Terra Selvagem (Wind River) tem um trailer feito sob medida para atrair o cinéfilo fã de suspense policial: um cenário inóspito (e gelado), um assassinato, uma tensão presente em cada detalhe, além da existência de um Jeremy Renner com ar melancólico e endurecido. Parece a equação perfeita e, no começo, até é. Renner, que na obra se chama Cory, é uma espécie de caçador de coiotes e de predadores, que é incumbido de localizar o animal que tem sido responsável pela morte do rebanho de um dos nativos. Só que em uma de suas rondas ele encontra o corpo congelado de uma jovem morta - que é identificada como a filha do índio Dan (Birmingham), que é amigo de Cory. As circunstâncias parecem misteriosas: ela está de pés descalços, com sinais de estupro, em uma região absolutamente isolada.
Para tentar solucionar o caso, o FBI designa a novata agente Jane Banner (Olsen) - aliás, este um equívoco em uma obra que pretende, em alguma medida, discutir o completo abandono de grupos remanescentes de reservas indígenas. Sim, é a loira de olhos claros que tentará, com a ajuda de Cory (também branco), montar as peças desse quebra-cabeças que parece envolver outros habitantes locais que, também se tornam suspeitos - e, é preciso que se diga, o terço inicial da película se constitui em um excelente exercício de suspense, com montagem fluída, ângulos de câmera que reforçam o caráter inóspito do local e trilha sonora marcante. O mesmo vale para os personagens secundários, como o xerife Ben (Greene) e Matt (o sempre ótimo Bernthal).
Só o que era um suspense levemente enigmático - com revelações como a de que o personagem de Renner também perdeu uma filha no passado (os crimes teriam alguma conexão?) - se torna uma obra excessivamente catártica do ponto de vista da violência, conforme se aproxima o desfecho. Especialmente após Cory e Jane localizarem, em uma propriedade particular, o grupo que, aparentemente, estaria envolvido com o caso. Com um flashback único, somos apresentados aos eventos que desencadearam na morte da jovem - o que transforma os jovens sádicos (aparentemente sob efeito de bebida) em uma massa de sujeitos permanentemente malvados em seu estranho isolamento, em um maniqueísmo simplista que nos leva, em alguma medida, ao maior problema da película: o de tornar o espectador uma espécie de cúmplice da ideia tão moderna (quanto retrógrada) de que "bandido bom é mesmo bandido morto".
Sheridan foi roteirista nos ótimos Sicário (2015) e A Qualquer Custo (2016) e, em sua estreia como diretor, até acerta ao tentar tornar a obra uma espécie de pequeno comentário social da condição indígena dentro de reservas localizadas em lugares inóspitos. (e, não é por acaso, que mesmo o censo demográfico dos Estados Unidos sequer tem números sobre assassinatos nesse locais, por exemplo) O mesmo vale para as rimas visuais e metáforas, especialmente as que envolvem o personagem de Cory que, de alguma maneira, também está em uma espécie de caçada bastante particular para chegar a alguma conclusão sobre o que, de fato, teria ocorrido com a filha do amigo. Só que não é suficiente. Ao exagerar no clima "os fins justificam os meios" ou mesmo ao emular a Lei de Talião (do "olho por olho dente por dente"), Sheridan erra feio. E, assim, se alinha as correntes mais reacionários e intolerantes do planeta, transformando os "mocinhos" em criminosos tão abomináveis quanto àqueles que repudiamos.
Nota: 5,5
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