De: Kohel Igarashi. Com Hiroki Sano, Nairu Yamamoto, Yoshinori Miyata e Hoang Nh Quynh. Romance / Drama, Japão / França, 2024, 94 minutos.
Existe uma cena bem no comecinho de Super Happy Forever e que envolve uma placa fixada em um hotel. O cartaz em questão avisa que a hospedagem fechará dali a um mês. Só que, nesse ponto, já fica claro pro espectador que essa ideia de encerramento, de conclusão - de ciclos, de etapas, de relacionamentos -, não é apenas simbólico. Há algo no marasmo meio acinzentado daquela praia não muito acolhedora que grita uma certa melancolia do fim. A pandemia passou, mas as pessoas ainda estão de máscara. Espaços estão encerrando atividades, por falta de público será? Ou porque no mundo a vida é meio que feita disso mesmo? De transformações, de mudanças, de memórias que ficam enquanto novas se criam? Sim, pode parecer excessivamente filosófico para uma resenha sobre uma obra alternativa e agridoce do cinema japonês, mas o caso é que esses pontos começam a se conectar sem muita demora.
Sano (Hiroki Sano) está de luto. Mas, mesmo assim, resolve acompanhar o melhor amigo Miyata (Yoshinori Miyata) em uma viagem justamente para o resort de luxo em que conheceu, cinco anos atrás, a sua falecida esposa Nagi (Nairu Yamamoto). Sano está naquele estágio meio ranzinza, meio melancólico, de quem viveu uma perda que pesa uma tonelada nos ombros, enquanto percorre a orla em uma investigação particular - como se buscasse algum objeto, algum fragmento de algo que pudesse lhe remeter àqueles dias vividos cinco anos atrás. O que envolve o mesmo quarto de hotel, a mesma vista, o mesmo restaurante que, agora, jaz solitário, com as portas cerradas. Na caminhada pela praia, o rapaz tem a impressão de ver o boné perdido de sua amada, nunca mais encontrado. A negativa a respeito só lhe enfurece mais. Uma ligação esquisita faz com que ele arremesse o celular no mar.
Já Miyata tá ali pra uma espécie de seminário de autoajuda - com palestras de nomes sugestivos como Super Happy Forever, que não fariam feio na cartilha do mais novo coach abstrato a tentar enganar um grupo de seguidores incautos. Aliás, o tipo de coisa que enoja ainda mais Sano, que não consegue não responder de forma ríspida, um tanto debochada, quando o amigo convida duas outras cursistas para sentarem a sua mesa. Não demora para que o papo derive para as coincidências do mundo ou os problemas de uma sociedade tão materialista. Tudo parece meio vazio pro protagonista atormentado. Que não consegue não ser mais do que honesto ao falar sobre a relação que não existe mais: "Nagi não era feliz. Eu era muito covarde e egoísta". O tipo de franqueza que faz com que fique evidente também um certo remorso. Que avança para a alegoria no fato de Nagi ter simplesmente morrido dormindo, mesmo sendo alguém tão jovem. Uma morte simbólica e real em igual medida - como muitas vezes ocorre para casais que se formam para, mais tarde, com o desaparecimento do encanto inicial, se desfazerem.
Na segunda metade a trama recua para 2018, justamente para o dia em que Nagi e Sano se conhecem. Com a ação centrada na jovem, não demora para que compreendamos o encanto do protagonista. Nagi fica chateada por um encontro com uma amiga que lhe dá um bolo - mas aceita percorrer a cidade com Sano e Miyata para um almoço, seguido de um passeio, uma conversa prazerosa e uma ida a uma danceteria. Quase aquele ideal juvenil de primeiros encontros em que tudo o que temos de fazer é sermos felizes, viver o momento. Ao cabo tudo é muito simples, ainda que a narrativa seja pontuada por instantes singelos, como aqueles em que Nagi auxilia a vietnamita An (Hoang Nh Quynh), que deixa seu almoço cair no chão. An terá papel importante mais tarde, especialmente após as duas fazerem amizade, o que será marcado ainda pela onipresença da canção Beyond the Sea, de Bobby Darin. O sentimento ao final será ambíguo, já que a felicidade pode ter outro significado.
Nota: 8,0
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