabelecidas em outros filmes - uma das mais perceptíveis envolve a lógica de imprevisibilidade abordada em Magnolia (1999) - a obra consegue alcançar outro patamar e ainda encontra, em seu terço final, a redenção capaz de torná-la melhor do que pareceria. Talvez para muitos cinéfilos aquilo que se verá próximo da conslusão seja a mais óbvia das obviedades (com o perdão da redundância) - isso sem levarmos em conta os possíveis "absurdos" dos pontos de vista metafísico, religioso ou espiritual naquilo que assistimos. Só que eu sou o fã de cinema mais desligado da história e me surpreendo até mesmo com o plot twist mais banal possível. E, de quebra ainda curti a lógica de romance a moda Ghost - Do Outro Lado da Vida (1990) estabelecida pela narrativa. Ponto para Van Sant.

Nota: 7,0

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