domingo, 26 de fevereiro de 2017

Especial Oscar 2017 - Nossas Apostas

Como já é tradição nos dias que antecedem a maior premiação do cinema, postamos aqui as nossas apostas naquelas que consideramos as dez principais categorias para o Oscar 2017, que ocorre neste domingo (26/02) a partir das 21h! Para uma melhor visualização, o post é feito em conjunto, o que também facilita o comparativo entre as nossas opiniões! E para você, quem fatura a estatueta dourada nas principais categorias? Dê o seu pitaco!



FILME

Tiago Bald

O fato de La La Land ter recebido CATORZE indicações é um sinal mais do que forte de que o filme de Damien Chazelle deve verdadeiramente levar a categoria principal da noite. Fora o amontoado de conquistas nas premiações prévias, entre elas o Producers Guild Awards (em geral um dos melhores termômetros), o Bafta e o Globo de Ouro. A única "zebra" possível seria o Moonlight, que tem sido bem recebido por crítica e público e tem se fortalecido na reta final.

Quem eu gostaria que ganhasse: A Chegada
Quem vai ganhar: La La Land.

Henrique Sulzbach de Oliveira

As premiações recentes, além do grande número de indicações para La La Land, tornam este o franco favorito da noite. Mas, se lembrarmos da surpresa do ano passado com Spotlight vencendo, pode acontecer o mesmo com Moonlight - o único capaz de bater o musical de Damien Chazelle.

Quem eu gostaria que ganhasse: A Qualquer Custo.
Quem vai ganhar: La La Land



DIRETOR

Tiago

Essa é uma categoria que não parece complicada, uma vez que Damien Chazelle parece ter caído, definitivamente, nas graças do público e da crítica pelo trabalho em La La Land. As conquistas nas premiações prévias - com destaque para a vitória no Directors Guild Awards (DGA), também o coloca algumas milhas na frente dos demais. Único que poderia atrapalhar a sua conquista seria Barry Jenkins pelo trabalho tocante em Moonlight.

Quem eu gostaria que ganhasse: Denis Villeneuve (A Chegada)
Quem vai ganhar: Damien Chazelle (La La Land)

Henrique

Damien Chazelle já é o diretor queridinho de Hollywood. Desde o sensacional Whiplash que seu trabalho já vem sendo ovacionado pelo público e a academia. E não há de negar que faz um trabalho competente em La La Land, o que pode torná-lo o mais jovem a vencer o prêmio desta categoria.

Quem eu gostaria que ganhasse: Denis Villeneuve (A Chegada)
Quem vai ganhar: Damien Chazelle (La La Land)



ATOR

Tiago

Casey Affleck está simplesmente espetacular em sua interpretação de um pai de família devastado em Manchester à Beira-Mar e certamente merece o prêmio. As prévias, com a vitória em mais de 10 premiações confirma o seu favoritismo. Mas um certo Denzel Washington, que venceu o Screen Actors Guild (SAG) nas últimas semanas, promete deixar a disputa em aberto até o último minuto. Qualquer coisa diferente seria zebra, ainda que Andrew Garfield se entregue - E MUITO - em seu papel no ótimo Até o Último Homem.

Quem eu gostaria que ganhasse: Casey Affleck (Manchester à Beira-Mar)
Quem vai ganhar: Casey Affleck (Manchester à Beira-Mar)

Henrique

Casey Affleck arrebatou a maioria dos prêmios até o momento, mas Denzel Washington andou surpreendendo ao ganhar força ao final da temporada de premiações, além de ter seu papel na direção de Um Limite Entre Nós. O embate fica entre os dois.

Quem eu gostaria que ganhasse: Casey Affleck (Manchester à Beira-Mar)
Quem vai ganhar: Casey Affleck (Manchester à Beira-Mar)



ATRIZ

Tiago

Esta é uma categoria bastante indefinida. Isabelle Hupert venceu várias premiações prévias por seu papel no polêmico Elle. Mas Emma Stone concorre por La La Land, além de ter faturado o Screen Actors Guild (SAG), que normalmente se apresenta como um dos melhores termômetros pro Oscar. Natalie Portman por seu tocante papel como a recém-viúva Jacqueline Kennedy corre por fora. Já a Meryl Streep? Bom, ela sempre é indicada. O que não significa necessariamente vitória.

Quem eu gostaria que ganhasse: Isabelle Huppert (Elle)
Quem vai ganhar: Isabelle Huppert (Elle), por milésimos de segundos

Henrique

Esta categoria está polarizada também. Natalie Portman começou como favorita mas perdeu força para Emma Stone, do queridinho La La Land.

Quem eu gostaria que ganhasse: Isabelle Huppert (Elle)
Quem vai ganhar: Emma Stone (La La Land)



ATOR COADJUVANTE

Tiago

Essa categoria parece ser uma das mais tranquilas na hora de apostar, já que Mahershala Ali faturou simplesmente todas as premiações prévias por sua caracterização ao mesmo tempo sutil e visceral em Moonlight. Todos os demais indicados parecem apenas coadjuvantes de luxo em sua categoria - ainda que o jovem Lucas Hedges tenha feito um excelente papel em Manchester à Beira-Mar.

Quem eu gostaria que ganhasse: Mahershala Ali (Moonlight)
Quem vai ganhar: Mahershala Ali (Moonlight)

Henrique

Esta categoria é barbada. Mahershala Ali, com seu papel fundamental no belo Moonlight é o franco favorito ao prêmio. O fato de ele ser muçulmano em um momento delicado pelo qual os Estados Unidos vem passando também conta a seu favor - o que não tira o mérito de sua excelente atuação.

Quem eu gostaria que ganhasse: Mahershala Ali (Moonlight)
Quem vai ganhar: Mahershala Ali (Moonlight)



ATRIZ COADJUVANTE

Tiago

No ano em que o inacreditável Donald Trump se tornou presidente dos Estados Unidos, nada melhor do que um Oscar que possa demonstrar bem a diversidade. E, nós, aqui do Picanha, já aguardamos ansiosamente o discurso de Viola Davis, que deve ser a grande vencedora da categoria, por seu papel enérgico em Um Limite Entre Nós. Viola, além de muito talentosa, certamente servirá como excelente porta-voz para um momento em que o conservadorismo, o racismo, a misoginia e o preconceito em todas as suas formas, parecem ser a ordem do dia - não apenas na terra do Tio Sam, mas no mundo todo. Ah, Viola ganhou o Screen Actors Guild (SAG), o Globo de Ouro, o Bafta e tantas outras premiações, que lhe dão a credencial para faturar a categoria.

Quem eu gostaria que ganhasse: Viola Davis (Um Limite Entre Nós)
Quem vai ganhar: Viola Davis (Um Limite Entre Nós)

Henrique

Viola Davis está com a moral toda pelo seu papel em Um Limite Entre Nós e, além de ser uma excelente atriz que sempre nos apresentou grandes papeis no cinema, teve a seu favor um bom tempo de tela para demonstrar a que veio, ao contrário de Naomi Harris (Moonlight) e Michelle Williams (Manchester à Beira-Mar), que entregam performances em tempo reduzido de tela, mas não menos impactantes - algo mais condizente à categoria de coadjuvante.

Quem eu gostaria que ganhasse: Naomi Harris (Moonlight)
Quem vai ganhar: Viola Davis (Um Limite Entre Nós)



ROTEIRO ORIGINAL

Tiago

No Writers Guild Of America (WGA) ocorreu uma situação curiosa em relação a Moonlight, que, adaptado de uma peça de teatro, foi indicado na premiação prévia na categoria Roteiro Original. Com o caminho aberto, a tendência seria a de La La Land faturar a categoria, uma vez que já é uma tradição o filme que ganha o maior prêmio da noite também vencer no roteiro. Só que Manchester à Beira-Mar e seu texto originalíssimo conquistaram um amontoado de outras premiações prévias - Bafta, Critics Choice Awards - que o coloca como um eventual favorito.

Quem eu gostaria que ganhasse: Manchester à Beira-Mar
Quem vai ganhar: Manchester à Beira-Mar

Henrique

Categoria difícil de prever. Embora La La Land seja um dos favoritos, seu roteiro não é exatamente o ponto forte do filme. Já Manchester à Beira-Mar tem uma trama mais complexa, profunda, o que pode lhe favorecer. Uma pena que as chances de A Qualquer Custo sejam quase nulas, com seu roteiro preciso e de subtexto importantíssimo, além dos diálogos geniais.

Quem eu gostaria que ganhasse: A Qualquer Custo
Quem vai ganhar: Manchester à Beira-Mar



ROTEIRO ADAPTADO

Tiago

Foi o vencedor na categoria Roteiro Original no WGA, o que lhe coloca como o grande favorito ao prêmio. Deve vencer aqui, colocando fogo na disputa pela estatueta principal da noite.

Quem eu gostaria que ganhasse: A Chegada
Quem vai ganhar: Moonlight

Henrique

Moonlight é adaptado de uma peça de teatro, mas acabou ganhando prêmios como roteiro original em algumas premiações. Tudo indica que aqui acabará levando o prêmio também.

Quem eu gostaria que ganhasse: A Chegada
Quem vai ganhar: Moonlight



FILME ESTRANGEIRO

Tiago

Asghar Farhadi já venceu o Oscar da categoria em 2012, pelo excelente A Separação e há uma forte tendência de repetir a dose na noite de amanhã. O surpreendente, melancólico e divertido Toni Erdmann, candidato da Alemanha seria a segunda alternativa. E, como a Academia gosta de histórias tocantes relacionadas as grandes guerras, o emocionante dinamarquês Terra de Minas deve ser também considerado.

Quem eu gostaria que ganhasse: Terra de Minas
Quem vai ganhar: O Apartamento

Henrique

Categoria difícil. Até então o alemão Toni Erdmann era o favorito da noite, mas com o impedimento do diretor iraniano Asghar Farhadi (premiado com o Oscar por A Separação) de comparecer à cerimônia devido a medidas do presidente Trump, suas chances aumentam exponencialmente com o filme O Apartamento, visto que a academia poderia premiá-lo como um ato político.

Quem eu gostaria que ganhasse: Toni Erdmann
Quem vai ganhar: Toni Erdmann



ANIMAÇÃO

Tiago

A melhor animação DISPARADA é Moana, com uma protagonista complexa, falível e humana que certamente é capaz de emocionar adultos e crianças, além de apresentar um importante subtexto sobre a igualdade de gêneros - já não era sem tempo o fato de cair a ficha (especialmente nas produções da Disney) de que as mulheres não devem ser necessariamente - e sempre - as mocinhas indefesas. A Tartaruga Vermelha, com sua trama surrealista e melancólica também merece ser visto. Mas quem deve vencer mesmo a categoria é o mediano Zootopia. Não me perguntem o por quê.

Quem eu gostaria que ganhasse: Moana
Quem vai ganhar: Zootopia

Henrique

Não assisti nenhuma das obras, mas tudo indica que o prêmio vá para Zootopia, embora A Tartaruga Vermelha tenha recebido diversos elogios mundo afora.



Uma ótima cerimônia para todos nós! =D

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Cinema - Lion: Uma Jornada Para Casa (Lion)

De: Garth Davis. Com Dev Patel, Rooney Mara, Nicole Kidman, Sunny Pawar e David Wenham. Drama / Aventura, EUA / Austrália / Reino Unido, 2016, 118 minutos.

Uma estatística estarrecedora dá conta de que 80 mil crianças desaparecem POR ANO, na Índia. Um alto número que certamente está relacionado às condições de pobreza extrema do País, à falta de informação, à precariedade dos serviços e até mesmo à superpopulação. O que o emocionante Lion: Uma Jornada Para Casa (Lion) pretende é contar uma dessas histórias - relatada no livro Uma Longa Jornada Para Casa de Saroo Brierley. E, vamos combinar que este é um roteiro que nasceu pra ser filmado em Hollywood - não sendo por acaso o fato de a obra estar sendo apontada como uma das favoritas do público, entre as indicadas na categoria principal para a noite do Oscar. Lion é daqueles filmes que contam com um arco dramático potente, boas atuações e doses generosas de comoção, mas sem nunca parecer excessivamente piegas.

Na trama, Saroo (o espetacular Sunny Pawar) é um menininho de apenas cinco anos, que, ao lado do irmão Guddu (Abhishek Bharate), passa os dias perambulando pelo pequeno vilarejo em que moram, com a intenção de obter algum dinheiro para a compra de leite para a mãe - o que poderá ser conquistado com pequenos golpes, como o roubo de pedaços de carvão. Apesar do ambiente desolador e miserável, o clima é de harmonia familiar, com a mãe (Pryianka Bose) zelando com carinho pelos filhos. Em um certo dia, Saroo resolve acompanhar Guddu, que trabalhará no turno de madrugada, junto a estação de trem. Muito cansado, o menino entra por engano em um vagão de trem que lhe conduzirá até Calcutá - mais de 1.500 quilômetros de distância de onde mora. Sem falar Bengali - a língua local -, o jovem se torna incapaz de explicar de onde vem, para onde vai e o que exatamente está fazendo ali.


Os momentos de "terror" vividos pelo menino na primeira metade da película, estão entre os melhores de Lion - e, com todo o respeito que merece Dev Patel, que aparecerá como o Saroo adulto na segunda parte da projeção, talvez quem merecesse MESMO a indicação ao Oscar fosse o pequeno Pawar. Poucas vezes se viu uma criança pequena com tanta desenvoltura para transmitir medo, ansiedade, ternura e tristeza diante de uma situação limite, como no caso do jovem ator. Ao chegar em Calcutá, ele se verá em meio a uma metrópole barulhenta, caótica e individualista, que será incapaz de perceber seu drama. A aproximação de adultos não necessariamente representará alguma mudança no panorama - como ocorre quando um mal intencionado casal aparece para "ajudar". O cenário de desesperança só se modificará efetivamente quando Saroo for para um orfanato, sendo adotado, posteriormente, por um casal australiano.

É nesse momento que a trama salta 20 anos no tempo. Saroo (agora na pele de Patel) surge como um jovem adulto, que, amado pelos pais adotivos (vividos com esmero por Nicole Kidman e David Wenham), está indo para a universidade. Só que o contato com outros colegas indianos, em Melbourne, despertará nele uma espécie de "gatilho para o passado", transformando a vontade de reencontrar a sua família biológica em uma verdadeira obsessão - e a culpa que sente, pela existência confortável na atualidade, também funcionará como uma espécie de catalisador para a questão. Apoiado (e atrapalhado) pela namorada (Rooney Mara), Saroo mergulhará na internet atrás de mapas e pistas, cruzando dados que possam levar a seu vilarejo de origem - e que ele mal lembra o nome correto. Em seu dilema, a angústia de falar a verdade ou não para os pais adotivos, sob pena de magoá-los.


Sim, em seu terço final Lion pode até abusar de alguns clichês sentimentais - uso exagerado da trilha, brigas para depois se reconciliar, discursos edificantes, câmera lenta em seus momentos derradeiros - mas, é preciso que se diga: como funciona! É praticamente impossível ficar alheio ou não torcer pelos personagens com todas as nossas forças, mesmo sabendo o final da história. Até mesmo porque as cenas de maior emoção surgem na nossa frente de maneira fluída, orgânica, sem forçação. E, quando percebemos, estamos devastados - no melhor sentido da palavra. Histórias reais de superação podem ficar sempre no limite entre a apelação e a denúncia social: ao voltar os olhos do mundo para os casos ocorrido na Índia, o filme do estreante Garth Davis não apenas entretêm o público, como presta um pequeno serviço. É para isso que a arte (também) serve.

Nota: 8,7

terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Lançamento de Videoclipe - Kings Of Leon (Reverend)

Ainda que não tenha entrado na nossa lista com 25 Melhores Discos Internacionais do ano passado, o álbum WALLS, do Kings Of Leon agradou, sendo muito bem recebido pelo público - ainda que boa parte da crítica não tenha resistido em colocar sobre o trabalho o selo de "mais do mesmo". Mas o quarteto de Nashville, Tenessee, não deve estar nem aí pra isso, como mostra a campanha de divulgação do disco. Em pouco mais de meio ano o grupo já divulgou cinco videoclipes, sendo o mais recente, lançado na semana passada, para a música Reverend - a favorita do cast do Picanha, diga-se. O clipe tem um clima nostálgico, com a banda funcionando como parte de uma equipe policial de uma pequena cidade, que investiga a queda de uma pequena nave brilhante de formato orbital, que provoca uma série de acontecimentos estranhos. Vale clicar!






segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Cinema - Toni Erdmann (Toni Erdmann)

De: Mren Ade. Com Peter Simonischek, Sandra Hüller e Michael Wittenborn. Comédia dramática, Alemanha / Áustria, 2016, 162 minutos.

Hoje em dia vivemos em um mundo de aparências. Mais ainda com o advento das redes sociais. No Instagram temos vidas incrivelmente movimentadas e felizes. No Face mostramos como somos meticulosamente interessantes e bem sucedidos. Nosso lanche é o melhor. Nossa companhia, idem. Todos nós fazemos isso, o tempo todo. Não adianta balançar a cabeça aí do outro lado, achando que não. Lembra do primeiro episódio da terceira temporada de Black Mirror? Aquele em que as pessoas conferem-se notas o tempo todo, em todas as situações do cotidiano, sendo esses valores fundamentais para que seja consolidada a nossa existência na sociedade? É o que fazemos no Face, no Insta, no Snap, o tempo todo. Queremos curtidas, queremos amor em forma de cliques, para que as nossas existências simplórias ou vazias sejam referendadas por meia de dúzia de sujeitos que mal conhecemos e que, a bem da verdade, não devem estar nem aí para a data de nossa formatura, para aquilo que comi no lanche de tarde ou para o fato de estarmos em Mariluz no finde.

E o pior de tudo é que, em muitos casos, nas redes sociais, não somos nós mesmos. Podemos estar devastados por dentro, mas a fotinho sempre será de um momento de regozijo. A felicidade plena, estampada no sorriso amarelado do registro no Insta, sempre poderá estar banhada de melancolia se ela não for sincera. Hoje em dia a impressão é a de vivermos uma existência paralela que não a nossa, como se estivéssemos em uma espécie de Second Life em tempo real. Não somos nós. Não somos honestos, sinceros. Somos outros querendo agradar. E, em muitos casos, nos tornamos frustrados. Ou mesmo esvaziados por não sermos tão legais, atraentes, interessantes como as demais pessoas e suas vidas movimentadas e vibrantes. Talvez seja um pouco exagerado esse começo de resenha do espetacular filme alemão Toni Erdmann (Toni Erdmann) - nominado na categoria Filme em Língua Estrangeira - mas se fosse possível resumir a ideia por trás das quase três horas de duração da película da diretora Maren Ade, ela seria: sejamos nós mesmos!


Já dizia o escritor Jean Jacques Rousseau no clássico O Contrato Social: o homem nasce livre e por toda a parte encontra-se acorrentado. É muito provável que seja assim que se sinta a jovem Ines (Sandra Hüller, em excelente interpretação). Ela é uma bem sucedida mulher de negócios que trabalha em Bucareste, na Romênia. Um trabalho burocrático, claramente chato, que lhe consome, lhe deixa infeliz, mas lhe possibilita uma vida de luxo, de bons restaurantes, de festas de aparências, de homens ricos - ainda que pobres de espírito. É nesse ambiente atribulado e cheio de códigos de etiqueta e rígidos padrões de comportamento que Ines receberá o seu pai Winfried (o impágável Peter Simonischek) para o seu aniversário. Winfried é um idoso de espírito leve, sempre pronto para fazer alguma brincadeira ou pregar alguma peça nos demais. E para isso não hesita em se fantasiar, em usar perucas ou dentaduras postiças, criando outras personalidades para, com a maior das boas vontades (e até certa pureza), divertir aqueles que estão a sua volta.

É evidente que o mundo lúdico de Winfried, um pianista aposentado com tempo para ficar um mês ao lado da filha, entrará em choque com o comportamento frio de Ines e suas reuniões sisudas, almoços de negócios e metas de trabalho a serem cumpridas - afinal de contas, na atualidade, menos importam as interações sociais entre as pessoas ou mesmo a visita de alguém que amamos e que já tínhamos até esquecido. Hoje em dia existimos a partir da nossa contribuições econômicas ou mesmo tomando por base o quanto acumulamos de patrimônio. Não há tempo a perder. Time is money. Na expressão melancólica de Ines é exatamente isso o que vemos: a preocupação com a carreira acima de tudo. Com o capital. Com a ascensão social. Sendo que Winfried talvez ainda procure encontrar, nesse contexto, entre um meio sorriso e outro, um olhar doce, ou mesmo uma conversa (minimamente) descontraída, a garota provavelmente cheia de vida de outrora, alegre em sua infância leve ao lado do pai. E que, num mundo exaustivo como o de hoje, capaz de sugar as pessoas até o limite, se exauriu. Desapareceu.


E é por isso que Toni Erdmann é tão valioso: para nos lembrar que temos uma essência. Para nos fazer recordar daquilo que somos verdadeiramente. As sequências tidas como mais "estranhas" do filme - como aquela do aniversário - funcionam como uma espécie de metáfora para quem busca exorcizar um a existência pautada pela rigidez dos protocolos morais a que cotidianamente estamos submetidos. Um simples aniversário pode ser um dos maiores atestados de uma vida de aparências - sendo impossível não pensar nas festas infantis para crianças pequenas, recheadas do bom e do melhor, com decoração, buffet e tudo mais, mas com pais ferrados pensando em como pagar. Como quebrar isso? É forjando a existência de um personagem - o tal Toni Erdmann do título -, que Winfried tentará fazer com que Ines lembre da importância das coisas simples. Talvez daquilo que realmente importa. Um abraço de quem gostamos. Um sorriso gostoso. É um filme naturalista, com roteiro riquíssimo (os diálogos impressionam). E que encontra ternura em cada instante. Impossível não se emocionar.

Nota: 9,3

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Cinema - A Qualquer Custo (Hell Or High Water)

De: David Mackenzie. Com Chris Pine, Ben Foster, Jeff Bridges e Dale Dickey. Faroeste / Drama, EUA, 2016, 102 minutos.

Subverter a lógica por trás da dicotomia eventualmente simplista que envolve mocinhos e bandidos - cada um defendendo o seu lado - é o que torna algumas obras não apenas mais complexas, mas também superiores, no que diz respeito a narrativa. Muitas vezes há mais camadas, mais nuances, que, se não são necessariamente "esfregadas" na cara do espectador, são apresentadas por meio de sutilezas ou detalhes que respeitam a inteligência de quem está assistindo e também modificam as nossas percepções sobre bem e mal ou certo e errado. Como exemplo, podemos citar o caso da série Breaking Bad: quem não torceu vertiginosamente para que Walter White conseguisse alcançar o seu "nobre" objetivo de deixar a família em uma situação financeira estável, após a sua morte? Ainda mais sabendo que, como professor de química, sua condição econômica era precária, num sistema que não valoriza o ensino? (aliás, qualquer semelhança...)

No caso de Walter, quem era o vilão? Ele, que na condição de traficante pensava - ao menos até certo ponto - no conforto e no bem estar de sua família? Ou algo maior, como o Estado que não lhe dá condições diante de problemas graves de saúde? Quem é o bandido, quando um homem negro, pobre e desesperado invade um supermercado pra roubar comida para os seus filhos? Se nos antigos filmes de faroeste bandidos e mocinhos eram retratados de maneira maniqueísta e unidimensional, hoje em dia o cinema parece ter mudado, servindo, em muitos casos, para uma análise mais ampla da vida em sociedade. E, assim, as individualidade podem ser vistas como parte do todo. E, nesse todo, conseguimos torcer para os eventuais "vilões", sem culpa. E é exatamente esse o caso do indicado ao Oscar de Melhor Filme A Qualquer Custo (Hell Or High Water), excelente obra do diretor David Mackenzie (do sensível Sentidos do Amor).



O filme se passa no interior do Texas - aliás, não por acaso, Estado natal do ex-presidente norte americano George W. Bush. No começo, somos apresentados aos irmãos Toby (Pine) e Tanner (Foster), que vivem de pequenos roubos a bancos. "Quem rouba bancos hoje em dia?" pergunta um senhorzinho sentado em um café de beira de estrada, no interior, diante do estupefato delegado Marcus Hamilton (Bridges), que tenta entender a lógica por trás das ações da dupla, que sempre leva pequenas quantidades e sempre do mesmo banco. Não demora para que passemos a compreender as intenções da dupla, que percorre o interior dos Estados Unidos cruzando cidadelas em que a crise imobiliária está instalada - aquela mesma de 2008 - com a população liquidando imóveis e buscando socorro em agências bancárias ambiciosas que lhes afundarão ainda mais. Toby e Tanner estão com a hipoteca do terreno da falecida mãe atrasada. E para garantir o futuro dos filhos de um deles, é necessário quitar a dívida, a qualquer custo, sob pena de perder o único bem da família.

A trama é simples, mas isso não significa filme preguiçoso. Aliás, muito pelo contrário. Mackenzie mostra versatilidade ao incluir símbolos e signos que conferem à obra um tom quase premonitório sobre o que se imagina de uma América que vá ser "grande de novo" - como espera o inexplicável presidente Donald Trump. Em um lugar em que todo mundo anda armado, até na igreja se for o caso, o racismo e o preconceito ainda fazem parte da rotina - aliás, nunca devem ter se apagado. Assim não chega a surpreender quando a personagem de Dale Dickey, diante da pergunta sobre a raça dos invasores do banco em que trabalha, responde com a pergunta: "da pele ou da alma"? Ali, estamos diante de uma América conservadora, obsoleta, anacrônica, empalidecida, que sonha em poder fazer piadas com índios e mexicanos novamente - como o faz o personagem de Bridges com o parceiro Alberto (Gil Birmingham), mas sem que ninguém o censure, o questione, o desafie. E, nesse sentido, um ponto a mais para Mackenzie por repaginar um estilo ultrapassado como o faroeste, mas sem esquecer daquilo que havia de mais patético em boa parte dos filmes comandados por John Ford e estrelados por John Wayne. Assim como naquela época, estão de volta os roubos a bancos. Só que hoje feitos por homens brancos, católicos e integrantes das "famílias de bem".


Com boa caracterização do trio central - a despeito do sotaque esquisito empregado por Bridges, que ainda assim foi indicado ao Oscar na categoria Ator Coadjuvante, e da repetição do papel de Foster (sempre o sujeito no limite do lunático)  - o filme ainda merece crédito pelo roteiro absolutamente original de Taylor Sheridan, primeira vez indicado ao Oscar. A edição de Jake Roberts, também lembrado nas premiações, é outro diferencial, com a obra funcionando tanto como um road movie que acompanha dois bandidos, como uma película contemplativa sobre os últimos dias de um delegado veterano antes de se aposentar - e as trocas entre ambas as histórias, conferem uma dinâmica à narrativa que a torna ao mesmo tempo urgente e plácida, objetiva e melancólica (algo reforçado pelas imagens suntuosas das planícies arenosas do Texas). A Qualquer Custo é a prova de que a safra de filmes nominados para a noite do dia 26 de fevereiro é uma das melhores dos últimos anos. Talvez seja o menor de todos os filmes - e a indicação talvez tenha pego alguns de surpresa. E, ainda é assim, é uma baita obra que merece ser vista!

Nota: 9,0

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Na Espera - Future Islands (Disco)

Quem acompanha a carreira do Future Islands sabe que o lançamento de Singles (2014) marcou a chegada do mais importante registro da carreira do trio - e não dá pra negar que a existência de uma música como Seasons (Waiting On You), talvez a melhor canção daquele ano, tenha contribuído muito para esse feito. Mas o que esperar de um novo trabalho dos norte-americanos? O anúncio da chegada do quinto álbum, intitulado The Far Field, foi feito no começo de fevereiro. O registro, que chega ao mercado no dia 07 de abril pelo selo 4AD, contará com 12 músicas, produzidas por John Congleton, que já trabalhou com nomes de peso como Sleater-Kinney, David Byrne, St. Vincent e Cloud Nothings.



Além da capa e da lista de músicas, a banda capitaneada pelo performático vocalista Samuel T. Herring - sério, se vocês ainda não assistiram, vale a pena ver uma apresentação da banda no programa do David Lettermann, cantando Seasons (Waiting On You) - o grupo de Baltimore também liberou o single Ran. A canção parece reforçar ainda mais o uso de sintetizadores à moda dos anos oitenta, com uma batida altamente dançante e refrão dos mais grudentos. Em resumo, tudo aquilo que adoramos no Future Islands. Sobre as outras canções, o que se sabe é que há uma participação especial da cantora Debby Harry, do Blondie, em Shadows. Sobre a parte instrumental, os arranjos de cordas e metais ficam a cargo de Patrick McMinn e a bateria com Michael Lowry.

Faixas:

01 Aladdin
02 Time On Her Side
03 Ran
04 Beauty Of The Road
05 Cave
06 Through The Roses
07 North Star
08 Ancient Water
09 Candles
10 Day Glow Fire
11 Shadows (Feat. Debby Harry)
12 Black Rose

terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Cinema - La La Land: Cantando Estações (La La Land)

De: Damien Chazelle. Com Ryan Gosling, Emma Stone, John Legend e J.K. Simmons. Comédia romântica / Musical, EUA, 2016, 128 minutos.

Assim como ocorria com o ótimo Whiplash - Em Busca da Perfeição (2014), La La Land - Cantando Estações (La La Land), nova obra de Damien Chazelle - e provável vencedor da estatueta máxima no próximo dia 26 de fevereiro, noite do Oscar - é um filme sobre pessoas em busca de sonhos, a custa de muito suor, sangue, lágrimas (e danças). Se na película de 2014 Miles Teller era um jovem baterista tentando ser o melhor de sua geração, aqui temos duas figuras distintas, mas com objetivos semelhantes: Ryan Gosling é o pianista de jazz Sebastian, que, apaixonado pelo vertente musical, sonha em abrir um bar na movimentada e modernosa Los Angeles, com o objetivo de fazer reviver nomes como Charlie Parker, Ella Fitzgerald e Miles Davis. Já Emma Stone vive Mia, atriz iniciante que deve conviver com a rotina cansativa de "nãos" em audições entendiantes, enquanto se vira nos trinta como atendente de um bar próximo a Hollywood.

Só que evidentemente há diferenças entre os filmes: enquanto em Whiplash o espectador se sentia tão oprimido e enclausurado quanto o protagonista, que trafegava com insegurança pelo conservatório enquanto era acossado pelo terrível professor Fletcher e seus modos ortodoxos (em papel que deu o Oscar a J.K. Simmons), em La La Land temos uma obra leve, de cenários multicoloridos, claramente nostálgica, excessivamente otimista e recheada de bons números musicais. Você certamente escutará por aí que o filme não é inovador, que presta uma "simples" homenagem aos musicais do século passado, que não é tudo isso que estão falando, que isso, que aquilo. Pois eu digo a vocês, sem medo de errar: ignorem qualquer pessoa que diga que não gostou de La La Land, pois há grande chance de ser pura presunção. As pessoas são livres para apreciar ou não esta ou aquela película: mas não há como resistir ao charme e a graça daquilo que foi construído por Chazelle.


A começar pelos minutos iniciais, em que vemos um plano-sequência (aparentemente) sem cortes, com dezenas de extras dançando e cantando, com coreografias perfeitas, em meio ao congestionamento que leva à capital mundial do cinema. É ali mesmo que seremos apresentados a Sebastian e Mia, que estão indo cada qual para as suas rotinas. O destino tratará de lhes aproximar, após desventuras na vida de ambos. Mia, por mais que se esforce, é ignorada pelos empresários e por gente do meio por não ser tão bonita - como ela imagina. Já Sebastian se dedica a um estilo considerado ultrapassado e que só é capaz de cativar senhores de mais de 90 anos de idade, como observará mais adiante o personagem vivido por John Legend. Enquanto encenam números musicais e trafegam pela "cidade proibida", Sebastian e Mia passam a ter um relacionamento. Aliás, um encontro que os fortalecerá, mesmo que isso possa não significar exatamente um "felizes para sempre". O que não deixa de ser mais um ponto positivo.

Escancarando com toda a vontade a intenção de mexer com o coração saudoso e nostálgico dos cinéfilos, Chazelle não se furta em realizar sequências que remetem a clássicos musicais, como O Picolino (1935) - um dos favoritos da casa, diga-se - ou Sinfonia em Paris (1951). Se Gosling e Stone não chegam a ser o Fred Astaire e a Ginger Rogers - aliás, o próprio Chazelle admitiu em entrevistas que a "insegurança" de ambos os personagens para o canto e a dança era proposital, como uma espécie de metáfora para as suas vidas complicadas - ambos compensam com charme, graciosidade e química, em cada uma das cenas em que aparecem juntos. E que nos fazem torcer muito por ambos. Stone, por sinal, dá um verdadeiro show de interpretação, com seus olhos grandes e angulosos e sorriso gigante. Ela parece sempre no limite da emoção, sendo capaz de entregar sentimentos complexos apenas com o olhar - e um eventual Oscar não será por acaso.


Adotando ainda a estrutura típica do realismo fantástico, tão vista em filmes do gênero - com os personagens cantando e dançando do nada, flutuando ou percorrendo cenários "irreais" - o roteiro, escrito pelo próprio diretor, ainda possui personalidade, mesmo nas cenas caricatas ou propositalmente descompromissadas. (e imagino ser impossível para qualquer cinéfilo ficar alheio ao som de Take On Me do A-ha, executada pela improvisada banda que, a certa altura do longa, tem Sebastian como um de seus integrantes) Sem querer parecer mais do que é, o caso é que La La Land talvez tenha ficado maior do que imaginavam os seus próprios realizadores - e as 14 indicações ao Oscar talvez comprovem essa tese. Mas inegavelmente é um filme gostoso de assistir, com figurinos riquíssimos e desenho de produção impecável, que ainda joga luz sobre um estilo cinematográfico hoje em dia esquecido mas que, talvez, em um mundo tão preconceituoso, intolerante e cheio de ódio, como o que vivemos hoje em dia, ainda tivesse muito a oferecer.

Nota: 9,5