De: Denis Villeneuve. Com Timothée Chalamet, Rebecca Ferguson, Oscar Isaac, Jasom Momoa, Zendaya, Josh Brolin e Javier Barden. Ficção científica / Aventura, EUA / Canadá, 2021, 155 minutos.
E, bom, tudo que o filme de 1984 tinha de caótico, de confuso, com um excesso inacreditável de diálogos expositivos e um sem fim de efeitos especiais toscos, esse aqui tem de bem organizado, sendo a fluidez da narrativa um dos primeiros destaques a saltar os olhos. Quem assistiu a obra que tinha entre as suas estrelas o cantor Sting - de cuecão de couro -, sabe que a bagunça daquele roteiro era tanta, que era até meio difícil de compreender quem era quem, quais eram os objetivos de cada um dos povos daquele Império fictício, quem era do bem, quem era do mal. Fora a trama em ritmo apressado que parecia cheia de buracos - e não é por acaso que o próprio Lynch despreza o resultado final, já que ele pretendia que a enorme publicação literária resultasse num filme de cerca de quatro horas. Sério, aquela foi uma das piores experiências da minha vida.
E chegar nesse reboot e me deparar com um filme de verdade é algo que dá gosto. Villeneuve estruturou o emaranhado de informações que, muito provavelmente, existem no livro, de uma forma bem menos apressada, tornando muito mais possível compreender aquele universo e suas intrincadas tramas e conspirações políticas e religiosas. Diferentemente dos fãs xiitas - que já se apressaram em apontar, aqui e ali, os defeitos na transição das páginas para a tela -, tudo o que eu queria era me divertir. E consegui. Pra quem não se lembra, a trama se passa no ano de 10.191, num contexto em que o planeta desértico Arrakis - local em que habitam as tribos Fremen - se caracteriza por possuir em seu território um recurso natural riquíssimo conhecido apenas como "especiaria". Em meio a disputas pelo elemento - que pode inclusive modificar a relação tempo espaço -, os Fremen tentam manter uma certa autonomia, enquanto são explorados por outra dinastia, no caso os Harkonnen, do planeta Geidi Prime.
Só que os Harkonnen estão sendo retirados do território dos Arrakis para que outra Grande Casa - no caso os Atreides -, possam fazer uma espécie de transição pacífica de domínio, sem que haja prejuízo para os Fremen. É claro que tudo não passa de uma emboscada do Império, que pretende encurralar o jovem Paul (Timothée Chalamet), seu pai Leto (Oscar Isaac) e a concubina Lady Jessica (Rebecca Ferguson), que aterrissam no planeta desértico, após sofrerem algum tipo de influência de uma seita mística que leva o nome de Bene Gesserit. Parece confuso, mas, repito, esse é um dos trunfos da obra de Villeneuve: a capacidade de nos apresentar um passo a passo de cada acontecimento, sem excessos expositivos, e se aproveitando da própria narrativa para ir inserindo informações que são relevantes para o nosso entendimento.
Com um subtexto que dialoga com importantes questões políticas e sociais da atualidade - crise dos imigrantes, disputas religiosas, lutas de classes (e por riquezas) -, o filme ainda é um primor do ponto de vista técnico, corrigindo um dos principais problemas da versão de Lynch. Aqui temos uma fotografia elegante nos ambientes internos e sufocante nas sequências desérticas, com uma paleta de cores bastante sóbria, o que faz com que jamais tenhamos nossa atenção desviada. Já personagens como o barão de Harkonnen (Stellan Skarsgard) não mais precisam chocar pela devassidão física. Basta o seu comportamento inadequado para que saibamos se tratar de um dos vilões da história - menos maquiagem, nesse caso, é mais. A trilha sonora de Hans Zimmer mantém aquele clima espetaculoso de Sessão da Tarde ao passo que a edição e os efeitos visuais chegam com força para a próxima edição do Oscar. Denis Villeneuve é um dos melhores diretores da atualidade: e ter conseguido "organizar" Duna, tornando-o um filme palatável para qualquer cinéfilo é um baita mérito.
Nota: 9,0
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