O Oscar 2021 passou e a aqui no Picanha a gente faz as nossas já tradicionais considerações sobre a maior premiação do cinema!
1) Sim, acreditem, as pessoas estão reclamando que a cerimônia desse ano foi anticlimática ou sem graça. Houve todo um esforço em fazer a premiação acontecer, em um ano de pandemia, em que há pouco espaço pra celebração. O que faltou exatamente? A pirotecnia? As intermináveis quase quatro horas, com apresentações ao vivo, piadas sem graça e homenagens desnecessárias? Eu confesso que gostei do foco ter sido praticamente total nos indicados e nos premiados. O clima intimista de poucos convidados também combinou. É uma adaptação que serve, inclusive, para honrar o momento triste que vivemos. Sem extravagâncias. Sem gastos exagerados. Com discrição.
2) Isso significa que a cerimônia foi irretocável? Não, longe disso. Ter dado o prêmio de Melhor Filme antes dos de Atriz e Ator foi pra desestimular o cinéfilo. Pior: quando soube que a premiação de Ator seria a última da noite, já desenhei o cenário para a conquista de Chadwick Boseman, por A Voz Suprema do Blues. Oscar póstumo. Comoção da família, dos amigos, dos pares de Hollywood. Mas não. Quem ganhou foi o Anthony Hopkins, que, em viagem na Europa, talvez só tenha ficado sabendo da vitória quando acordou. Em tempo, a vitória foi justa: sua caracterização em Meu Pai é comovente. Mas tudo se encaminhava para outra ideia, outro clima. Pegou todo mundo de surpresa, na real.
3) Um dos momentos mais altos da noite: o dinamarquês Thomas Vinterberg recebendo o prêmio pelo ótimo Druk: Mais Uma Rodada, na categoria Filme em Língua Estrangeira. A homenagem à filha Ida, morta em um acidente de trânsito no começo das filmagens, foi emocionante. "Se alguém acredita que ela está aqui conosco de alguma forma, vai poder vê-la celebrando e aplaudindo conosco", comentou, arrancando lágrimas do público.
4) Uma parte divertida da noite foi a vitória da Yuh-Jung Youn pela sua delicada caracterização em Minari. Ela falando da emoção de estar em uma premiação que ela sempre assistiu pela TV foi impagável!
5) Sim, Time, Collective e Crip Camp eram muuuuito mais relevantes do que Professor Polvo, o documentário vencedor. Mas eu admito que não me incomodou essa vitória. O Oscar foi democrático e importante no debate de questões políticas, sociais, raciais, de gênero em muitas outras categorias. Nas vitórias de Chloé Zhao e de Daniel Kaluuya. Na boa surpresa de Emerald Fenell. No próprio Nomadland. Nem tudo precisa ser militância o tempo todo, né?
6) Aliás, a própria distribuição de prêmios em si foi bastante democrática. Parecia festival de colégio, em que cada um ganha um prêmio pra ninguém ficar triste. Pra ser ter um exemplo desse espírito de "todo mundo ganha um pouco", Nomadland foi o grande vencedor ao faturar três estatuetas - Filme, Diretora (Chloé Zhao) e Atriz (Frances McDormand). Já os filmes Judas e O Messias Negro, O Som do Silêncio, Mank, A Voz Suprema do Blues, Soul e Meu Pai ficaram com duas estatuetas. Eu, particularmente, gosto assim. Muito melhor do que quando uma obra é consagrada com 10, 11 ou 12 estatuetas.
7) Em relação ás surpresas, fora Hopkins (que se tornou o ator mais velho da história ao vencer um Oscar aos 83 anos), também foi inesperada a vitória de O Som do Silêncio na categoria Edição. Todas as prévias indicavam que o carecão iria pra Meu Pai.
8) E não foi nesse ano que a Glenn Close venceu um Oscar. É que com uma carreira tão consagrada, seria no mínimo bizarro premiá-la com um filme tão estupidamente ruim quanto esse Era Uma Vez Um Sonho. A saga continua. E a torcida também.
9) Acho que o In Memorian desse ano mereceria mais tempo, mais respeito, mais discurso. Passou rápido demais, o que quase nos impede de reverenciar decentemente aqueles que nos deixaram. Ainda mais quando o quadro ocorre depois de uma bobagem envolvendo um quiz meio inexplicável, que ocupou looongos minutos.
10) Esperamos que ano que vem tudo volte ao normal. E que as coisas estranhas desse ano possam virar ótimas piadas nas mãos de Ricky Gervais.