De: Alexandre Moratto. Com Christian Malheiros, Rodrigo Santoro, Vitor Julian, Lucas Oranmian e André Abujamra. Drama / Terror, Brasil, 2021, 94 minutos.
A real é que há pouco espaço para qualquer tipo de otimismo no que diz respeito a esse tema. O futuro é nebuloso - e, em muitos casos, parece o passado. E, aqui, entra o grande mérito do dolorido 7 Prisioneiros, filme nacional dos bons que está disponível na Netflix. Trata-se de uma obra pequena, de baixíssimo orçamento, mas que coloca o dedo na ferida na hora de escancarar o absurdo do trabalho escravo na contemporaneidade, seja como forma de sanar alguma dívida ou pelo simples cerceamento da liberdade que envolve o aliciamento de pessoas para trabalhos forçados. No filme dirigido por Alexandre Moratto (de Sócrates), o jovem interiorano Mateus (Christian Malheiros) aceita um trabalho em um ferro-velho da grande São Paulo. A proposta parece atrativa, com adiantamentos salariais e a oportunidade de dar dar melhores condições de vida aos familiares. Um movimento feito, provavelmente, por muitos jovens.
Só que quando Mateus chega ao tal ferro-velho - um lugar acinzentado, cheio de entulho, que parece emanar uma espécie de zumbido permanente - ele percebe que a esmola era demais pro santo não desconfiar. Ao lado de outros três jovens, é apresentado ao futuro patrão, um certo Luca (Rodrigo Santoro que, por sinal, está espetacular no papel). No limite entre o deboche e a boçalidade, Luca sairá da gentileza de araque para a total agressividade, assim que os trabalhadores entrarem em seu estabelecimento. Sem contrato de trabalho, num local completamente insalubre, sujo, o novo chefe os avisará de que eles estão em dívida com ele. Afinal de contas, deslocá-los do interior, alimentá-los, vesti-los, fornecer as ferramentas para a atividade e garantir um quarto (por mais fétido que ele seja) requerem algum valor. Um valor que já faz com que eles arranquem "devendo" cerca de seis meses de trabalho. Um trabalho pesado, judiado, em que desencapar metros e metros de fios de cobre é a tarefa mais "leve" do dia.
E, claro, tudo vai piorar quando eles começarem a se rebelar e a exigir o mínimo. Tentativa de fuga? Não, nem pensar. Qualquer sinal disso resultará em ameaças à familiares e a persistência de todo o tipo de exploração (com direito a agressões físicas, psicológicas, morais). É aquele tipo de filme que gera profunda revolta. Que quase nos faz virar a cara diante do absurdo que assistimos. Mas que ousa justamente por não fazer concessões na hora de abordar o assunto. Exploração no trabalho, afinal de contas, é assunto sério, que deve ser denunciado e que viola profundamente os Direitos Humanos. E o filme ser extremamente bem executado - o que vai da fotografia desbotada, sem vida, passando pelo desenho de produção que recria à perfeição o contexto caótico de um ferro-velho, até chegar a trilha sonora claudicante, que conduz para um tipo de tensão quase sufocante, à moda dos filmes de terror modernos - é um mérito. Exibida no Festival de Veneza, a obra tem sido aclamada pela crítica, que tem reconhecido a importância da reflexão a respeito de uma das tantas mazelas de nosso Brasil atual. Assista por sua conta e risco.
Nota: 8,5
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