segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Cinema - O Quebra-Cabeça (Puzzle)

De: Marc Turtletaub. Com Kelly Mcdonald, Irrfan Khan, David Denman e Liv Hewson. Drama, EUA, 2017, 103 minutos.

Filmes que mostram o despertar de consciência de certos personagens não chegam a ser uma novidade - e é exatamente isso o que ocorre com a protagonista desse O Quebra-Cabeça (Puzzle), em cartaz nos cinemas do País. Agnes (Kelly Mcdonald) sempre foi uma dona de casa dedicada ao marido e aos dois filhos - e não é por acaso que a película já inicia com ela trabalhando durante o seu aniversário de 40 anos. Em meio aos presentes dados para marcar a data, um quebra-cabeças de mil peças lhe chama a atenção. E será ao se dedicar ao desafio em certa tarde que Agnes perceberá que tem o dom para coisa. O que fará com que ela se aproxime de Robert (Irrfan Khan, visto em As Aventuras de Pi), um excêntrico especialista no assunto, que busca uma parceira para participar de competições internacionais de montagens de quebra-cabeças.

A premissa é razoavelmente interessante e o produtor Marc Turtletaub, em sua estréia como diretor, não se enrolará para mostrar a importância que o quebra-cabeças passará a ter na vida de Agnes. E sobre como a dedicação ao jogo fará com que ela perceba o quão infeliz é em sua rotina de dona de casa suburbana. Sim, o filme força um pouco a barra ao mostrar o quebra-cabeças como uma metáfora para a vida da protagonista que, desencaixada (e desinteressante) anteriormente, agora passa a ter um verdadeiro sentido. Assim, as nem tão sutis mudanças de comportamento de Agnes no dia a dia - agora encorajada a questionar o marido em suas decisões ou mesmo percebendo que ela não é a faxineira dos filhos - ocorrem a partir de pequenas ações, como uma piada dita na Igreja, a opção por fumar ou mesmo pelos encontros fortuitos com Robert.



É um tipo de "grito de independência" que vai se descortinando não apenas a partir de gestos e pequenas mudanças de comportamento - e Agnes é uma figura absolutamente deslocada de seu tempo ao sequer saber o que é o Google -, mas também a partir de detalhes como a sua roupa (que vai recebendo cores mais vivas). Já a opção do roteiro por tornar Robert uma espécie de par romântico de Agnes não poderia ser mais equivocada, já que, além das personagens não serem nada interessantes, não há nenhuma química - e a restrição à relação de ambos para algo puramente profissional certamente seria um acerto. Assim como é a paleta de cores monótona e eventualmente pálida que rege a película e que diz respeito ao estado de espírito geral daqueles que vemos em cena - pessoas bem sem graça, introspectivas e, até, melancólicas.

Sim, é um filme que não mudará a vida de ninguém, mas que, em tempos em que tanto se discutem questões relacionadas à importância do respeito a igualdade entre os gêneros, também cumpre o seu papel. Agnes percebe aos poucos que não precisa dar satisfação para o marido em relação a tudo o que ela faz ou que não haverá problema algum se ela atrasar um pouco o jantar. Da mesma forma, fará com que o cônjuge perceba que não há problema algum em um dos filhos optar por seguir carreira como chef de cozinha - e ele não será menos homem por isso. No fim das contas é uma obra que traz a sua mensagem de forma pouco sutil e até eventualmente forçada - mas que nos fará sorrir com seu arco dramático direto e com as interpretações que vão do contido (Mcdonald) ao eventualmente caricato (Khan).

Nota: 6,0

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