A trama de Frank (Frank), boa surpresa do início da temporada, de alguma forma faz lembrar a do filme Quase Famosos, lançado há 15 anos. Só que, enquanto no filme do diretor Cameron Crowe o que se vê é a trajetória de um jovem jornalista da revista Rolling Stone, que é escalado para acompanhar a turnê dos seus ídolos - no caso a banda Stillwater -, na película do novato Lenny Abrahamson o jovem em questão é o tecladista John Burroughs (Gleeson), que sonha em ser famoso e fazer parte de uma grande banda. Algo que ocorre da noite para o dia quando, em um de seus passeios a procura de inspiração para letras de músicas, ele encontra os integrantes do grupo The Soronprfbs (sim, assim mesmo, praticamente impronunciável), que tentam salvar, vejam só, o seu tecladista, que tenta se suicidar depois de uma espécie de surto psicótico.
John é convidado para fazer uma apresentação local com a banda, enquanto o tecladista oficial se recupera. No local ele conhece o vocalista e compositor do grupo, o tal Frank do título. E é nesse momento que a obra ganha muitos pontos no quesito "filmes com personagens esquisitões que passaram algum tipo de trauma na infância, ou que sofrem de determinado transtorno mental". Frank é um sujeito de voz doce, extremamente metódico e criativo e que tem uma particularidade: ele usa uma cabeça falsa, o tempo todo. Exatamente como você vê na foto abaixo. Inclusive pra comer, tomar banho e dormir. A cabeça, inevitavelmente com a mesma expressão, o acompanha em toda a parte, onde quer que ele vá e independente do que ele faça. Frank não mostra o rosto e, conforme o filme avança, será possível entender parte de suas motivações.
Após a apresentação com o grupo, John é convidado a fazer uma espécie de retiro espiritual com os demais integrantes em uma casa de campo, com o objetivo de gravar o primeiro disco. Algo que, ao mesmo em que servirá como grande experiência para o jovem, se mostrará um processo doloroso e nem sempre agradável. O que será reforçado pelas diferenças criativas entre eles, já que John, em seu íntimo, sonha em ser um grande artista pop, enquanto Frank, com o seu perfeccionismo, procura retirar sons de objetos, galhos de árvores e instrumentos musicais exóticos, tentando encontrar a beleza em cada elemento, com a intenção de fazer o melhor álbum da história. Algo que, em uma espécie de contraponto, formará uma série de elementos desconexos e, inevitavelmente, de difícil assimilação para o "ouvinte médio". O que gerará certa impaciência da parte de John.
O filme - imperdível para quem gosta de música ou é instrumentista - dialoga bem com aspectos relacionados a modernidade. Não à toa um dos principais passatempos de John é postar vídeos e fotos da banda "trabalhando", jogando-os no Youtube e no Twitter - e quem acompanha artistas em processo criativo, sabe que isto é parte fundamental do jogo. As cenas em que o jovem tenta compor, com dificuldade, muitas vezes produzindo canções enfadonhas e de baixa qualidade, em contraponto a um Frank totalmente inspirado, capaz de criar música a partir dos pêlos arrepiados de uma manta (!) colocada sobre o sofá, estão entre as melhores desse longa saboroso, que não dramatiza e que encara seus personagens com leveza quase infantil. E que, além de oferecer uma série de discussões espertas sobre o fazer música na atualidade, ainda surpreende ao revelar o rosto por trás da máscara
Nota: 8,0