quinta-feira, 30 de abril de 2015

Cinema - Frank

De: Lenny Abrahamson. Com Domhnall Gleeson, Maggie Gyllenhall e Scott McNairy. Comédia dramática, Reino Unido / Irlanda, 2014, 95 minutos.

A trama de Frank (Frank), boa surpresa do início da temporada, de alguma forma faz lembrar a do filme Quase Famosos, lançado há 15 anos. Só que, enquanto no filme do diretor Cameron Crowe o que se vê é a trajetória de um jovem jornalista da revista Rolling Stone, que é escalado para acompanhar a turnê dos seus ídolos - no caso a banda Stillwater -, na película do novato Lenny Abrahamson o jovem em questão é o tecladista John Burroughs (Gleeson), que sonha em ser famoso e fazer parte de uma grande banda. Algo que ocorre da noite para o dia quando, em um de seus passeios a procura de inspiração para letras de músicas, ele encontra os integrantes do grupo The Soronprfbs (sim, assim mesmo, praticamente impronunciável), que tentam salvar, vejam só, o seu tecladista, que tenta se suicidar depois de uma espécie de surto psicótico.

John é convidado para fazer uma apresentação local com a banda, enquanto o tecladista oficial se recupera. No local ele conhece o vocalista e compositor do grupo, o tal Frank do título. E é nesse momento que a obra ganha muitos pontos no quesito "filmes com personagens esquisitões que passaram algum tipo de trauma na infância, ou que sofrem de determinado transtorno mental". Frank é um sujeito de voz doce, extremamente metódico e criativo e que tem uma particularidade: ele usa uma cabeça falsa, o tempo todo. Exatamente como você vê na foto abaixo. Inclusive pra comer, tomar banho e dormir. A cabeça, inevitavelmente com a mesma expressão, o acompanha em toda a parte, onde quer que ele vá e independente do que ele faça. Frank não mostra o rosto e, conforme o filme avança, será possível entender parte de suas motivações.


Após a apresentação com o grupo, John é convidado a fazer uma espécie de retiro espiritual com os demais integrantes em uma casa de campo, com o objetivo de gravar o primeiro disco. Algo que, ao mesmo em que servirá como grande experiência para o jovem, se mostrará um processo doloroso e nem sempre agradável. O que será reforçado pelas diferenças criativas entre eles, já que John, em seu íntimo, sonha em ser um grande artista pop, enquanto Frank, com o seu perfeccionismo, procura retirar sons de objetos, galhos de árvores e instrumentos musicais exóticos, tentando encontrar a beleza em cada elemento, com a intenção de fazer o melhor álbum da história. Algo que, em uma espécie de contraponto, formará uma série de elementos desconexos e, inevitavelmente, de difícil assimilação para o "ouvinte médio". O que gerará certa impaciência da parte de John.

O filme - imperdível para quem gosta de música ou é instrumentista - dialoga bem com aspectos relacionados a modernidade. Não à toa um dos principais passatempos de John é postar vídeos e fotos da banda "trabalhando", jogando-os no Youtube e no Twitter - e quem acompanha artistas em processo criativo, sabe que isto é parte fundamental do jogo. As cenas em que o jovem tenta compor, com dificuldade, muitas vezes produzindo canções enfadonhas e de baixa qualidade, em contraponto a um Frank totalmente inspirado, capaz de criar música a partir dos pêlos arrepiados de uma manta (!) colocada sobre o sofá, estão entre as melhores desse longa saboroso, que não dramatiza e que encara seus personagens com leveza quase infantil. E que, além de oferecer uma série de discussões espertas sobre o fazer música na atualidade, ainda surpreende ao revelar o rosto por trás da máscara

Nota: 8,0


quarta-feira, 29 de abril de 2015

Separados no Nascimento: Gerson Hepp x Zach Galifianakis

Hoje o Separados no Nascimento traz uma presença ilustre aqui no blogue: o destaque da vez é o estrelense, coloradasso, amigo, leitor e figuraça Gerson Hepp, mais conhecido como "Geba".

Quem conhece o Geba sabe o quanto já falamos da sua semelhança com o ator Zach Galifianakis, famoso pelo personagem Alan Garner da série de filmes Se Beber Não Case. Recentemente, Zach demonstrou também ser um ótimo ator dramático no oscarizado Birdman. Esperamos que a semelhança entre os dois fique só na aparência, tendo em vista as diversas confusões criadas pelo personagem na obra supra citada.

Quem é quem?

E aí, o que acharam da semelhança?

Quem sabe como seria se o Gerson fosse convidado pruma refilmagem brasileira da famigerada trilogia Se Beber Não Case, juntamente do "rei da comédia" (ironia mode on) brasileiro Leandro Hassum?

Se souberem de alguém que seja sósia de alguma celebridade, mande para gente!
Até o próximo Separados no Nascimento! 

terça-feira, 28 de abril de 2015

Disco da Semana - Cícero (A Praia)

É preciso que se diga que, após o lançamento do pretensioso, experimental e pouco acessível Sábado, álbum de 2013, havia uma expectativa toda especial para o novo registro do cantor e compositor carioca Cícero. Sábado era tudo aquilo que o seu primeiro disco, Canções de Apartamento, de 2011, não era: complexo, difícil e, em muitas medidas, irritante. Ao menos para o "ouvinte médio" - e eu, aqui, me incluo entre esses. Canções..., ainda que tivesse certo experimentalismo, era pop, sonoro, certeiro e recheado de hits que, até hoje, se mantém entre os favoritos dos fãs. É o caso das inesquecíveis Tempo de Pipa e Ensaio Sobre Ela que, não apenas representa(va)m um recorte fidedigno para aquilo que se convencionou chamar de "Nova MPB", como também eram o retrato de um artista em pleno estado criativo.

Pois o recém lançado A Praia, serve para "resgatar" esse Cícero que andava perdido pelas introspecções balbuciadas e excessivamente incompreensíveis do trabalho anterior, para recolocá-lo novamente no caminho daqueles que aprenderam a gostar dele não pelos recortes e fragmentos concretistas, que servem apenas como demonstração de um eventual virtuosismo, mas pela música pura e simples. Aquela que a gente gosta de cantar junto nos shows. Que nos acompanha. Que significa. Que nos faz mais leve a hora de limpar a casa ou de lavar a louça. Ainda que ninguém seja obrigado a agradar o público e muito menos as rádios - que todos nós sabemos que, atualmente, tocam qualquer coisa menos música (Univates FM, isso não é com vocês, tá?). Mas ficamos mal acostumados. E estamos felizes com o "reencontro".


Ainda assim, nunca é demais lembrar que se o trabalho, em sua aparência, tem uma "cara" mais acessível, é nos detalhes, nos barulhos, na colocação de um sopro aqui e ali, de um pianinho bem posicionado acolá, que Cícero continua se mostrando um artista de grande qualidade técnica, preocupado em explorar o melhor de suas influências - fruto da repetição da parceria com o produtor Bruno Schulz. A música título, por exemplo, não faria feio em um disco como o Amnesiac, do Radiohead, dado o seu instrumental pouco convencional e acabamento nada óbvio, com uma percussão quebrada, incomum. Já a melancólica, De Passagem, flerta com a música regionalista, especialmente pelo uso do triângulo. A divertida Isabel (Carta de um Pai Aflito), lembra Chico Buarque. E Cecília e a Máquina, cantada por Luiza Mayall, mais parece uma canção de ninar.

As letras são um espetáculo a parte e não tem como tema exclusivo o litoral - diferentemente do que ocorre com o ótimo Vista pro Mar, do capixaba SILVA. Cícero versa sobre a alegria de ir a praia depois de um convite inesperado, na faixa título; sobre as aflições de um pai que reza para que nada aconteça a sua filha, quando ela sai de casa, em Isabel; sobre um fim de tarde entre os arranha-céus, em Albatroz e até sobre o descompasso no tempo e no espaço provocado por um dia de chuva, em Soneto de Santa Cruz - Não teve som de obra / Não teve sol na sala / Choveu o dia inteiro lá em casa / Não teve pipoqueiro / Nem tristeza tava. O final, com a ótima Terminal Alvorada, encerra um disco curto em tempo - pouco mais de 30 minutos - mas grande em significados, especialmente em relação aos caminhos a serem tomados pelos artistas da música alternativa nacional. Salve Ciço!

Nota: 8,0


Grandes Cenas do Cinema (Ou Não!): O Incrível Mágico Burt Wonderstone

Filme: O Incrível Mágico Burt Wonderstone
Cena: Pimenta nos olhos dos outros...

Quem assistiu a O Incrível Mágico Burt Wonderstone (The Incredible Burt Wonderstone) sabe: o filme, sobre dois ilusionistas famosíssimos - talvez inspirados na dupla Siegfried e Roy - que começam a perder espaço quando um mágico de rua se torna famoso, após seus vídeos cheios de trucagens viralizarem, é uma bomba daquelas sem tamanho. Digna de Framboesa de Ouro. O "problema" é que a película do diretor Don Scardino conta com um Jim Carrey absolutamente impagável como o tal mágico de rua. A cena em que ele se apresenta desafiando qualquer lógica, com o objetivo de ficar 12 minutos sem piscar é daquelas de dobrar a barriga de tanto rir. O que faz lembrar o Jim Carrey das antigas, de filmes como O Máskara, Ace Ventura, Débi & Loide e outros tantos que assistimos na nossa juventude.


A cena fica mais engraçada, com o personagem do Steve Carell recebendo massagem, em sua mansão, enquanto vai se revoltando com as inovações do personagem de Carrey. Só que, como já dissemos, a cena é muito superior ao filme. Que, definitivamente, tem pouca graça.

segunda-feira, 27 de abril de 2015

Espaço do Leitor - Qual o Filme de Sua Vida?

Hoje, no Espaço do Leitor, quem participa é a super talentosa e querida repórter do Jornal A Hora, Tammy Moraes. A Tammy, além de escrever matérias incríveis no veículo em que trabalha, também é cinéfila de carteirinha - assim como a gente.

E a escolha de filme não poderia ser mais peculiar: o cultuado e complexo Waking Life, do diretor Richard Linklater, responsável por outras obras bem conhecidas e diversas, tanto em tema quanto estilo, como Boyhood e Escola de Rock.

"Uau, como é difícil falar de um filme só! Confesso que essa escolha é completamente baseada no momento em que estou passando agora. O nome Linklater foi bastante falado nos últimos meses por conta de Boyhood. Porém, antes do resultado desses 12 anos de gravações, veio Waking Life. Para mim, essa é a obra prima do diretor. O filme divide opiniões. Muitos o acharam um tanto difícil de acompanhar, pois não segue uma história contínua, e sim várias cenas “aleatórias” de pessoas conversando, filosofando e contando histórias sobre os mais variados temas. Apesar de usar atores reais, é como uma animação, tudo para dar a sensação de sonho. Fala muito sobre a forma que assumimos enquanto dormimos, e como a separamos de quem somos enquanto estamos na vida “desperta”. É uma viagem do começo ao fim, que rende muita reflexão."

Então, não deixem de conferir essa e outras dicas aqui no Picanha.
E continuem participando do nosso Espaço do Leitor. Uma boa semana a todos!

sábado, 25 de abril de 2015

Picanha Cast 23/04/2015

Resumo da semana no Picanha Cultural, com Tiago Bald. Espaço do leitor com Bette Davis e "Cinema Paradiso", o novo filme do diretor Paul Thomas Anderson ("Vício Inerente"), o quadro Pérolas do Netflix (Depois de Lúcia) e o novo álbum da banda Alabama Shakes são alguns dos temas abordados. Confiram!

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Programa Enciclopédia 95&1 apresentado por Tiago Segabinazzi.

sexta-feira, 24 de abril de 2015

Um encontro e um documentário: A Cidade, de Liliana Sulzbach

Sempre considerei o documentário como um dos grandes gêneros cinematográficos, embora pouco apreciado. Existem histórias que, de tão absurdas, só poderiam ser reais e cuja ficção seria taxada de inverossímil. E, justamente por saber que as situações ali retratadas são reais, o impacto torna-se ainda maior.

Há alguns dias atrás tive o prazer de encontrar a prima Liliana Sulzbach na festa da nossa família que ocorre anualmente, onde fui presenteado com um exemplar do curta-metragem A Cidade, uma de suas mais recentes produções. Pra quem não sabe, a Liliana é uma cineasta gaúcha com vasta experiência em documentários, tendo inclusive trabalhado na Alemanha. A maioria dos seus filmes são curta-metragens, tendo seu único longa-metragem (O Cárcere e a Rua, de 2004) sido premiado como melhor documentário no Festival de Cinema de Gramado. Dentre outras premiações, podemos ainda citar passagens por festivais como o de Berlim e Chicago, dentre outros - o que não é pouca coisa. Tentando deixar a corujisse de lado, afinal fazemos parte da mesma família, é um orgulho enorme poder me deparar com um trabalho tão belo por alguém tão próxima.


Jornalista com mestrado em Ciências Políticas, Liliana tem a sensibilidade necessária para tratar de temas sociais e delicados. Foi assim com o supracitado O Cárcere e a Rua, onde acompanhou a vida de três detentas de uma penitenciária em Porto Alegre, e acontece novamente neste A Cidade. Realizado sob forma de um webdocumentário (pode ser assistido online em um site interativo), este curta-metragem mostra um pouco da realidade da Colônia de Itapuã, localizada em Viamão/RS, onde a população é de apenas 35 moradores (todos acima de 60 anos). Ou seja, uma comunidade prestes a desaparecer. Como essas pessoas foram parar ali? De que forma criou-se esta situação? Confesso que não sabia nada da história antes de assistir, o que tornou o impacto da obra ainda maior.

A rotina dos moradores, com seus hábitos bem característicos, é retratada com extremo carinho pela câmera que, nas diversas horas de filmagens cuja equipe passou com os moradores, parece desaparecer - em um belo trabalho de edição. A fotografia nos presenteia com imagens lindas do local a medida em que elegantemente ocorrem as transições de imagens de arquivo até o tempo presente. Impossível também não se emocionar e envolver com os carismáticos moradores da localidade e suas histórias de vida, bem como a amizade que nutrem uns pelos outros. Mesmo com a curta duração do filme (o DVD possui duas versões do filme, uma de 15 e outra de 25 minutos), nos tornamos íntimos daquelas figuras tão amáveis, o que talvez seja o maior mérito da obra.

Liliana atualmente está envolvida em uma mini-série para a TV baseada nas canções do lendário grupo gaúcho Saracura, que teve na sua formação Nico Nicolaiewsky (Tangos & Tragédias) e esteve na ativa entre os anos 70 e 80. Dirigida e roterizada pela cineasta, a série deve ir ao ar até o final do ano.

Para assistir A Cidade online, além de navegar pelos menus interativos, acesse www.acidadeinventada.com.br.




quinta-feira, 23 de abril de 2015

Picanha em Série - Unbreakable Kimmy Schmidt

A divertidíssima e recém lançada série original do Netflix, Unbreakable Kimmy Schmidt, não é aquele tipo de programa que te pega imediatamente. Assim como ocorre com Seinfeld, Scrubs, Modern Family e outras tantas comédias americanas, é preciso uma boa dose de paciência nos primeiros episódios, até que tenhamos nos familiarizado não apenas com os personagens, mas com o conceito como um todo. Mas é preciso que se diga: quem se aventurar a ultrapassar a eventual desconfiança inicial, será recompensado por uma série recheada de piadas inteligentes e sarcásticas, que fazem uma espécie de de crítica generalizada ao modo americano de vida, com seus tabus religiosos, ânsia por consumismo, diferenças sociais, preconceito, sonhos, frustrações, entre outros. Nada mais natural, já que se trata de uma série concebida pela comediante Tina Fey - a mente por trás da ótima 30 Rock -, que se uniu ao roteirista Robert Carlock.

Kimmy, a protagonista, viveu durante 15 anos - desde que era uma jovem adolescente - em uma espécie de bunker, ao lado de outras três mulheres. As quatro foram sequestradas por um fanático religioso, que acreditava que o fim estava próximo e que ele ocorreria exatamente no dia 06 de junho de 2006 - algo relacionado ao tal number of the beast. Bom, o mundo não acabou e, após serem resgatadas por uma equipe da Swat, Kimmy e companhia devem redescobrir a vida e reaprender a viver, algo que, numa grande metrópole como Nova York, não será tarefa fácil. Kimmy precisa arrumar um lugar pra viver e isso implica em conseguir trabalho, dinheiro e todas essas coisa que lhe possibilitem um mínimo conforto. O problema é que ela ainda parece presa a um tempo em que a Cristina Aguilera era número um nas paradas e Friends era a série do momento.


A propósito das referências culturais, elas são uma das partes que tornam a experiência saborosa. Não são poucos os atores, cantores, comediantes e outras personalidades americanas ou não, que são citadas, conforme Kimmy vai tomando conhecimento do que a vida se tornou nos últimos anos. E é só pensarmos em quanto evoluiu a tecnologia na última década e meia para termos a certeza de que o processo de adaptação da protagonista - vivida de maneira altamente otimista pela atriz Ellie Kamper, de The Office - não será tarefa fácil. Não à toa, o simples fato de escolher uma roupa adequada aos tempos atuais, se torna algo complexo. Algo que inevitavelmente diverte, já que Kimmy, quase como uma Amelie Poulain nova-iorquina, pouco parece se preocupar, tão deslumbrada que está com a sua nova vida.

Outro ponto positivo são os coadjuvantes que, em muitos casos, roubam a cena. Titus Burgess, que já havia trabalhado com Tina em 30 Rock, é o amigo gay que sonha em ser famoso. Jane Krakowski é Jenna, a madame rica, cheia de frescuras, que se tornará chefe de Kimmy. E a veterana Carol Kane é Lillian, a estranha e desconfiada senhoria, que acredita em teorias conspiratórias. Mas esses são apenas alguns dos personagens que passarão a fazer parte da vida da protagonista, colocando-a nas situações mais curiosas. As participações especiais são um capítulo a parte, devendo gerar muitas gargalhadas, especialmente para aqueles que estiverem familiarizados com outros programas. Enfim, uma série que não fez nem a metade do barulho feito por House of Cards ou Orange is the New Black, mas que parece ter caído no gosto do público, que já aguarda ansioso pela segunda temporada, que já está confirmada.

quarta-feira, 22 de abril de 2015

Disco da Semana: Alabama Shakes (Sound & Color)

Senhoras e senhores: é com grande honra que nós, aqui do Picanha, trazemos pra vocês um daqueles espécimes raros que, desde já, é um dos fortes candidatos a disco do ano e, porque não, um dos novos clássicos desta década - o impressionante Sound & Color, da banda americana Alabama Shakes. Não é novidade a qualidade do grupo que, desde o lançamento de Boys & Girls no ano de 2012, vem conquistando um público cada vez maior e liderando festivais importantes como o Coachella, ocorrido recentemente. E a expectativa pelo segundo disco não foi só totalmente correspondida, como significou um passo além na carreira da banda capitaneada pela ex-motorista de caminhão Brittany Howard.

Howard, por sinal, continua cantando como nunca - e aqui, a cantora alcança vôos ainda mais altos no Southern Rock produzido pelo grupo, com falsetes e vocais rasgados até então inéditos mesmo para os padrões impressionantes do disco de estréia. Não à toa, Brittany é frequentemente comparada a divas da música tais como Janis Joplin, Etta James, Nina Simone, dentre outras. Provavelmente a melhor voz do rock atual, a compositora destila em seus versos letras sobre amor e solidão, tudo regado a muito soul e blues, um tipo de música de sonoridade atemporal - como se as músicas já existissem em um tempo há muito distante e só tivessem se revelado agora para o ouvinte.


Em Sound & Color vemos um material mais diversificado, com algumas surpresas, mas sem decepcionar os fãs da banda. Pelo contrário, acrescentando elementos que enriquecem ainda mais o já precioso catálogo do grupo. Este passo além já pode ser percebido logo na abertura com a faixa-título que, lenta e com teclados, traz uma performance vocal bem diferente da que estávamos acostumados, mas não menos bela. A faixa seguinte, a candidata a hit Don't Wanna Fight, traz um climão funkeado muito legal que já tem pinta de clássico e deve soar muito bem nos shows. Os instrumentos estão todos muito bem colocados, os timbres e linhas da guitarra fazem bonito, acompanhados pelo baixo e bateria belamente entrosados. Outro momento sublime vem na música Gimme All Your Love, que começa lenta e aos poucos vai revelando seus elementos bluesy, desembocando numa visceral canção de rock "classudo" - uma pérola.

As músicas que trazem mais novidade ao trabalho são a modernosa Future People, a hardcore (?) The Greatest, a auto-explicativa Shoegaze, e a jazzy Guess Who. A longa Gemini, de quase 7 minutos, é a mais experimental, lenta, arrastada - talvez a única que faça o ouvinte querer pular de faixa em todo o disco. As baladas de amor também estão presentes, tais como Dunes, This Feeling e Miss You que, valorizadas pela interpretação visceral de Howard, adquirem um significado ainda maior. Incrivelmente bem produzido, Sound & Color traz um som quente, vintage que, ao mesmo tempo que reverencia estilos clássicos (aos moldes da banda The Strokes), traz um som próprio facilmente reconhecível e relevante para esta segunda década do novo milênio. Isto só corrobora para que o Alabama Shakes seja considerado uma das bandas mais importantes da atualidade. Imperdível!

Nota: 9,5.


Lançamento de Videoclipe - Lykke Li (Never Gonna Love Again)

A cantora sueca Lykke Li - aquela mesma do famoso hit I Follow Rivers - anunciou um hiato, recentemente, o que deixou os fãs (eu, entre eles), entristecidos. Ainda assim, este fato não a tem impedido de seguir na divulgação do excepcional disco I Never Learn, lançado no ano passado. Como forma de promover o trabalho, ela lançou um clipe para a canção Never Gonna Love Again. Dirigido por Philippe Tempelman, o vídeo é protagonizado pela artista e combina bem com o clima da música, que é dramática até a última potência. Dá o play e confere lá!


terça-feira, 21 de abril de 2015

Cinema - Vício Inerente

De: Paul Thomas Anderson. Com Joaquim Phoenix, Josh Brolin, Owen Wilson, Reese Whiterspoon, Katherine Waterston e Benício Del Toro. Comédia / Policial / Drama, EUA, 2015, 149 minutos.

Se tem uma coisa que o diretor Paul Thomas Anderson - de obras soberbas como Magnólia, Sangue Negro e O Mestre - sabe fazer muito bem em seus filmes é respeitar o espectador. Ao nem sempre entregar para o público obras de fácil absorção ou mesmo dotadas de alguma complexidade - alguém aí falou em chuva de sapos em meio a projeção? - PTA (como é conhecido), parece muito mais interessado em encarar o cinema como uma experiência, seja ela visual, sonora ou mesmo sensorial, do que em produzir um tipo de filme palatável, com começo meio e fim - e que, convenhamos, é o padrão adotado em Hollywood desde sempre. E isto é exatamente o que ocorre com o recém-lançado Vício Inerente (Inherent Vice), adaptado da mirabolante obra de Thomas Pynchon, lançada em 2009.

Vício Inerente é uma espécie de noir, semelhante a obras como Chinatown, de Roman Polanski, que se passa nos anos 70 e que nos apresenta a um detetive particular (Phoenix) - que mais parece o personagem vivido por Nicholas Cage no recente Vício Frenético, do diretor Werner Herzog, onde ele interpretava um investigador viciado em vicodin e cocaína e que, eventualmente, realizava seu trabalho em estado letárgico. No caso de Phoenix, a droga em questão é a maconha e é abusando dela, que o detetive, de nome Doc Sportello, vai "tentar" esclarecer o caso que envolve o sumiço de sua ex-namorada (Waterson) e o assassinato de um milionário (Eric Roberts), que pode ter sido vítima de sua esposa e do amante. Tudo em meio a perseguições sofridas também por Sportello, já que um certo tenente Bigfoot (Brolin), não sai de seu "pé" - com o perdão do trocadilho.



Mas esse é só o fiapo da história, já que, conforme o filme avança, somos apresentados a uma série de outros personagens e de subtramas nem sempre bem desenvolvidas, mas que, metaforicamente, simbolizam o permanente estado de confusão mental vivido por Sportello. Não à toa, em meio as investigações, ele tem de conviver com acusações de assassinato e de envolvimento com casos de corrupção e de tráfico de drogas. O que faz com que nos perguntemos, de forma permanente, se aquilo que vemos na tela se trata da realidade ou de mais uma das viagens do detetive. E as idas e vindas dos personagens, os encontros e desencontros - com algumas participações especiais - contribuem para o clima de aparente "confusão". Tudo embalado em um colorido psicodélico, com penteados e figurinos bem ao estilo da época, o que dá um charme a mais a película.

Ao incluir no filme discussões relacionadas ao governo Nixon, a contracultura, aos neonazistas, aos Panteras Negras, aos hippies, ao sonho americano e até a investigação do assassino em série Charles Manson, Anderson constroi um panorama de um período marcante da história americana. E que, traduzido para os dias atuais, bem poderia ser representado pelo debate ideológico entre o conservadorismo um tanto opressor - representado por Bigfoot e seus "comparsas" corruptos - e os sujeitos a margem da sociedade, as minorias, ou mesmo as almas de espírito livre - caso de Sportello. E ao percebermos todas as peças se encaixando no terço final, ao organizarmos todos os pontos abordados por esse grande filme, é que temos um momento de iluminação, bastante semelhante ao vivido pelo nosso protagonista, ao perceber qual o real interesse das grandes corporações, por um grupo de drogados.

Nota: 8,5


segunda-feira, 20 de abril de 2015

Pérolas do Netflix - Depois de Lúcia

De: Michel Franco. Com Tessa Ia, Hernán Mendoza e Gonzalo Vega Sisto. Drama, México / França, 2013, 143 minutos.

É provável que poucos filmes, daqui pra frente, consigam ser tão contundentes e realistas em relação a um assunto tão na moda (quanto batido) como o bullying, como nesta pérola franco-mexicana chamada Depois de Lúcia (Después de Lúcia). Um filme amargo, nem sempre fácil de ser encarado, mas que escancara as deficiências na hora de tratar do assunto em todas as esferas - e que abrangem não apenas a escola, mas também a família, os amigos e ao sistema como um todo. A trama nos apresenta a Roberto (Vega Jr.) que, ao lado da filha Alejandra (Ia), de apenas 15 anos, tenta reiniciar a vida em uma nova cidade, saindo de Porto Vallarda, em direção a Cidade do México, após uma aparente tragédia ter ocorrido na vida de ambos.

Alejandra, como é natural para qualquer jovem de sua idade, tenta se ambientar ao novo lugar, se aproximando, na medida do possível, dos novos colegas. Ela senta na mesma mesa de alguns amigos da no barzinho da escola, conversa, dá risada, combina a festa do fim de semana e reclama de coisas prosaicas, como costumam fazer os adolescentes. Tudo apresentado de maneira extremamente naturalista, com diversos planos sequência que mantêm a câmera fixa nos personagens durante diversos minutos, acompanhando as suas interações. A impressão que se tem é a de se estar realmente diante de um grupo de estudantes. Enquanto Alejandra se ocupa com a escola, seu pai, que trabalha como chef de cozinha, se esforça para se adequar ao novo serviço em um restaurante.


É uma relação pautada pelo amor e pelo respeito mútuo, ainda que ambos aparentem ter lá muita proximidade. E a cena em que Roberto instiga Alejandra sobre a possibilidade de ela ter fumado maconha nos dias antes de entrar para o colégio, é um desses momentos que mostra a afinidade entre pai e filha, sendo que esta nunca descamba, mesmo nos momentos mais complicados, para o descontrole emocional, ainda que, eventualmente, ambos estejam no limite. Só que as coisas começam mesmo a sair do controle quando a jovem vai para a casa de campo de um colega em um fim de semana e tem um vídeo de uma relação sexual revelado para todo o colégio por e-mail, nos dias que se sucedem ao acontecimento. O que, naturalmente, torna a vida da estudante um inferno.

O filme, uma estreia consistente do diretor Michel Franco que venceu a mostra Um Certo Olhar, em Cannes, discute diversas questões relacionadas ao papel da mulher na sociedade, que é muitas vezes oprimida, especialmente quando o assunto é sexo. E o que surpreende ainda mais na obra: os mesmos jovens que não se furtam a acender cigarros, a encher a cara e a ter despreocupadas relações sexuais, são os que censuram Alejandra, apenas por ela ter sido "filmada" enquanto transava. O que não deveria ser um problema, mas é, já que vivemos em uma sociedade pautada pela culpa religiosa e pelo (falso) moralismo. Sem aliviar nas cenas em que os colegas de Ale a humilham, a rebaixam, a oprimem e a menosprezam de todas as formas possíveis, Franco transforma o seu trabalho em uma espécie de alerta para pais e educadores, muitas vezes sujeitos alheios a brutalidade que toma conta dos jovens nas escolas. Como diz o cartaz, esse filme imperdível é baseado em "diversas histórias reais".

Espaço do Leitor - Qual o Filme da sua Vida?

Hoje quem fala a respeito do filme de sua vida é o amigo, ex-colega de trabalho, jornalista e produtor de moda Douglas Petry - aliás, os trabalhos dele quando era editor o Caderno Mais Atual, do jornal A Hora, eram dignos dos melhores encartes dos periódicos da capital. O Douglas escolheu um filme que, particularmente, também me emociona. E que, com certeza, é dos favoritos da casa aqui no Picanha. Confira!

Escolher apenas um filme é um desafio. Muitos me marcam, encantam e emocionam. Para este espaço decidi por um título que assisti ainda na adolescência e está na minha lembrança até hoje. Cinema Paradiso (Nuovo Cinema Paradiso), é um longa italiano, que narra a história de Totó, um coroinha que corre para o cinema depois das missas, e Alfredo, um projecionista.

Na infância, Totó era apaixonado pela sétima arte e ia ao cinema escondido. Desenvolveu uma relação com Alfredo, que foi perdida quando se mudou par Roma, onde se tornou um bem sucedido cineasta. Retorna à cidade do interior 30 anos depois, ao receber um ligação da mãe contando que o projecionista morreu e o cinema será destruído para a construção de um estacionamento. Logo de cara se percebe que a história gira em torno, na realidade, da paixão pelo cinema.

A sensibilidade da história é dosada com humor e belos cenários de Sicília, na Itália. Impossível não se encantar com a relação entre Alfredo e o menino, que se estreita no decorrer da história e arranca lágrimas ao final, quando o crescido Totó assiste um rolo feito pelo amigo com todas as cenas cortadas dos filmes exibidos no Cinema Paradiso por censura do padre.

A maior reflexão que o longa provoca é sobre a “baixa” dos cinemas de rua, que começou justo na época do lançamento, em 1988, quando os shoppings começaram a se popularizar e as salas de exibição irem para dentro destes espaços. Outro ponto forte é a trilha sonora. Ouso dizer que é a responsável por boa parte da sensibilidade das cenas. Com certeza uma história marcante, que ficará para sempre em minha memória, principalmente pela canção tema, com o mesmo nome do filme.

sexta-feira, 17 de abril de 2015

Picanha Cast 16/04/2015

Reumo da semana no Picanha Cultural, por Henrique Sulzbach de Oliveira. Separados no Nascimento, o filme "Antes de Dormir", os seriados "Bloodline" e "Louie", são alguns dos temas abordados. Confiram!


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Programa Enciclopédia 95&1 apresentado por Tiago Segabinazzi.

Disco da Semana - Passion Pit (Kindred)

Existem algumas bandas que caminham tão no limite da linha divisória que separa o som alternativo do pop, que fica praticamente impossível categorizá-las, estando pautado apenas por esta simplificada dicotomia. E é preciso que se diga que esse é caso dos americanos do Passion Pit. Desde o lançamento do seu primeiro álbum, Manners, de 2009, o grupo de Cambridge consegue uma proeza nem sempre fácil: reunir numa mesma pista de dança da boate descolada o fã de música indie que aguarda ansiosamente por Rebellion (Lies) do Arcade Fire e a patricinha impecavelmente vestida que, ao lado das amigas da faculdade, dança freneticamente ao som de Roar, da Katy Perry.  E isso não é pouca coisa em um mundo em que as categorizações musicais chegam a ter nomes tão diferentes como freak folk ou dream pop.

Essa sensação de "cruza" de música comercial, com aquela consumida pelos chamados hipsters apenas se ampliou com o lançamento do absolutamente explosivo, dançante e divertido Gossamer de 2012. Utilizando-se de teclado, sintetizador, baixo e bateria, o grupo comandado por Michael Angelakos compila uma sequência de canções tão grudentas e pegajosas, cheias de vocais em falsete, ô ô ôs, corais e outros barulhinhos, que seria capaz de fazer a Lady Gaga corar. Se ela tivesse vergonha de alguma coisa, claro. E se você nunca escutou canções como Take a Walk, I'll Be Alright, Carried Away e Mirror Sea que estão no já citado disco, faça um favor a si mesmo: ouça agora! Especialmente se você for fã de Maroon 5. Ou de Vampire Weekend. Sei lá também. Vocês escolhem.



A propósito do disco anterior, é bem provável que ele tenha se tornado, com o passar do tempo, uma espécie de problema para a banda. Afinal de contas, como superar o "monstro" criado por Angelakos e companhia? Bom, a tentativa ocorre agora, com o recém-lançado Kindred - e talvez a capa do álbum, que mostra um guri assustado em meio a uma reunião de família traduza bem esse sentimento. Ainda que não alcance resultado tão impactante como o de Gossamer, o trio entrega, novamente, uma boa leva de composições, que servirão para fazer a festa (literalmente) dos fãs. Canções como Lifted Up (1985), All I Want, Until We Can't (Let's Go) e My Brother Taught me How to Swim mantém o clima animado, como se a moçada resolvesse ficar um pouco mais na festa.

Só que, como se já tivesse se preparando pra um ressacão que virá no dia seguinte, a banda também parece desacelerar em alguns momentos, como em Whole Life Story, Looks Like Rain e na irritante Ten Feet Tall (II), que exagera nas brincadeiras eletrônicas, com distorções vocais que, desde a época em que a Cher cantava no rádio, não apareciam. O clima de pós-festa é reforçado por algumas letras, que se não chegam a ser tão melancólicas como as do trabalho anterior - sim, há uma contradição entre os arranjos geralmente festivos e os versos nostálgicos e que remetem a desventuras amorosas -, aparecem como mecanismo que reflete a alegria por (re)encontrar uma paixão, um amor antigo ou mesmo um amigo. Algo bem tradicional na música pop, diga-se.

Nota: 7,5


quarta-feira, 15 de abril de 2015

Picanha em Série - Louie

Existem séries que passam a nos acompanhar por diversos momentos de nossa vida, onde aprendemos, rimos e choramos com os seus personagens. Devido a longa duração, acabamos por nos envolver com seus protagonistas mais do que em um longa-metragem, por exemplo. Vemos os atores envelhecer, amadurecer, errar, acertar, nos tornamos íntimos. Depois de assistir Breaking Bad eu pensei que nunca mais uma série iria me conquistar da mesma maneira. Eu estava certo, até assistir Louie

Louis C.K. é considerado o melhor comediante stand-up da atualidade. Seus shows tratam de diversos temas de forma despudorada, desafiando tabus, o que pode chocar muitas pessoas não acostumadas a este tipo de humor. Se você considera Rafinha Bastos e Danilo Gentili ousados, ou politicamente incorretos, com certeza não conhece Louie. A diferença está na inteligência do humorista, que reside na forma com que seu humor é apresentado: o alvo das próprias piadas (minorias, no caso de Gentili, o rei da piada-bullying) é ele mesmo - quando rimos, rimos do ridículo das situações que ele narra e não das pessoas que muitas vezes são alvo das piadas .


E eis que em Louie, a série, vemos a entrega de C.K. à sua arte. Intercalando momentos de seus shows com sua vida pessoal, passamos por uma série de sensações, seja através do riso ou da própria dor e insegurança de nosso protagonista - que, de forma terapêutica, acabam sendo a inspiração para suas piadas. Gordo, calvo, feio (segundo o próprio), divorciado e com duas filhas, Louie é um homem comum - nada mais inapropriado para uma série que busca sucesso de público - mas por isso mesmo tão universal. É possível nos identificarmos com suas dores, as situações que o homem comum enfrenta em busca de aceitação e amor.

Um dos episódios, onde Louie declara seu amor à sua amiga Pamela, é uma das coisas mais tocantes que eu já assisti. A coragem do homem, que se esconde sob a pecha de humorista, de se revelar episódio após episódio, é louvável - uma espécie de auto-análise que serve de catarse em forma de arte. Robin Williams, por exemplo, era conhecido por seu humor, o que não foi suficiente para camuflar um homem profundamente amargurado, cuja vida tornou-se impossível de suportar. Louie parece sofrer do mesmo mal e, como "amigo" que me tornei desta figura tão tragicômica (e hilária!) ao acompanhar seus percalços, espero que continue tornando sua existência mais suportável ao nos presentear com verdadeiras pérolas de sua arte, enriquecendo consequentemente nossas vidas muitas vezes ausentes de sentido.  

Novidades em DVD - Antes de Dormir

De: Rowan Joffe. Com Nicole Kidman, Colin Firth e Mark Strong. Suspense, Reino Unido / França / Suécia, 2014, 92 minutos.

Na comédia romântica Como se Fosse a Primeira Vez, lançada em 2004, Adam Sandler é um veterinário paquerador que vive no Havaí e faz de tudo para conquistar Lucy, vivida por Drew Barrymore. O problema é que Lucy sofre de uma doença que afeta a sua memória de curto prazo, o que obriga o personagem de Sandler a reconquistá-la todos os dias novamente, já que ela é incapaz de se recordar dos eventos do dia anterior. Pois a premissa do suspense Antes de Dormir (Before I go to Sleep), não deixa de ter lá alguma semelhança com a já citada comédia. Na trama elaborada pelo diretor Rowan Joffe, Nicole Kidman vive Christine Lucas, uma mulher que sofreu algum tipo de trauma que a impede de se lembrar o que aconteceu na sua vida nos últimos 20 anos.

E o que pior: de nada adianta absorver novas informações, já que seu cérebro não tem a capacidade de armazená-las por mais de um dia. O que ocorre devido a um acidente que ela teria sofrido há cerca de 10 anos. Dessa forma, assim como ocorre com Sandler em Como se Fosse..., cabe a Ben, o marido vivido por um dedicado Colin Firth, tentar aplacar o sofrimento do casal, fazendo-a lembrar todos os dias, por meio de fotos expostas em um mural, qual é o papel de Christine no mundo. Só que quando a protagonista começa a receber ligações de um certo doutor Nasch (Strong), um neurocientista que pretende ajudá-la a encontrar pistas sobre o seu passado ou mesmo o que realmente ocorreu em seu acidente, ela percebe que nem todas as coisas a sua volta são o que parecem ser.


Apesar da boa premissa, é preciso que se diga que a execução deixa, em boa parte da trama, a desejar. O clima criado até é de bom suspense, com cenários claustrofóbicos e aquela fotografia acinzentada típica de filmes sobre conflitos domésticos na grande cidade. Só que o espectador mais ligado vai sacar rapidamente as "surpresas" do roteiro, o que talvez dilua a experiência apenas em um amontoado de clichês do gênero que, infelizmente, enfraquecem a narrativa. Os flashbacks, como eram de se imaginar, estão lá. Assim como as cenas de - como costuma dizer um amigo - "bigorna caindo", que apenas servem para dar sustos gratuitos na plateia, sem nenhum lógica de existir. E, alguém poderia me explicar o por quê de Christine quase ser atropelada, sei lá, umas quatro vezes no filme?

O elenco até se esforça em entregar boas atuações e não dá pra negar que os diálogos no inglês da terra da Rainha conferem um charme a mais pra obra. Mas ainda assim é muito pouco para um filme que, no fim das contas, ainda quer dar uma liçãozinha de moral barata, bem ao estilo do americano médio, um tanto purista e extremamente carola. O filme Como se Fosse a Primeira Vez se não era nenhum primor cinematográfico, ao menos divertia. Este Antes de Dormir, na sua pretensão de se levar extremamente a sério, torna inócua qualquer tentativa mais aprofundada de fazer suspense. Conseguindo, de quebra, ainda desperdiçar talentos como o de Firth, que até Oscar já ganhou e, sabe-se lá por que, aceitou o papel nesse filme.

Nota: 4,5


terça-feira, 14 de abril de 2015

Separados no Nascimento - Rodrigo Macedo x Leandro Hassum

Continuando a nossa busca por pessoas que se assemelhem com algum artista, seja ele ator, cantor, diretor de cinema ou ex-BBB, hoje é a vez do nosso grande amigo, comentarista do Grupo Independente, Rodrigo Macedo da Silveira. Pois não é que o Macedão, como é conhecido nos bastidores do mundo rádio, é a cara do ator e comediante da Globo Leandro Hassum? Só que a meu ver, há aí uma grande diferença: quem conhece o Rodrigão sabe que ele é um cara MUITO mais engraçado e divertido do que o Hassum. Não à toa, aceitou numa boa participar do nosso Separados no Nascimento. As semelhanças podem ser constatadas na foto abaixo!


E você? Conhece alguém que seja parecido com algum artista? Se sim, entre em contato conosco que divulgamos a semelhança por aqui!

segunda-feira, 13 de abril de 2015

Lançamento de Videoclipe - SILVA (Volta)

O capixaba SILVA, vocês já sabem, lançou um dos discos mais elogiados do ano passado, o Vista pro Mar. Pois o cantor segue a todo o gás a campanha de divulgação do trabalho que agradou tanto a crítica quanto o público e que equilibra bem o pop sofisticado de clima praiano com elementos de música africana de estilos como reggaetown e kuduro. Não à toa, o recém-lançado clipe de Volta, dirigido por Angie Silva e William Sossai, se passa em Angola, com muitas cenas de dança relacionadas a cultura local. Um ponto a mais na carreira do músico que se consolida como um artista não apenas brasileiro, mas universal.


domingo, 12 de abril de 2015

Espaço do Leitor: Qual o Filme de Sua Vida?

Hoje o espaço do leitor é um pouco diferente do habitual. A amiga, professora e doutora em literatura Rosane Cardoso nos mandou um texto falando não de um filme apenas, mas fazendo um verdadeiro tratado sobre uma atriz que marcou a sua vida. E a escolhida foi a consagradíssima Bette Davis

A diva Bette Davis

"Não escrevo sobre um filme que marcou minha vida, mas sobre uma atriz: Bette Davis. Bette não se destacou no cinema pela beleza ou pelo corpo curvilíneo. O talento era pedra lapidada na vida mesma, nunca fácil para as mulheres, certeza decorrente, imagino, da infância e juventude difíceis. Quando olho para os filmes dela que revi inúmeras vezes, é difícil dizer qual deles prefiro. Alguns são deploráveis, é verdade. Mas como fã sempre arranja justificativas, acho que os ruins mostram que até os deuses são mortais, com o perdão do paradoxo. Arrisco-me a fazer uma pequena categorização, muito particular e nada cronológica:

No ranking Estou chegando, destaco Escravos do desejo, de 1934, dirigido por John Cromwel e coestrelado por Leslie Howard, ator que estouraria em 1939, como o chatíssimo Ashley, em E o vento levou, Bette encarna Mildred, uma garçonete sem escrúpulos ou ilusões, mas que justamente por isso engrandece o filme. Ela é, provavelmente, a primeira sociopata narcisista da telona. Uma delícia.

Do grupo Bette Diva despontam Jezebel, Perigosa e Perfídia. Como a “categoria” indica – e a crítica também – são as primeiras obras-primas de Davis. De fato, as três personagens são bem parecidas. Egocêntricas ou altruístas, geniosas ou calculistas, as protagonistas não fazem concessões diante do que querem. Um verdadeiro MBA.

O Chorem comigo compreende Tudo isso e o céu também, A estranha passageira e A solteirona. São grandes melodramas que, consequentemente, exigirão muitas lágrimas. O amor impossível e o sacrifício rondam a mulher misteriosa, distante, com um passado que a sociedade não perdoaria. Diante desta tríade, a cena que vale todos os ingressos do mundo: Bette e Claude Rains dividem um cigarro, sabendo que não podem ficar juntos: Don't let's ask for the moon. We have the stars. Maravilhoso...

Na sessão Poderosas e sozinhas coloco Vitória amarga, Mulher maldita, A carta, A grande mentira e A rainha tirana. Comentário? Bom, há coisas que queremos fazer, há outras que temos de fazer. Meu preferido? A carta: “Com todo o meu coração, eu ainda amo o homem que matei”.

Em Tarde de sábado se destacam A noiva caiu do céu, Dama por um dia e, o melhor, Satã jantou lá em casa. Valem cada minuto e são do tempo em que comédia romântica fazia algum sentido.

Em Fuck you, show business! estão três obras-primas da Bette, já no seu momento fênix, com muitos altos e baixos, tanto na carreira quanto na vida pessoal. Em A malvada (1950), Lágrimas amargas (1952) e O que terá acontecido a Baby Jane? (1962) a atriz dá o sangue e representa com conhecimento de causa os bastidores do entretenimento, em três fases da decadência artística. Clássica a cena da protagonista de Lágrimas amargas dirigindo bêbada por Beverly Hills, tendo um Oscar por companheiro. Detalhe: o prêmio pertencia, de fato, a Miss Davis. Outro presente do filme é a frase: Um bom filme é a única coisa de que preciso. Na mosca!

Da fase Ruim mesmo, só que é Bette: dá para comentar Nas garras do ódio, O aniversário, Com a maldade na alma e Alguém morreu no meu lugar? Melhor não. Há momentos realmente constrangedores... mas, se olharmos bem, sempre tem uma pérola escondida. Filmes para reavaliar. Mais ou menos.

O crepúsculo da deusa está de acordo com a cena: Baleias de agosto, história terna sobre a velhice e a solidão, filme quase bergmaniano. Tenho vontade de chorar de pena o tempo todo. Pena de mim e do cinema: ali estão três ícones: Bette, Price e Gish dando tchau. Lindo demais."


Então, difícil escolher um filme só não é mesmo?
Continuem participando aqui no Espaço do Leitor. Boa semana a todos!

sexta-feira, 10 de abril de 2015

PicanhaCast 09/04/2015

Resumo da semana no Picanha Cultural, por Tiago Bald. Monty Python, Espaço do leitor com a Tuane Eggers, Walking Dead, o novo disco do Death Cab for Cutie e o filme O Ano Mais Violento são alguns dos temas abordados. Confiram!

www.picanhacultural.com.br
www.facebook.com/picanhacultural

Programa Enciclopédia 95&1 apresentado por Tiago Segabinazzi.

Picanha em Série: Bloodline

O serviço de streaming Netflix, além do variado catálogo de filmes e séries, vem se dedicando a produzir conteúdo original de altíssima qualidade. Séries premiadas e cultuadas como House of Cards e Orange is the New Black não me deixam mentir. O spin-off entitulado Better Call Saul, de um dos personagens mais queridos da excepcional série Breaking Bad, Saul Goodman, também teve sua primeira temporada produzida pela empresa.

Bloodline é a mais recente empreitada no ramo das séries, cuja primeira temporada completa já está disponível para os assinantes do serviço. Misto de suspense com drama familiar, a série foi muito bem definida pela crítica de cinema Ana Maria Bahiana como um "noir ensolarado". Isto devido às belas paisagens do lugar onde a série se passa: Florida Keys, ao sul da flórida, cujas águas cristalinas servem de contraponto à escuridão das relações familiares retratadas pela história.


A trama inicia quando o misterioso Danny, uma espécie de filho problema (embora não saibamos exatamente o porquê), retorna para a festa de celebração dos 45 anos do hotel de sua família, ocasionando um mal estar que acaba por alterar toda a dinâmica daquelas pessoas. Narrada em off pelo detetive local interpretado por Kyle Chandler (o policial que perseguia o DiCaprio em O Lobo de Wall Street), a trama deixa claro que há uma tragédia iminente que ronda a família liderada pelo casal interpretado pelos veteranos e talentosos atores Sam Shepard e Sissy Spacek. Soma-se à família o esquentado Kevin (Norbert Leo Butz) e a advogada adúltera Meg (Linda Cardellini), que vivem próximos à propriedade da família, e está formado um caldeirão prestes a explodir.

Densa e recheada de boas interpretações, Bloodline vem colhendo elogios da crítica e público, sendo uma boa pedida para fãs de um entretenimento mais "adulto", aos moldes da maravilhosa série True Detective. E você, já assistiu? O que achou? Se não, fica a dica para o fim de semana! ;)

Assista abaixo o trailer da série:


quinta-feira, 9 de abril de 2015

Cine Baú - Quem tem Medo de Virgínia Woolf?

De: Mike Nichols. Com Elizabeth Taylor, Richard Burton, George Segal e Sandy Denis. Drama, EUA, 1966, 131 minutos.

Precursor do estilo filme-sobre-lavação-de-roupa-suja-em-família-feito-em-estilo-teatral, o clássico Quem tem Medo de Virgínia Woolf? (Who's Afraid of Virgínia Woolf?), de 1966, marca não apenas a estreia do diretor Mike Nichols - que mais tarde filmaria outras grandes obras como A Primeira Noite de Um Homem e Perto Demais - mas também uma das melhores interpretações da dupla Elizabeth Taylor e Richard Burton. Na pele do casal de meia-idade Martha e George, eles saem de uma festa discutindo sobre a participação da atriz Bette Davis em um filme antigo. Aquilo que poderia ser um prosaico debate entre dois intelectuais - ele, um professor universitário, ela, a filha do reitor - se torna um drama brutal repleto de mágoas e ressentimentos, que vêm a tona após a chegada na casa de um outro casal de convidados - os jovens Nick (Segal) e Honey (Dennis).

Nick é um recém-contratado professor da mesma universidade em que George leciona e vai até a residência dos protagonistas, por indicação do pai de Martha. Só que as duas da manhã, com uma boa quantidade de bebida alcoólica já consumida e com um clima hostil já na chegada, a promessa de uma noite tortuosa se confirma conforme passam os minutos - que, dado o incômodo, chegam a parecer intermináveis em alguns momentos. O clima é paranoico, com George e Martha envolvendo o jovem casal em uma espiral capaz de refletir a decadência de duas pessoas em crise de meia-idade, que apenas usam os seus convidados como desculpa para uma série de agressões verbais (e até físicas) e para insolentes joguinhos que deixarão os traumas e as feridas de todos ainda mais expostas.


Como forma de tornar o clima ainda mais angustiante, Nichols filma seus protagonistas com uma série de planos fechados e de closes oblíquos, que geram uma sensação ainda maior de claustrofobia. Baseada em peça de Edward Albee, o obra recebeu classificação indicativa como proibida para menores de 18 anos. Algo reforçado pelos diálogos rasgantes e repletos de ofensas. Martha só se diverte quando ri como uma hiena afirma George em certo momento. George não tem iniciativa, é um verdadeiro bundão contra-ataca Martha. Martha só fica enjoada quando está em um sanatório, retruca George. George faz qualquer um vomitar diz Martha. E assim segue a noite, com as agressões de parte a parte atingindo, em muitos casos, Nick e Honey que, acoados, só conseguem beber, numa tentativa desesperada de fuga.

O filme foi tão bem recebido pela crítica, que foi indicado para 13 estatuetas no Oscar de 1967, tendo ganho Atriz (Taylor) e Atriz Coadjuvante (Dennis), além de Direção de Arte, Fotografia e Figurino. Mesmo próxima de completar 50 anos, a obra se mantém poderosa, sendo influência clara para outras películas mais recentes como Deus da Carnificina, Qual é o Nome do Bebê? e até para o nacional Querido Estranho. Cheio de deliciosas histórias de bastidores - Taylor e Burton eram casados na vida real e se divorciaram mais tarde, em 1973 - o filme até hoje é considerado uma das melhores adaptações de um original de teatro transposto para as telas, aparecendo no 67º lugar na lista de 100 melhores do American Film Institute (AFI). Um clássico digno do nosso Cine Baú!


Grandes Cenas do Cinema (Ou Não!): Monty Phyton - Em Busca do Cálice Sagrado

Filme: Monty Phyton - Em Busca do Cálice Sagrado
Cena: Encontrando a fera de Caernenbaum

São tantos os momentos engraçados de Monty Phyton - Em Busca do Cálice Sagrado (Monty Phyton and the Holy Grail) que fica até difícil escolher apenas um deles para o quadro. Poderíamos falar do Cavaleiro Negro, ou até dos Cavaleiros que dizem Ni. Mas, na nossa concepção, nenhuma cena supera, em termos de graça, o encontro com a cruel fera de Caernenbaum, que nada mais é do que um adorável coelhinho branco. Durante o trajeto em busca do cálice sagrado, o Rei Arthur e seus companheiros devem passar por esse "perigoso inimigo". Quando eles se deparam com a tal fera o bicho acaba pegando - com o perdão do trocadilho. É de rolar de rir!




quarta-feira, 8 de abril de 2015

Disco da Semana: Death Cab for Cutie (Kintsugi)

Conforme consta na WikipediaKintsugi é o nome dado à arte tradicional japonesa de restaurar cerâmicas quebradas utilizando-se pó de ouro, prata ou platina. Ou seja, reúnem-se os cacos de algo belo que foi quebrado e tenta-se restaurar, com resultados muitas vezes ainda mais bonitos - mesmo que as "cicatrizes" permaneçam visíveis e como parte da história daquele objeto. A metáfora aqui é óbvia e certeira, e serve de mote para a temática do décimo e mais novo álbum da cultuada banda americana Death Cab for Cutie.

O grupo - inicialmente planejado pelo líder, compositor e vocalista Ben Gibbard como um projeto solo - insere-se na categoria indie-rock ou, mais precisamente, indie-pop, se levarmos em consideração os seus últimos lançamentos. Famoso por ter sido citado diversas vezes na série The O.C., o Death Cab for Cutie sempre foi conhecido pela temática sentimentalista das letras, sendo muitas vezes rotulado como uma banda emo, embora sem o "chororô" de seus similares de gênero. Sofisticação nos arranjos e uma beleza inerente às canções sempre foram características da banda, principalmente nos soberbos álbuns Transatlanticism (2003) e Plans (2005) - e aqui não é diferente, embora sem a mesma força das obras já citadas.


Com uma sonoridade limpa e alguma eletronice (resquícios do álbum anterior, Codes and Keys, de 2011), Kintsugi já começa direto ao ponto com No Room In Frame e seus versos sobre um relacionamento fracassado e a vida que segue. Difícil ouvir versos como "We'll both go on and get lonely with someone else" e não associar ao processo de divórcio de Gibbard (que foi casado com a atriz e cantora Zooey "Summer" Deschanel). Black Sun, a faixa seguinte e primeiro single do disco, dispara: "there is beauty in a failure". E por aí o disco segue, com seus lamentos amorosos - nada muito original, mas interpretado de forma sincera e sem dramas em excesso com uma bela roupagem pop.

Kintsugi é um disco fácil de se ouvir e que flui sem maiores problemas. Devido a homogeneidade das composições fica difícil apontar destaques, mas confesso que uma faixa trouxe aquela sensação de que aqui o grupo me faria retomar a mesma emoção de quando o conheci: Everything is a Ceiling possui eletrônica e guitarras em perfeita harmonia, com uma bela melodia para uma letra melancólica. De produção limpa, o Death Cab for Cutie se afasta cada vez mais das guitarras em alto volume do início de carreira e cuja retomada foi esboçada no álbum Narrow Stairs, de 2008. Que a boa arte costuma brotar dos momentos difíceis não é novidade e, embora não seja lá uma obra-prima, Kintsugi chega em boa hora nos trazendo um pouco mais de beleza e leveza para dias tão repletos de ódio.

Nota: 7,5.


terça-feira, 7 de abril de 2015

Cinema - O Ano Mais Violento

De: J. C. Chandor. Com Oscar Isaac, Jessica Chastain, David Oyelowo e Albert Brooks. Drama / Suspense / Policial, EUA, 2015, 125 minutos.

No pequeno clássico moderno O Pagamento Final (Carlito's Way, 1983), de Brian De Palma, Al Pacino vive um gângster que, recém-saído da cadeia, quer andar na linha pela primeira vez em muitos anos. Não demora muito para o seu próprio advogado - quem não lembra do Sean Penn de cabelos cacheados? - o envolva em uma trama de violência, corrupção e tráfico de drogas. De alguma forma Abel Morales (Isaac), protagonista de O Ano Mais Violento (A Most Violent Year), de J. C. Chandor, vive situação semelhante a de Pacino no já citado filme. Não que ele seja um bandido, longe disso. O problema é que ele herdou do sogro - esse sim, um famoso gângster nova-iorquino - uma empresa que produz combustíveis. E quer fazer todos os procedimentos da maneira mais correta possível, para ficar bem distante dos olhos da lei.

Só que a trama se passa em 1981, ano em que Nova York teria registrado os maiores índices de violência de sua história. Assim, não eram incomuns assaltos, roubos, furtos e assassinatos. E, Abel, como um bem sucedido empresário da indústria petrolífera, inevitavelmente se tornará um dos alvos favoritos de saqueadores que, em plena luz do dia, não hesitarão em assaltar seus caminhões abarrotados de combustíveis - que mais tarde serão comercializados como carga roubada, sendo comprados pelos próprios concorrentes do protagonista. Enfim, uma espiral de violência, sendo ela em muitos casos psicológica, de difícil solução para quem pretende se comportar de acordo com o que prega a moral e os bons costumes. E que coloca em risco não apenas os motoristas da empresa terceirizada que trabalha para Abel, mas todos que o rodeiam.


Em meio a esse contexto, Abel ainda pretende adquirir uma nova área para armazenamento dos seus produtos, junto a baía do rio Hudson, o que poderá facilitar a logística, ampliando também o espaço disponível para estocar a mercadoria. Algo que só será possível, se ele estiver com o nome limpo na praça - já que nenhum banco aceitará emprestar dinheiro a ele se seu nome estiver diariamente na "ronda policial" da rádio local. J. C. Chandor, que, após o ótimo Até o Fim (All is Lost, 2013), parece estar se especializando em sujeitos vivendo em situações limite, se inspira claramente em filmes de gângsteres dos anos 70 e 80 - sendo mais claras as referências a Chinatown e a O Poderoso Chefão. O que pode ser observado na adoção de uma elegante fotografia amarelada, aliada a personagens com personalidades complexas.

Tentando roubar a cena, Jessica Chastain aparece como a charmosa Anna, a esposa que, ao mesmo tempo em que tenta ser compreensiva com o marido, parece exigir deste uma maior capacidade de ação diante do perigo que ronda a família. E a cena em que ela não hesita em executar uma gazela agonizante que acabara de ser atropelada, é um claro indicativo da natureza um tanto mais direta no quesito "resolução de conflitos" de sua personagem. Equilibrando bem os momentos de suspense com os de drama, o filme ainda entrega uma cena de perseguição digna de um Operação França, clássico policial dos anos 70. Além de possuir coadjuvantes de luxo, como David Oyelowo, na pele de um promotor público. Todo um contexto que fez com que a obra passasse "raspando" no Oscar desse ano.

Nota: 8,0


Lançamento de Videoclipe - Blur (Lonesone Street)

Conforme se aproxima o dia 27 de abril, data oficial de lançamento de The Magic Whip, primeiro disco de inéditas do Blur desde o eletrônico Think Tank (2003), a expectativa dos fãs só aumenta. E, como ansiedade pouca é bobagem, a banda de Damon Albarn revelou nesta semana o videoclipe para a música Lonesome Street, um dos singles já liberados - os outros dois são Go Out e There Are Too Many of Us. Dirigido por Ben Reed, o clipe mostra uma companhia de danças chinesa, fazendo uma coreografia típica do país.


segunda-feira, 6 de abril de 2015

Espaço do Leitor - Qual o Filme da sua Vida?

Hoje quem fala sobre o seu filme favorito é a jornalista, atriz, artista plástica, fotógrafa, instrumentista - sim, a moça toca algum badulaque na música Nado, que está no último disco da Apanhador Só - e amiga Tuane Eggers. A nossa querida Tutu, como a conhecemos, selecionou um simpaticíssimo filme, explicando abaixo os motivos de ele estar entre os seus favoritos.

"É difícil pensar em um único filme entre um universo de tantos que amo, mas um que me tocou muito foi Eu, Você e Todos Nós (Me and You and Everyone We Know), da cineasta, escritora e artista plástica norte-americana Miranda July, lançado em 2005. Além do meu encantamento por ela, adoro esse filme porque não mostra amores nem ideais conquistados, mas sim universos peculiares de personagens de diferentes idades, em uma atmosfera muito delicada. Com cenas cotidianas que poderiam ser consideradas até mesmo banais, é um filme que traz a poesia que envolve os relacionamentos humanos. Vale a pena conhecer - essa e as demais obras da Miranda!"

E então, gostaram da sugestão da Tuane? Participe você também do nosso Espaço do Leitor. Escreva pra nós sobre o seu filme ou disco favorito que publicamos por aqui!

sexta-feira, 3 de abril de 2015

Disco da Semana - The Cribs (For All My Sisters)

Há alguns anos atrás, um trio de ingleses não tão conhecidos acabou por se tornar uma de minhas bandas preferidas da "terra da rainha". O The Cribs, formado em 2003 pelos irmãos Jarman (os gêmeos Ryan e Gary, mais o caçula Ross) fez, em seus dois primeiros álbuns, aquilo que a gurizada fã de Strokes tava acostumada a fazer: um rock sujo meio low-fi, melodioso, porém nada muito atraente. No entanto foi com o terceiro álbum, Men's Needs, Women's Needs, Whatever, de 2007, que o grupo pareceu dar o passo além na carreira. Recheado de riffs melodiosos extremamente bem sacados de característica peculiar, canções viscerais e apaixonadas, a obra, produzida por Alex Kapranos (vocalista da banda Franz Ferdinand), ganhou minha simpatia de imediato, tornando o Cribs uma banda a se acompanhar de perto.

O sucesso do disco no Reino Unido fez com que o guitarrista Johnny Marr, do The Smiths, viesse a se juntar ao grupo, inclusive nas composições. Com uma guitarra a mais, a banda aprimorou sua sonoridade no álbum seguinte, Ignore the Ignorant, de 2009. Com mais uma bela sucessão de canções, o Cribs mudava sem perder a identidade, nos presenteando com um grande disco que viria a se tornar o meu favorito da banda. Porém, reza a lenda, a banda acabou por "demitir" o veterano Marr por discordâncias quanto ao futuro das composições e do próximo álbum que viria a ser lançado - uma grande ousadia, por sinal. O resultado desta mudança foi o intenso In the Belly of the Brazen Bull, de 2012, que foi produzido pelo lendário Steve Albini, de álbums como Surfer Rosa, do Pixies, e In Utero, do Nirvana. O disco foi bem recebido e sua sonoridade mais crua e pesada deu um ar de jovialidade ao grupo, que chega em 2015 com seu novo disco: For All My Sisters.



A novidade desta vez não é tão grande, exceto pela mudança de produtor. O trio convidou para o novo álbum o produtor Ric Ocasek, vocalista da banda The Cars e conhecido por produzir os discos da banda americana Weezer. A escolha, podemos dizer, foi apropriada, visto que em For All My Sisters o grupo criou um repertório bem pop/rock, no estilo em que Rivers Cuomo e Cia costumavam fazer. Obviamente, ainda é o Cribs de sempre, com seus riffs e vocais tradicionais, e com a atmosfera mais crua do que os superproduzidos álbuns da banda supracitada. Uma aposta certa para os fãs, mas uma decepção para pessoas que, como eu, esperavam algo mais de uma de suas bandas prediletas.

Não que o álbum seja ruim - longe disso! - mas parece que carece de algo que surpreenda, como ocorreu nos últimos três discos. A sonoridade perde um pouco em intensidade se comparado ao disco anterior, In the Belly..., que guarda características similares a este lançamento. For All My Sisters é um disco previsível, sem grandes surpresas, e que conta com hits certeiros como Different Angle, Mr. Wrong e An Ivory Hand - esta última, por sinal, contando com alguns sintetizadores a lá Weezer, algo raro na discografia da banda. Pode funcionar como uma boa porta de entrada para novos fãs mas, em contrapartida, deve passar longe das listas de melhores do ano. Como costumam dizer sobre um de meus cineastas favoritos, Woody Allen, "um Allen meia boca é melhor que 90% dos lançamentos por aí", mudo o sujeito da frase para o Cribs que, mesmo sem ousar, acaba entregando um álbum acima da média em relação outras bandas de rock do momento.

Nota: 7,0


quinta-feira, 2 de abril de 2015

Picanha em Série - The Walking Dead (5ª Temporada)

[SPOILER ALERT]: se você ainda não assistiu a quinta temporada da série, e não quer "estragar" as surpresas, recomendamos que você não leia este texto.

O último episódio da quinta temporada de The Walking Dead foi ao ar no último final de semana, dividindo opiniões, e gerando grandes expectativas para os fãs, em relação aos eventos futuros da série produzida por Frank Darabont (dos filmes Um Sonho de Liberdade e A Espera de Um Milagre) e Greg Nicotero, entre outros. O grupo comandado por Rick Grimes (Andrew Lincoln) chegou, e se estabeleceu em Alexandria, uma espécie de forte capitaneado por uma mulher, Deanna (Tovah Feldshuh), que teria sido congressista no passado. Isso ocorreu após encontrarem, no caminho para Washington, o jovem Aaron (Ross Marquand), que disse haver um lugar inteiramente protegido em que poderiam reiniciar suas vidas, com disponibilidade de casa, comida, água, chuveiros elétricos e camisetas coloridas.

Ocorre que, após tudo o que o grupo passou nas temporadas anteriores, especialmente nos episódios que envolveram a destruição da fazenda e da prisão e, no início da quinta temporada, do terminal, anda difícil acreditar em qualquer sujeito que apareça prometendo a salvação, roupa lavada e uma cama fofinha - como se fosse político em época de campanha. O bando está embrutecido. Calejado. Sofrido. No início da temporada, Rick e companhia chegam ao tal terminal - após uma reta final bastante lenta da season four (ainda que recheada de momentos emocionantes). O local logo se mostra uma armadilha para capturar pessoas que possam servir aos líderes do Terminal - "servir", inclusive no sentido gastronômico. O resultado é um fogo cruzado sem precedentes e um início de temporada eletrizante, com a Carol (Melissa McBride), sendo a salvadora da pátria, após ter sido deserdada por Rick.



Após a fuga do local, o grupo conhece um novo personagem, o padre Gabriel (Seth Gilliam), que lhes dá abrigo em uma pequena capela no meio do mato. A série segue no ritmo inicial, com alguns integrantes do terminal ainda vivos, que seguem ameaçando a trupe - o que resultará na dramática morte de Bob (Lawrence Gilliard, Jr.). Falando em morte, após o desaparecimento de Beth (Emilly Kinney), que é encontrada "sem querer querendo" por Carol e Daryl (Norman Reedus, o nosso mestre) é que ocorre um dos momentos mais desoladores da série: quando, num desentendimento com a policial Dawn (Cristine Woods), no hospital, Beth é baleada e morre. Como desgraça pouca é bobagem, no episódio seguinte é a vez de Tyreese (Chad Coleman) "bater as botas", numa das mortes mais estúpidas envolvendo protagonistas até agora - mordido por uma criança zumbi, enquanto investigava a casa em que Noah (Tyler James Williams) morava.

Nesse contexto, a equipe já sabe que Washington DC é uma farsa e que o "pesquisador" Eugene (Josh McDermitt) mentiu ao dizer haver uma esperança de cura para o apocalipse zumbi. Ainda assim, o grupo resolve ir a pé, percorrendo os 160 quilômetros que os levariam até a capital americana, tentando manter a sanidade e alguma esperança. Como fã, o 10º episódio da temporada é um dos melhores e um dos que mais possui significados a respeito da atual condição vivida por Rick e companhia. Caminhando por uma estreita estrada interiorana (num belo trabalho cenográfico), o grupo bem poderia ser confundido com um amontoado de zumbis. Algo bastante emblemático na sequência em que o grupo de Rick caminha a frente, trôpego - com sede e fome -, sendo perseguido por uma horda de zumbis, alguns metros atrás.


E é justamente ao confundir o grupo de Rick com possíveis zumbis travestidos de humanos é que percebemos que, no fim das contas, aquilo que ainda poderia restar de humanidade nesses sujeitos, pode estar se perdendo a cada momento de pressão, de sofrimento, de angústia. Quando Aaron surge, cheio de boas vontades, todos ficam desconfiados (inclusive nós, espectadores), pois sabemos que, no mundo atual, os zumbis são o menor dos inimigos - e a elegência de Michonne (Danai Gurira), trucidando os mortos-vivos com a espada é um bom exemplo disso. Depois do Governador e do Terminal, Rick fará de tudo para manter os seus vivos - mandando a moral para o beleléu. A cena em que pergunta, após uma confusão em Alexandria, "quantos terá de matar para fazer o grupo viver?" também é um indicativo disso.

Todos desconfiam de todos e há um grande mérito do roteiro (fielmente adaptado dos quadrinhos, ao que me consta), nesse sentido: em um lugar aparentemente pacífico (Alexandria), haverá lugar para Rick e os seus, depois de tudo o que fizeram e passaram? Não à toa, em certos momentos, a impressão que fica é de que Rick, Daryl e companhia estariam, sim, se tornando os verdadeiros vilões da série, pelo rastro de morte que deixam, onde quer que passem. Ainda que o final da temporada tenha deixado uma ponta solta sobre a existência de um outro grupo (os Wolves), que poderá se tornar o real inimigo da sexta. O fato é que, novamente, a série fechou sua temporada de forma satisfatória, ao apostar nos questionamentos morais envolvendo os protagonistas, como fio condutor de uma série de tramas paralelas. Ainda que a relativa lentidão possa ter desagradado alguns.

A presença de Morgan (Lennie James), visto pela última vez na terceira temporada, a beira da insanidade, também deixa uma pimenta para o início da sexta temporada, uma vez que o encontro entre ele e Rick se dá exatamente no instante em que o segundo está assassinando Pete (Corey Brill). Pra finalizar, dispensam comentários a estética - a fotografia sempre amarelada traduz bem a palidez do mundo atual -, a maquiagem e as mortes zumbis, a cada vez mais divertidas. O figurino para essa temporada também passou por uma curiosa modificação, após a chegada em Alexandria. E vai dizer que ainda combina ver a Carol vestida com camisas e roupas da vovó ou Rick embalado em uma roupa de policial? Conhecendo o grupo como o conhecemos, eu diria que não. E que venha a sexta!


quarta-feira, 1 de abril de 2015

Separados no Nascimento - Tiago Bald x Kiko Freitas

Todo mundo tem aquele amigo ou conhecido que lembra algum artista famoso, não é mesmo?

E é pensando nisso que estamos retomando aqui no Picanha um dos quadros mais legais que o Tiago, sócio-fundador deste site, possuía no seu finado blogue: o Separados no Nascimento. Neste quadro a ideia é fazer um comparativo entre algum amigo ou leitor nosso que se pareça com alguma celebridade do mundo da música ou do cinema - nossa temática por aqui. E, pra começar a brincadeira, nada melhor do que rir de nós mesmos!

É certo que o Tiagão poderia ser comparado ao Rei Leônidas, o espartano do filme 300, ou até mesmo ao Doutor Marcelo, ex-BBB - alguém ainda se lembra dele? Mas é com o exímio baterista gaúcho de jazz Kiko Freitas que podemos realmente afirmar que o meu "sócio" aqui do blogue parece ter sido separado ao nascer. E a imagem abaixo não me deixa mentir:

Kiko Freitas x Tiago Bald, ou seria Tiago Bald x Kiko Freitas?
E vocês, o que acharam da semelhança?
Conhecem alguém parecido com algum artista? Mandem suas sugestões pra gente!

Lançamento de Videoclipe - tUnE-yArDs (Wait for a Minute)

A divertida banda de freak folk tUnE-yArDs lançou mais um videoclipe para promover o disco Nikki Nack, lançado no ano passado. Wait for a Minute se junta a Water Fountain e Real Thing, disponibilizados anteriormente. O vídeo é bem a cara da banda: um amontoado de recortes muito coloridos, até mesmo psicodélicos, que mostram, além da vocalista Merril Garbus, uma série de eventos cotidianos por meio de fotos e imagens de arquivo. Isso que essa música, ainda que dançante, é uma das mais calminhas do álbum!