quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

Novidades em Streaming - Apresentando os Ricardos (Being the Ricardos)

De: Aaron Sorkin. Com Nicole Kidman, Javier Barden, J. K. Simmons e Nina Arianda. Drama, EUA, 2021, 133 minutos.

Poucas vezes eu tive tantas dúvidas sobre se fiz bem ou mal em assistir um filme sem saber absolutamente nada da história por trás, como no caso de Apresentando os Ricardos (Being the Ricardos) - um dos lançamentos da semana na plataforma da Amazon Prime. Sim, pra quem se pretende um crítico - no meu caso, amador e, em permanente processo de formação - certamente faria bem saber um pouco mais dos bastidores do período retratado, fosse por meio de publicações da época, em artigos veiculados na imprensa, através de documentários ou de outros materiais que contribuíssem para uma leitura mais ampla de cenário. Só que o que fiz foi "apenas" assistir a mais recente produção do diretor Aaron Sorkin (de Os 7 de Chicago), sem qualquer informação a mais. E, bom, o que encontrei foi um bom entretenimento, uma obra razoavelmente divertida, que utiliza o componente político como pano de fundo e que adota ainda, de forma meio inevitável, a metalinguagem para estruturar o seu roteiro.

Protagonizada por Nicole Kidman e Javier Barden, a trama retorna setenta anos no tempo, para que possamos acompanhar uma semana de trabalho nos bastidores da sitcom I Love Lucy - um verdadeiro fenômeno televisivo da época e que chegou a ter picos de audiência de cerca de 60 milhões de pessoas assistindo ao programa ao mesmo tempo nos Estados Unidos (o Ibope ultrapassava os 70 pontos). Os anos 50, como muitos de vocês sabem, marcou o período também conhecido como Macarthismo - aquele em que o senador republicano Joseph McCathy utilizava toda a sua influência para promover uma verdadeira Caça às Bruxas à jornalistas, adversários políticos, ativistas e até atores e figuras ligadas à essa indústria, que pudessem ter algum envolvimento, alguma coneção que fosse, com o Partido Comunista. Parte dessa história, aliás, é retratada no ótimo Boa Noite e Boa Sorte (2005), filme dirigido e protagonizado por George Clooney e que chegou a figurar no Oscar naquele ano.


Ocorre que Lucille Ball (Kidman), a estrela de I Love Lucy - uma espécie de queridinha da América daqueles tempos -, é acusada de estar no "lado vermelho da força" após o vazamento de documentos que confirmariam a sua afiliação ao Partido. A época era a do pós-guerra e estar de um lado que não fosse o do imperialismo norte-americano poderia representar uma falta gravíssima, algo quase imperdoável para as famílias de bem que se instalavam no sofá para conferir as peripécias de Lucy, de seu amado Ricky Ricardo (o cubano Desi Arnaz é interpretado por Javier Barden), do avô Fred (o veterano William Frawley ganha o rosto de J.K. Simmons) e de sua candidata a par romântico Ethel (com Nina Arianda assumindo o papel que nos anos 50 era de Vivian Vance). Tentar limpar a barra de Lucille será o que parte dos executivos, dos produtores, dos patrocinadores, dos roteiristas, enfim, toda a equipe envolvida no seriado, tentará, talvez utilizando a própria série (suas piadas, suas gags, seus comentários sociais) pra isso.

Nesse sentido o filme é pródigo em estabelecer a semana de produção de apenas um episódio como uma espécie de evento decisivo, que poderá definir o futuro e a carreira de Ball. Em meio a idas e vindas com a própria construção da narrativa da série - o episódio envolve uma exótica sequência de jantar -, Lucille precisará também lidar com os problemas pessoais, que envolvem uma suposta traição do galanteador Desi (esse fato, sim, já sendo bastante explorado pelos tabloides da época, com a situação sendo devidamente piorada pelo fato de o astro ser cubano). A crítica especializada salientou bastante o exagero de Sorkin ao forçar a barra no componente político da história, deixando de lado elementos da vida pessoal de Ball que poderiam fortalecer a trama. Bom, como eu disse ali no começo, sei muito pouco sobre o que, de fato, teria acontecido nesse período. Mas o filme que vi foi bom. Se será suficiente para emplacar indicações ao Oscar o tempo dirá. O esforço dos atores me parece válido, ainda que suas personalidades, aqui e ali, sugiram uma certa palidez meio generalizada. Depois do estrondo que foi Os 7 de Chicago, acaba sendo realmente uma nota menor na obra de Sorkin.

Nota: 7,0


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