"Essa música surgiu como tantas outras, sem pensar muito". Vamos combinar que se fosse outra artista falando essa frase, que não a Adrianne Lenker, e ela poderia soar apenas presunçosa. Mas não é o caso da vocalista do Big Thief, porque é simplesmente impressionante a capacidade dela - e de sua banda - de simplesmente produzirem grandes canções, sem que haja um grande esforço. Com o resultado sempre sendo uma coleção impecável de discos, que tem por marca aquele indie folk encharcado, meio diluído em névoa, que se torna gigante não pelo grande aparato tecnológico, mas sim pela sua total discrição. Tudo soa moderado, mas rigoroso. "É uma canção espiritual sobre fazer amor. É sobre tirar essa vergonha dos nossos corpos, do nosso sexo, da nossa cultura", comentou ao site inglês INews, a respeito de All Night All Day, a tal canção feita sem "muito pensar", que integra o recente Double Infinity.
Ainda assim, é importante reiterar que simplicidade - talvez pudesse ser chamado também de conforto - nunca significa negligência. Em momento algum a sonoridade soa opaca demais, sem brilho ou personalidade. Ao contrário, mesmo quando o agora trio (após a saída do baixista Max Oleartchik), formado ainda por Buck Meek e James Krivchenia, fala de temas cotidianos e nostálgicos, como no single Incomprehensible, que aborda o medo de envelhecer e a efemeridade da juventude (Daqui a dois dias vou fazer aniversário e vou fazer trinta e três / Isso realmente não importa diante da eternidade), tudo soa maior, mais estofado. Com um toquezinho de psicodelia meio mágica, reforçada pela cítara que aparece um canções como Grandmother, o álbum poético até dizer chega, é daqueles que cresce a cada audição. Evidentemente, sem que haja qualquer esforço.
Nota: 9,0

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