De: Edgar Wright. Com Thomasin McKenzie, Anya Taylor-Joy, Terence Stamp e Diana Rigg. Drama / Suspense, EUA / Reino Unido, 2021, 116 minutos.
Devo admitir que fiquei com um sentimento meio ambíguo, no transcorrer das quase duas horas de Noite Passada em Soho (Last Night in Soho), o mais recente trabalho do ótimo Edgar Wright (de Todo Mundo Quase Morto e Em Ritmo de Fuga). Confesso que mais ou menos até a metade estava adorando a experiência, um tanto instigante, numa mistura de musical macabro com suspense contemporâneo, adicionado de algumas camadas de drama psicológico. A primeira hora te envolve, te instiga, te desperta a curiosidade sobre quais os caminhos que serão adotados pela narrativa. Já a segunda se torna um pouco cansativa e redundante, especialmente quando os "nós" começam aos poucos a serem desatados. Talvez fosse o caso de uma edição um pouquinho mais enxuta? Ou será que alguns aspectos mais "assustadores" do arco dramático central foram adicionados quase até o limite da exaustão para agradar a uma parcela do público que confiou na ideia de estar assistindo a um filme de terror? Bom, não sei.
Na trama somos apresentados à jovem Eloise (a usualmente competente Thomasin McKenzie), uma garota apaixonada por moda que está indo cursar a faculdade em Londres. Diferentemente de suas colegas contemporâneas - caso da colega de quarto Jocasta (Synnove Karlsen) -, Eloise nutre uma grande paixão pela cultura pop dos anos 60, suas músicas, suas vestimentas, seus hábitos. Enquanto suas colegas muito provavelmente estão animadas com o álbum da Olivia Rodrigo, a jovem gosta mesmo é de antiguidades como Cilla Black, The Kinks e James Ray. Aliás, como uma espécie de personagem do Owen Wilson em Meia Noite em Paris (2011), a garota adoraria poder voltar no tempo, para a já citada década. E é numa dessas noites embebidas em sonhos da cidade grande, numa mistura de ficção e realidade, que Eloise "viaja" para o período, local em que ela encontrará a cantora aspirante Sandie (Anya Taylor-Joy).
Só que não demora para que o deslumbramento inicial dê lugar ao pânico. A cada noite em que dorme e viaja no tempo, Eloise vai se deparando com novos elementos que podem evidenciar o fato de que Sandie possa estar em risco. Como cantora que sonha com o estrelato, a jovem surge em suas alucinações como uma figura relativamente submissa, que aceitará condições impostas por empresários, cafetões e outros para chegar à fama. E qual será o custo disso? Correndo contra o relógio, Eloise tentará alertar a cantora iniciante para os perigos que corre. Mas como fazer isso exatamente nessa realidade alternativa? Em paralelo a isso, a protagonista passará a ser acossada por um misterioso homem (o galã do passado Terence Stamp), ao passo em que se empenhará em não perturbar a senhora Collins (a veterana Diana Rigg em seu último papel), que foi quem lhe alugou a pensão decadente em que ela mora.
Aliás, a respeito da pensão decadente, um dos pontos altos da obra é o apuro técnico não apenas na reconstrução primorosa dos anos 60 - as ruas urgentes e nervosas do Soho, os salões de dança magnificamente pomposos, os inferninhos bolorentos -, mas também do uso das cores, dos contrastes existentes entre presente e passado, da justaposição de espelhos e da ótima aplicação das luzes (e acrescentar uma persistente luz neon no quarto de Eloise é um recurso não apenas eficiente, mas que gera algum tipo de tensão meio aleatória, quase imprevisível). Já a trilha sonora, aliás uma marca tradicional das obras de Wright, ajuda a conduzir a narrativa, ditando o tom entre o tenso, o divertido, o enigmático. Lá pelas tantas, o filme dá uma leve desandada? Dá. Compromete? Não, não compromete. Para aquilo que se propõe está ok e vale ser conferido.
Nota: 7,0
Nenhum comentário:
Postar um comentário