De: Baltasar Kormákur. Com Egill Ólafsson, Koki e Masahiro Motoki. Drama / Romance, Islândia / Reino Unido, 2024, 121 minutos.
Devo confessar a vocês que não tenho muita paciência com filmes que tratam seus personagens como figuras absolutamente perfeitas, incorruptíveis e que permanecem de maneira ininterrupta em um pedestal moral. Ninguém age assim o tempo todo e obras desse tipo, além de parecerem excessivamente infantilizadas, ainda se convertem em experiências cansativas e pouco envolventes. Mesmo quando o assunto é um melodrama. É preciso, afinal, alguma pimenta. Um temperinho a mais. O que, de forma irônica, falta justamente a Touch - o candidato da Islândia à categoria Filme em Língua Estrangeira para o Oscar desse ano. Dirigida por Baltasar Kormákur, a produção se passa, em boa parte, no interior de uma cozinha. Mas uma cozinha em que, por mais bonita que seja a receita e por melhor que seja o seu preparo, ela sempre parecerá deficiente em sal. Em sódio.
Ao cabo, Touch é um filme chato. Que faz com que acompanhemos a jornada de um idoso de mais de setenta anos que, por mais incrível que possa parecer, ainda não superou um romance da juventude. Eu não sei bem em que tempo esse povo tá vivendo ou o tipo de solidão que tem percorrido suas almas, mas, o protagonista Kristófer (Egill Ólafsson), como se fosse uma espécie de Florentizo Ariza dos tempos pandêmicos (sai o cólera do livro de Gabriel Garcia Marquez e entra a covid-19), resolve ir atrás de um antigo amor - seu nome é Miko (Yôko Naharashi). Para colocar seu plano em prática ele fecha o restaurante da qual é proprietário, na gelada Islândia, para tentar localizar o amor pós-adolescente, ocorrido no final dos anos 60, em Londres. Sua esposa morreu e esse reencontro poderá aplacar, talvez, um tipo de ausência. Ainda mais em um mundo tão doente, individualista e pouco empático.
Em linhas gerais Kristófer é o sujeito de fala mansa e sempre ponderado - um idealista (ou comunista) com um passado universitário regado a cabelos compridos, ideologia pacifista e fitas K7 de John e Yoko a tiracolo. Em 1969 o mundo também passava por uma espécie de transformação e, meio cansado da militância universitária (com seus longos e pouco produtivos debates), o protagonista resolve tentar uma vaga de trabalho em um restaurante japonês, no coração de Londres. A pequena desconfiança inicial do dono do estabelecimento, o carismático Takahashi-San (Masahiro Motoki), logo da lugar a uma relação de amizade e de intimidade. Aliás, o conjunto ficará ainda mais próximo quando o estudante universitário Kristófer (Pálmi Kormákur Baltasarsson) se apaixonar pela jovem Miko (Koki). Uma relação sem muita química, meio forçada e até insípida, mas que, aparentemente, se tornará inesquecível pra ambos.
Evidente que o filme tem algumas boas intenções. Primeira delas é de denunciar o absurdo da guerra - que respinga nos antepassados e na própria Miko, já que sua família era de Hiroshima. O tom paz e amor pode ser interessante, ainda que, aqui e ali, soe meio artificial - e quase não consegui esconder a irritação no instante em que Miko compara um Kristófer de óculos, ao John Lennon. Como disse no começo é tudo muito certinho. As idas e vindas no tempo são comoventes. A trilha é grandiosa e parece subir na hora adequada na intenção de arrancar lágrimas à fórceps do espectador. Com tudo piorando no terço final, quando a forçação de barra do encontro dos idosos atinge o auge da manipulação, ao tentar nos fazer crer que ambos aguardaram uma vida inteira por aquele momento. Por isso que gosto tanto do Vidas Passadas (2023), que foi um dos indicados ao Oscar do ano passado. As paixões juvenis, em geral, ficam resguardadas pra juventude. A gente cresce, amadurece, muda. Adquire bagagem, se transforma. Que um amor infantil e perfeitinho possa existir, definitivamente é coisa de filme. Que esse filme seja islandês, um País tão pródigo em boas produções, é quase trágico. Uma pena.
Nota: 2,0