quinta-feira, 18 de outubro de 2018

Tesouros Cinéfilos - O Operário (The Machinist)

De Brad Anderson. Com Christian Bale, Jennifer Jason Leigh, John Sharian e Aitana Sanchez-Gijón. Suspense, Espanha, 2004, 101 minutos.

Quem gosta de obras com "moral da história" não pode deixar de assistir a O Operário (The Machinist) - o famoso filme em que Christian Bale emagreceu trinta quilos para interpretar o papel principal. Na trama ele é o empregado de uma indústria metalúrgica que está, misteriosamente, há um ano sem conseguir dormir. O tempo em que não está trabalhando, ele ocupa com encontros ocasionais com a prostituta Stevie (Jennifer Jason Leigh) e com idas a uma cafeteria de um aeroporto, que fica aberta de madrugada. Mas o caso é que o cansaço está destruindo progressivamente a sua saúde física e mental, o que faz com que ele se isole cada vez mais. A situação piora quando ocorre um acidente na fábrica, que faz com que um de seus colegas perca um braço. É aí que a paranoia aumenta, com o sujeito achando que os colegas estão conspirando para fazer com que ele perca o emprego.

Já não bastasse todo esse contexto, o homem, de nome Trevor, ainda passa a ter estranhas alucinações. Em seu apartamento, começam a surgir curiosos bilhetes, com desenhos de forcas e de frases provocativas. No dia a dia, um novo colega de trabalho (John Sharian) parece guardar algum segredo, com tudo se tornando mais esquisito quando ele se dá conta que o tal colega talvez não exista. Por mais que faça amizade com a funcionária da cafeteria que frequenta - ele leva a ela e seu filho a um parque de diversões -, o caso é que a vida de Trevor é triste, vazia, isolada. Quase sem sentido. Condição que só terá explicação quando os traumas do passado forem aos poucos descortinados (de forma absolutamente sutil), por meio de alguns flashbacks e sobreposição de cenas.



Nesse sentido, a obra de Brad Anderson tem méritos, uma vez que consegue "segurar" a curiosidade a respeito daquilo que possa ter acontecido com o protagonista até o último minuto. E ainda que Bale exagere, aqui e ali, nas caras e bocas e nas cenas que reforçam a sua desnutrição, o caso é que a construção da atmosfera - com uma fotografia absolutamente acinzentada e sombria e com uma trilha sonora que não faria feio em algum filme do Hitchcock - é um dos pontos fortes da película. A impressão que temos é a de que algo está sempre pronto a acontecer, o tempo todo. Algo ruim, no caso. E o fato de os colegas de trabalho de Trevor estarem de saco cheio deste, só torna tudo pior - com a situação se tornando extrema no momento em que ele acredita ter sofrido algum tipo de sabotagem na fábrica.

Reservando para o terço final uma das mais saborosas surpresas do cinema, no caso de obras mais recentes, o filme ainda é um verdadeiro líbelo sobre a importância de termos a consciência limpa, no que diz respeito aos nossos atos (e sobre aquilo que consideramos moral e eticamente correto no nosso dia a dia). Trevor talvez não esteja, literalmente, sem dormir, mas a sua mente jamais relaxará, até o momento em que ele consiga ter a paz tão desejada, o que só virá com uma decisão extrema. E que ele só poderá tomar sozinho. Ainda que uma ou outra sequências possam ser dispensáveis - e uma ou outra ponta pareçam meio soltas - a amarração final faz todo o sentido, com o espectador sendo obrigado a confrontar, junto com o personagem principal, a dura realidade que lhe espera dali para frente.

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